Documentário que reverencia trajetória de Mestre Ignácio estreia no Misc

Fonte: ANDRÉ GARCIA SANTANA

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Autor de centenas de rasqueados, o músico Ignácio Constantino de Siqueira, Mestre Ignácio, marcou a história cuiabana ao consagrar o estilo como uma das principais representações de nossa cultura. Em reverência a seu legado, o documentário “Mestre Ignácio – Rasqueado do Baú” leva ao Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (Misc), um compilado de registros do início do século XX, resgatando memórias importantes deste período. A estreia acontece na sexta-feira (23), às 20h.

Tendo como pano de fundo as tradicionais festas de santo, o projeto foi contemplado pelo edital da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo e será exibido também em diferentes paróquias da Capital. Outras 30 ações foram contempladas com recursos do Fundo Municipal de Cultura em 2017. “Os editais são anuais e abrangem sete setores, com propostas aprovadas no ano passado, pagas e realizadas este ano.”, explica o titular da Pasta, Francisco Vuolo.

De acordo com a pesquisadora e diretora da produção, Meire Pinheiro, até o início do século passado o rasqueado estava restrito às comunidades ribeirinhas, sendo incorporado a estas festividades a partir do trabalho do Mestre. “A cidade sempre teve um grande apelo religioso, que se mantém até hoje, especialmente no bairro Baú, por conta da Igreja do Rosário e São Benedito. À época, sob o ritmo do Mestre, também ganhou força o culto a Santa Cecília, venerada por seus pais”, diz.

Cuiabano, nascido em 1892, Mestre Ignácio tornou-se músico multi-instrumentista começando seu aprendizado pelo pé-de-bode (sanfona pequena, de 04 e 08 baixos). Passou ainda pelo clarinete, cavaquinho, trombone, trompete e baixo. No início da década de 20 criou a primeira banda civil de Cuiabá, a Lira Operária de Santa Cecília, e tocou nos mais importantes eventos da Capital, como comícios, festas religiosas, bailes e também na posse do governador Fernando Corrêa da Costa, em 1951.

Meire destaca a importância do músico no cenário político local, ao lembrar que ele chegou a ser presidente do subdiretório do partido União Democrática Nacional (UDN).  Assim, para além dos eventos políticos, mantinha contato com personalidades como o governador Garcia Neto. “Devido à sua influência, muitos candidatos o procuravam para pedir apoio. Estas são algumas partes da história que acabam ficando em segundo plano e nem todo mundo conhece”, explica.

Produzido em quatro meses, o documentário reúne imagens de museu e de acervo pessoal para delinear o cenário da Cuiabá antiga. A tarefa contou com auxílio da tecnologia e resulta em cenas que remontam, por exemplo, o cenário da Rua 13 de Junho, ainda no século XIX. “Nosso principal desafio foi reunir essas imagens, porque as pessoas quase não tinham fotografias naquela época. Com a família dele, por exemplo, havia uma única foto.”

Mestre Ignácio compôs ainda valsas, maxixes, chorinhos, marchas e rasqueados, sendo este último seu predileto. A sua banda, além dos ritmos já mencionados, executava também, jazz, blues, boleros, foxtrot. Algumas de suas obras são: “Recordando Sempre”, “Festa no Bandeira”, “Tanque do Baú” e “Pega Pra Capa”.

A exibição faz parte da programação do mês da Consciência Negra, promovida pela Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. Alinhado à proposta, o Misc recebe até o dia 30 a exposição “Bença”, que reverencia o saber popular por meio do resgate de sabedorias antigas. No último sábado (17), o espaço foi palco para o 10º encontro do Ciranda de Crioula. Já na terça-feira (20), foi a vez do Museu do Rio sediar o festival Kwanza, com apresentações de dança, música, teatro e poesia.

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