A possível cassação dos mandatos do prefeito de Chapada dos Guimarães, do vice e de um vereador ganhou força após uma investigação detalhada apontar para um esquema de compra de votos e movimentações financeiras paralelas. O caso, já em análise pela Justiça Eleitoral, reúne provas consideradas decisivas pelo Ministério Público.
Nos autos da Ação de Investigação Judicial Eleitoral, o MPE descreve que os três políticos teriam sido beneficiados por um sistema estruturado para captar votos por meio de pagamentos diretos, promessas de dinheiro e cadastramento massivo de eleitores, prática vedada pela legislação eleitoral.
Segundo o MPE, o conjunto de provas inclui extratos bancários, comprovantes de PIX, documentos internos e depoimentos. Entre eles, aparecem transferências de R$ 10.000,00 e R$ 32.500,00 a um dos citados na investigação, valores incompatíveis com as despesas declaradas oficialmente. Esse ponto é apontado como indício central da existência de um financiamento paralelo.
Um ex-coordenador da campanha, identificado como Rogério de Araújo Pereira, formalizou em escritura pública que a compra de votos incluía promessa de R$ 1.000 por família. Ele também entregou listas de eleitores e anotações que, segundo o MPE, reforçam a intenção de mapear grupos familiares com potencial eleitoral.
A investigação identificou mais de 100 fichas contendo dados completos de moradores — nomes, endereços, telefones e cópias de documentos. Algumas traziam observações internas como “filha de família grande” ou menção a valores pagos. Apesar da quantidade de fichas, apenas quatro pessoas aparecem como contratadas oficialmente, todas ligadas à campanha do vereador Gilberto Mello. Nenhum dos nomes foi encontrado na prestação de contas do prefeito Osmar Froner.
Quebra de sigilo expõe repasses e operador financeiro
Outro elemento que reforça a tese do MPE é o papel atribuído a Guilherme Henrique de Oliveira Costa, o “Guila”, dono da empresa Guila Grill, contratada pela prefeitura no período eleitoral. A Promotoria afirma que ele atuava como operador financeiro da estrutura paralela.
A quebra do sigilo bancário mostrou saques elevados, incluindo um de R$ 50 mil, além de diversos PIX para coordenadores, apoiadores e pessoas ligadas às fichas apreendidas. Entre os repasses identificados estão valores destinados ao administrador financeiro da campanha, ao denunciante, a uma coordenadora e a outros nomes mencionados no material apreendido.
Um dos relatos mais contundentes envolve o casal I.A. e J.L.. Conforme o MPE, o marido teria recebido R$ 5 mil para votar no vereador Gilberto Mello, pagos em duas parcelas de R$ 2.500 transferidas diretamente por Guilherme Henrique para a conta da esposa, poucos dias antes da eleição. Os comprovantes foram anexados ao processo.
Impacto eleitoral e próximos passos
Para o Ministério Público, as fichas, as anotações internas, os extratos e os depoimentos demonstram que havia um sistema para cadastrar famílias, monitorar sua influência e realizar pagamentos com recursos não declarados — conduta que caracteriza captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico.
A Justiça Eleitoral da 34ª Zona agora analisa o material. Caso os indícios sejam confirmados, os envolvidos podem ter os diplomas cassados, conforme sustenta o MPE, que atribui à decisão o papel de restabelecer a normalidade do pleito em Mato Grosso. As informações constam na ação apresentada pelo Ministério Público Eleitoral.





















