Projeto declara engenheira Carmen Portinho como patrona do urbanismo no Brasil

Primeira mulher a obter título de urbanista no país, Carmen também lutou por causas femininas, como direito ao voto

Fonte: CenárioMT com inf. Agência Senado

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Arquivo Nacional

A engenheira Carmen Velasco Portinho poderá receber o título de Patrona do Urbanismo no Brasil. É o que prevê o Projeto de Lei (PL) 1.679/2022, apresentado pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ). 

Carmen Portinho nasceu em Corumbá (MS), em 26 de janeiro de 1903, e formou-se em engenharia civil em 1925, na Escola Politécnica da antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1939, tornou-se a primeira mulher a obter o título de urbanista no país.

Segundo a justificativa do projeto, além de marcar a história do urbanismo brasileiro, a engenheira dedicou-se, por muitos anos, à defesa do direito das mulheres ao voto, à proteção das mães e da infância, à educação das mulheres e à valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica. Ela também foi a primeira presidente da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (Abea), fundada para incentivar mulheres formandas a ingressar no mercado de trabalho.

Após formar-se engenheira, Carmen ingressou no quadro técnico da Diretoria de Obras e Viação da prefeitura do Distrito Federal do Brasil. Por ser mulher, foi desacreditada e impelida a vistoriar um para-raios, instalado no alto de um edifício, no Rio de Janeiro, diz Carlos Portinho na justificativa do projeto.

“Ela mesma revelou: ‘Peguei uma escada, subi ao teto, vi o que o para-raios tinha e resolvi o problema. Foi uma maneira de enfrentar o preconceito. Difícil mesmo foi aprender como se consertava um para-raios”, relata o senador, que é sobrinho-neto de Carmen.

Em 1936, Carmen Portinho iniciou sua pós-graduação no curso de urbanismo e arquitetura da Universidade do Distrito Federal. Concluiu o curso em 1939, defendendo sua tese sobre o plano da futura capital do Brasil, obtendo então o título de urbanista.

A profissional também foi uma das fundadoras da Revista da Diretoria de Engenharia (posteriormente, Revista Municipal de Engenharia), cuja primeira edição foi publicada em julho de 1932.

Habitação

Em 1945, Carmen recebeu uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar nas comissões de reurbanização das cidades inglesas destruídas pela guerra. Após voltar ao Brasil, sugeriu ao então prefeito do Rio de Janeiro a criação de um departamento de habitação popular para sanar a falta de moradias populares no município.

Assim, em 1946, foi criado o Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras Públicas da Prefeitura do Distrito Federal, órgão do qual Carmen foi nomeada diretora.

Um exemplo de seu trabalho, enquanto diretora do departamento, foi a construção do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, no bairro de São Cristóvão, cujo projeto arquitetônico ficou sob responsabilidade de seu marido, Afonso Eduardo Reidy. Erguido em 1951, o edifício foi elogiado pelos renomados arquitetos Max Bill, em 1953, e Le Corbusier, durante sua passagem pelo Brasil, em 1962.

Em 1966, a urbanista foi convidada pelo então governador, Negrão de Lima, para ser diretora da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), a primeira escola de desenho industrial da América Latina. Por duas décadas, Carmen Portinho dirigiu a escola. Posteriormente, a Esdi foi incorporada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro, onde a profissional trabalhou até os 96 anos de idade.

Carmen Portinho faleceu no dia 25 de julho de 2001, aos 98 anos, na cidade do Rio de Janeiro.

O senador afirma ainda que a proposta é decorrente da importância da profissional para a história do urbanismo brasileiro e de sua dedicação na defesa de temas caros ao movimento feminista. O projeto aguarda parecer do relator na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

Por Mateus Souza, sob supervisão de Anderson Vieira

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