A pandemia de Covid-19 alterou a rotina e a saúde física e mental de pessoas do mundo inteiro. Até as ações de diagnóstico e tratamento do câncer foram afetadas, o que é especialmente preocupante num país como o Brasil, onde a neoplasia de mama ocupa o primeiro lugar nas mortes por câncer na população feminina. Mensurar a dimensão desses impactos torna-se uma informação estratégica para a formulação de políticas públicas, para os profissionais de saúde e para a população vulnerável. Nesse contexto, uma pesquisa desenvolvida na Fiocruz Pernambuco analisou o impacto da pandemia da Covid-19 nos atendimentos para rastreamento, diagnóstico e tratamento do câncer de mama em Pernambuco . O estudo buscou identificar fatores que indiquem a magnitude de atrasos no cuidado às vítimas do câncer de mama e, em consequência, as demandas que se encontram reprimidas.
Denominada Integralidade da atenção à saúde da mulher com câncer de mama: uma análise da rede de oncologia em Pernambuco no contexto da pandemia da Covid-19, a pesquisa foi desenvolvida pela doutoranda em Saúde Pública Rosalva Raimundo da Silva, sob a orientação da pesquisadora Tereza Lyra. O estudo foi baseado em dados secundários de consultas com mastologista, ultrassonografia, mamografia, biópsias, casos novos, quimioterapia, radioterapia e cirurgia, realizadas em mulheres para o rastreamento, diagnóstico e tratamento do câncer de mama, de janeiro a dezembro dos anos 2019 a 2021, no Centro de Alta Complexidade Oncológica Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Cacon IMIP) de Pernambuco.
Os resultados apontaram que o primeiro ano da pandemia (2020) impactou negativamente na atenção ao câncer de mama, com reduções nas consultas com a mastologia (46,3%), ultrassonografias (34,8%), mamografia (41,5%), biópsia (49,6%), casos novos 45,7% e cirurgia 34,6%, em relação a 2019. Por outro lado, a oferta de quimioterapia e radioterapia não foi afetada pela pandemia.
“Exceto nas consultas com mastologista e cirurgia, que permaneceram com baixa produção em 2021, todos os demais serviços onde se observou redução em 2020, aumentaram significativamente em 2021 e voltaram ao patamar de produção do período pré-pandemia”, explica a autora. O estudo alerta que a redução constatada nos procedimentos poderá refletir em um aumento de diagnósticos tardios e maior taxa de mortalidades nos próximos anos.
“Isso coloca em risco tanto as mulheres que necessitam de cuidados quanto o próprio Sistema Único de Saúde, uma vez que diagnósticos em estágios avançados frequentemente requerem tratamentos mais intensivos e dispendiosos”, complementa Rosalva.
Reconhecido na X Jornada Científica da Fiocruz PE com a primeira colocação no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública Acadêmico, categoria doutorado, o estudo teve resultados publicados recentemente na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. Leia o artigo .
Por: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)