Lançamento do último livro da Trilogia Cuiabana e documentário celebram Silva Freire nesta quarta-feira (22)

Evento será realizado no Cine Teatro Cuiabá, a partir das 19h e com entrada livre

Fonte: CenárioMT

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O projeto foi selecionado no edital Mestres da Cultura, realizado pelo Governo de Mato Grosso, via Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) - Foto por: Divulgação

Trinta anos se passaram até o surgimento do último volume da Trilogia Cuiabana completando a obra de um dos expoentes da literatura mato-grossense, o poeta Benedito Silva Freire. Com o título Ossatura da Cuiabania, o livro, juntamente com os dois primeiros, Presença na Audiência do Tempo e Na Moldura da Lembrança, simbolizam o legado do poeta sobre a cuiabania.

A Casa Silva Freire, que mantém seu acervo preservado, e agora catalogado e digitalizado, realiza o lançamento nesta quarta-feira (22), às 19h, no Cine Teatro Cuiabá, com entrada livre. A noite será marcada também, pela première do documentário Charivari que revê a trajetória do poeta e exalta sua contribuição imensurável para o desenvolvimento cultural de nosso Estado.

O projeto foi selecionado no edital Mestres da Cultura, realizado pelo Governo de Mato Grosso, via Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), em parceria com o Governo Federal via Secretaria Nacional de Cultura do Ministério do Turismo.

A diretora da Casa Silva Freire, Larissa Freire Spinelli destaca que os três volumes foram organizados e diagramados pelo poeta gráfico e visual, Wlademir Dias-Pino. Os dois primeiros foram lançados em 1991 pela editora da Universidade Federal de Mato Grosso conforme o trabalho de Silva Freire e Dias-Pino. O terceiro volume, Ossatura da Cuiabania, é resultado do trabalho cuidadoso de resgate da obra por Larissa Silva Freire Spinelli, Maria Teresa Carrión Carracedo e João Paulo Paes de Barros. O edital Mestres da Cultura atende assim, a uma expectativa de lançamento do terceiro volume, desta vez, pela Editora Entrelinhas.

“A obra Trilogia Cuiabana é resultado de vinte anos de pesquisas realizadas pelo autor, documentando aspectos variados do processo cultural e histórico da região do Vale do Rio Cuiabá, desde os culturais, históricos, políticos, artísticos, psicossociais, linguísticos, gastronômicos, educacionais, religiosos, urbanos, jornalísticos até a contribuição cuiabana à literatura de vanguarda nacional”, descreve.

Segundo ela, a publicação do volume 3, acompanhado pelo documentário, proporcionará um reparo histórico de três décadas no que tange ao conjunto da produção literária de Silva Freire, interrompida com seu falecimento.

“Completará um ciclo de produção intelectual do autor dedicado ao delineamento da identidade cultural da cuiabania. Portanto, um livro de luta pela cuiabania como crítica cultural à cidade que se moderniza, uma forma de lutar contra o apagamento da cultura local”.

Documentário

O curta documental, Charivari, realizado em uma coprodução com os cineastas Juliana Segóvia, Sérvulo Del Castilho e Maurício Pinto, abordará a vida, pensamento e obra do autor com o roteiro baseado em uma entrevista inédita de Silva Freire à Revista Contato Hoje.

Quem o entrevista, é o jornalista André Machado, com apoio do amigo Dias-Pino e edição e pauta de Maria Teresa Carrión Carracedo. Ela foi gravada em Cuiabá, em 1991, três meses antes de Silva Freire falecer, em 11 de agosto, aos 62 anos. O poeta que nasceu em Porto de Fora, vila próxima a Mimoso, que é distrito de Santo Antônio de Leverger em 20 de setembro de 1928, permanece vivo na memória da cuiabania como brilhante advogado, jornalista cultural, poeta de vanguarda e professor titular do Departamento de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

A entrevista está gravada em áudio, assim, foi um grande desafio transformar o registro em vídeo, como explica Juliana Segóvia, uma das diretoras do documentário. “Na entrevista ele fala sobre o terceiro volume e o caminho que trilhou na literatura. Nosso desafio foi romper as narrativas formais. Mas graças ao cuidado da Casa Silva Freire, pudemos acessar registros diversos em vídeo, fotos e textos do poeta”, explica.

O poeta

Nas décadas de 50 e 60, participou dos movimentos político, estudantil e artístico-cultural nacional e estadual por um idealismo socialista trabalhista em defesa da democracia e dos direitos fundamentais do cidadão. Colaborou para a formação cultural brasileira e para história política, educacional e literária mato-grossense, tendo sido preso e cassado em seus direitos políticos pela ditadura militar na ocasião da Revolução de 31 de março de 1964, ficando aproximadamente 48 dias detido, tendo respondido a Inquérito Policial Militar (IPM) e sua liberdade vigiada pelos 20 anos seguintes.

Injustamente, suas ideias progressistas, socialistas e nacionalistas foram alcunhadas de comunistas. Começou a docência na embrionária Faculdade de Direito de Cuiabá, mas foi demitido da cátedra de Legislação Social que ocupava em 23 de setembro de 1964. Desde o período de sua cassação até o retorno da democracia no país em 1985, Silva Freire continuou se dedicando ao jornalismo cultural, à literatura e aos trabalhos jurídicos por meio dos quais denunciava a ditadura que se instalou no Brasil, fazendo da tribuna do júri o lugar de defesa da liberdade.

Dedicou-se ao trabalho comunitário, proferindo palestras e conferências a convite, inclusive de professores do Departamento de Letras, sindicatos, escolas, grêmios estudantis, clube de mães e clube de serviços. Como um dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso prosseguiu a atividade jornalística escrevendo nos jornais: Tribuna Liberal, O Social Democrata e Folha Trabalhista, de Campo Grande; O Momento, de Corumbá; Folha Mato-grossense, Correio da Imprensa, semanário Vanguarda Mato-Grossense, O Estado de Mato Grosso, Defesa, da OAB-MT, A Gazeta e Revista Esquema, de Cuiabá e jornal do Conselho Federal da OAB.

Fundou e dirigiu os suplementos literários: Poemas e Letras, no jornal Equipe; e Proposta, no jornal Folha da Serra, de Campo Grande. Em Cuiabá, prosseguiu sua intransigente defesa da Arte, da cultura popular e também do esporte, promovendo o teatro experimental com Glória Albues e Luiz Carlos Ribeiro, perseguindo a incansável tarefa de animação cultural, estimulando e abrindo portas para jovens realizadores nas áreas de teatro, dança, literatura, artes plásticas e visuais. Quatorze anos após sua cassação, foi reintegrado ao quadro docente da UFMT no ano de 1980. Doravante, exerceu a cátedra de Direito do Trabalho e Prática Forense e de Direito Penal e Processo Penal até o ano de seu falecimento em 1991.

No campo da literatura, foi um dos fundadores do Movimento Literário Intensivista, da Casa da Cultura de Cuiabá e da União Brasileira de Escritores em Mato Grosso. Membro da Academia Mato-grossense de Letras onde ocupou a cadeira de número 38. Suas pesquisas poéticas de abordagem etnográfica e sociológica resultaram em um mapeamento memorialístico “rurbano”, com as primeiras produções publicadas em jornais e revistas literárias na década de 1950, poemas em formato de doze Cadernos de Cultura na década de 1960 a 1970 e o primeiro livro de poesia, Águas de Visitação, publicado em 1979.

Publicou: Silva Freire – Social, Criativo, Didático (UFMT, 1986); Barroco Branco (Fundação Cultural de Mato Grosso/Ed. Amazônida, 1989); Depois da Lição de Abstração (Separata da Revista da Academia Mato-grossense de Letras, 1985); Trilogia Cuiabana, volumes 1 e 2, organizada por Wlademir Dias Pino, (UFMT, 1991); 13 Cadernos de Cultura, em páginas avulsas; Águas de Visitação (1979), reeditado em 1980 (Edições do Meio); 1989 (Adufmat-UFMT); e 2002 (Lei Estadual de Incentivo à Cultura). O mestre da cultura Silva Freire dividiu sua dinâmica atuação na imprensa com o exercício profissional de advocacia, a cátedra universitária, as atividades políticas, a vida cultural e a produção literária. O compromisso com a ética transpassou suas atividades, bem assim a sua produção literária atravessou a esfera poética atingindo e encontrando a política, a jurídica, a educacional, a filosófica, e antropológica e a sociológica, deixando um legado imaterial para a cidade de Cuiabá, denominada, carinhosamente, por ele de “pátria de meu coração”.

 

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