Durante a sessão do bicentenário da Independência, nesta quinta-feira (8), o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, expressou “gratidão plena” ao Brasil por ter sido incansável e corajoso no seu processo de Independência. Ele desejou que o Brasil continue a “maravilhar-se” como pátria “de liberdade, de democracia e de justiça” e se mantenha como potência universal no presente e no futuro.
— Nós portugueses amamos profundamente no Brasil e em vós brasileiros essa alma eliante, indomável, tenazmente obstinada que vos faz diferentes, que vos faz irrepetíveis na humanidade. António José de Almeida [presidente de Portugal no Centenário na Independência do Brasil] terminava a sua oração há 100 anos, de modo singelo, mas sentindo…proclamando viva o Brasil! Viva Portugal! Cem anos depois, na sua senda, mas indo para além dela, vos digo que para sempre viva o Brasil! que, para sempre, viva a fraternal amizade entre o Brasil e Portugal! — afirmou.
Ele celebrou a “fraternal amizade” entre os dois países e agradeceu aos brasileiros “por um longo e rico caminho” que deixará Portugal e os portugueses “sempre devedores”.
— O que vos venho dizer, em nome de Portugal e de todos os portugueses, é que vos agradeço, mais ainda do que em 1922, por um longo e rico caminho de que ficamos e ficaremos sempre devedores. Agradeço-vos terdes sido farol pioneiro para as independências de outros Estados e irmãos da nossa língua comum, aqui presentes e solidários no assinalar desse passo precursor. Agradeço-vos a própria criação da comunidade que integramos, que se integra e que se cruza com tantas outras, que teve a sua raiz num brasileiro: José Aparecido de Oliveira.
Oliveira foi embaixador do Brasil em Portugal, de 1992 a 1995, e um dos fundadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Neto, filho e irmão de portugueses acolhidos no Brasil, além de pai e avô de brasileiros, o presidente de Portugal agradeceu ainda a herança de autores brasileiros e que “tanto influenciam seus compatriotas e o mundo”. Ele citou como exemplo Mário de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.
— Agradeço-vos os mais de 220 milhões de falantes e de cantantes de uma língua ainda mais universal pelo gênio de autores e de cantores brasileiros.
Separação
O presidente de Portugal aproveitou trechos do discurso feito pelo ex-presidente português Antônio José de Almeida durante as celebrações dos cem anos da Independência, em 1922. Na ocasião, o ex-presidente de Portugal agradecia aos brasileiros “o favor que eles nos prestaram a nós, proclamantes independentes, no momento em que o fizeram”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, naquele momento de separação, os portugueses já estavam “exaustos e debilitados”
— Se o Brasil não se tivesse proclamado independente na hora em que o fez, o que aconteceria? Que seria dos senhores? E que seria de nós? Que seria dos senhores, retalhados, sujeitos à cobiça de adversários e inimigos que lhes tomariam conta desta ou daquela parcela, deste ou daquele trato de terra? E que seria de nós portugueses, sem podermos nem devermos conservá-los sob a nossa ação, sob a nossa tutela? Tudo teríamos perdido aqui: a hospitalidade para os nossos compatriotas, a manutenção de nossas tradições e, mais do que isso, essa língua admirável que falamos — questionou.
Ele também citou como feitos do Brasil que motivam gratidão de Portugal a sua liderança na fundação na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), a acolhida de portugueses em terras brasileiras, a excelência do conhecimento além da afirmação econômica e institucional no mundo.
— Agradeço-vos a constância dos vossos anseios de inclusão, o grande desafio deste tempo, envolvendo justiça social inventiva, educativa e cultural, científica e tecnológica para além das conjunturas passageiras de cada período ou instante — acrescentou,
Escravidão
No discurso ele lembrou que foi a partir do grito da Independência, proclamado em 7 de setembro por D. Pedro I, que outros fatos marcantes da história brasileira se sucederam como “o “Fico pela vontade do povo”, em 9 de fevereiro; a aceitação do título de Defensor do Brasil, em 13 de maio; a reunião dos Constituintes no Rio de Janeiro, entre tantas outras lutas pela libertação do domínio de Portugal. No entanto, o presidente de Portugal reconheceu as consequências nefastas da colonização ao citar a escravidão dos povos originários e africanos.
— Império Colonial este que lhes daria língua, vivências religiosas e culturais decisivas, unidade e dimensão únicas e até, transitoriamente, a originalidade de uma capital do Império fora da capital desse Império. Mas lhe custaria — e a um cem número de africanos — escravidões, explorações e discriminações seculares tão fundas que não cessariam de um lado e do outro do Atlântico com um mero assomo histórico de Dom Pedro — disse.
Ao final do discurso, Marcelo Rebelo de Sousa foi aplaudido de pé pelos participantes da sessão.