Junho e julho foram os meses mais quentes da história, tanto na superfície do planeta quanto nos oceanos. Em diversos países, a onda de calor causa mortes, incêndios de grandes proporções e fechamento de pontos turísticos. Segundo cientistas climáticos, a atual fase do El Niño ainda não atingiu seu pico. O fenômeno deve ser ainda mais intenso em 2024.
Em uma conferência de imprensa, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a era do aquecimento global acabou, que agora estamos na era da “ebulição global”. Essa declaração dividiu os cientistas, mas todos concordam que as temperaturas do planeta estão subindo a níveis alarmantes.
Segundo avaliação dos estudiosos, a expressão foi usada somente para alertar sobre a situação em que nos encontramos. Para explicar esse assunto, dois termos são muito utilizados — aquecimento global e efeito estufa —, mas eles não são a mesma coisa.
Aquecimento global é o aumento da temperatura na superfície da Terra e nos oceanos, algo que pode acontecer de forma natural ou ser causado por ações humanas, mas se deve principalmente à grande quantidade de gases, sobretudo dióxido de carbono (CO₂), que é jogada na atmosfera.
Já o efeito estufa corresponde à camada de gases que envolve o nosso planeta. Trata-se de um fenômeno natural e muito importante para a existência de vida, pois sem ele as temperaturas seriam muito baixas, inviabilizando a existência de inúmeros seres vivos, incluindo os humanos.
É com base nesses argumentos que muitos pesquisadores alegam que certos efeitos do aquecimento são algo natural e que as atitudes tomadas pelo homem não afetam em nada essa situação.
No entanto, de acordo com Marcely Sondermann, especialista em mudanças climáticas e meteorologista do Climatempo, desde a Revolução Industrial, ocorrida no Reino Unido no século 18, é comprovado que a emissão de gases do efeito estufa — devido ao crescimento do número de fábricas, transportes e queimadas — aumentou, provocando um agravamento desse fenômeno.
Marcely também deu dados de julho de 2023, que detém o recorde de mês mais quente da história.
“No dia 6 de julho de 2023, a temperatura média global diária atingiu os 17,08°C. Além disso, segundo a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), a temperatura média mensal do mês de julho foi de 16,95°C, bem acima do recorde anterior de julho de 2019 (16,63°C)”, afirmou.
“Muitas vezes, a média não altera tanto, porém os extremos vão se tornando cada vez mais intensos”, diz a cientista, que revela ainda que essa polarização ocasiona mais eventos incontroláveis, como ondas de calor e ondas de frio, chuvas intensas, secas severas.
Quando questionada sobre o que pode acontecer com a humanidade caso nada seja feito para frear esse avanço climático, Marcely é direta: “Iremos em direção ao caminho do cenário mais pessimista, que está associado a um significativo aumento da temperatura”.
“É necessário reduzir as emissões dos gases do efeito estufa e sermos mais sustentáveis para evitar que tudo isso se agrave ainda mais. O incentivo às energias renováveis, como a solar e eólica, é um bom caminho a seguir nos próximos anos, por exemplo”, completou a meteorologista.
No Hemisfério Norte está concentrada a maior parte das massas de terra, como a América do Norte, Europa e Ásia. Já o Sul é, em sua maioria, composto de oceanos. Devido à capacidade térmica menor dos continentes em relação à água, é que extremos de temperatura na porção norte do planeta são mais comuns.
Ainda assim, 2023 foi um ano com temperaturas bem acima do que é comum para o verão da parte norte do planeta.
“Nos últimos meses, os EUA, por exemplo, têm registrado ondas de calor muito severas e baixíssima umidade relativa do ar, favorecendo a ocorrência de queimadas. Além disso, tanto nos EUA quanto em países da Europa, as temperaturas têm alcançado valores acima de 45°C por dias consecutivos, muito mais quente do que a população está acostumada para a época do ano”, finaliza Marcely.