A Coreia do Norte “executa, tortura e abusa fisicamente de pessoas por suas atividades religiosas”, além de manter cerca de 70 mil cristãos presos no país, de acordo com o novo “Relatório internacional de liberdade religiosa” do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
O relatório destacou a detenção de uma família, em 2009, com base em suas práticas religiosas e na posse de uma Bíblia. Todos os membros, incluindo um bebê de 2 anos, foram condenados à prisão perpétua em campos de prisioneiros — uma punição comum no país.
As descobertas ressaltaram as medidas punitivas brutais rotineiramente distribuídas pelo governo do líder Kim Jong-un, que frequentemente viola os direitos humanos e tem ações que constituem crimes contra a humanidade, segundo o jornal The New York Post.
“O direito a liberdade de pensamento, consciência e religião também continua a ser negado, sem sistemas de crença alternativos tolerados pelas autoridades”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em julho passado.
As restrições às viagens da era pandêmica também reduziram as informações disponíveis sobre essas condições, o que levou o Departamento de Estado a trabalhar com ONGs, grupos de direitos humanos e a ONU para confirmar as alegações de abuso.
Embora exista um pequeno número de instituições religiosas oficialmente registradas na Coreia do Norte, o que inclui igrejas, elas funcionam sob estrito controle do Estado e principalmente como peças de exibição para turistas estrangeiros, dizem as autoridades.
Em outubro de 2021, a ONG Korea Future divulgou um relatório em que detalha os abusos da liberdade religiosa, após ter entrevistado 244 vítimas. Entre elas, 150 aderiram ao xamanismo, 91 ao cristianismo, uma ao cheondoísmo e uma a outra crença.
A idade dos entrevistados variava de apenas 2 anos a mais de 80 anos, e mulheres e meninas representavam mais de 70% das vítimas documentadas.
O relatório ainda constatou que o governo norte-coreano acusou indivíduos de conduzir atividades religiosas na China, possuir itens religiosos, ter contato com pessoas religiosas e compartilhar crenças religiosas.
Como resultado, parte da população foi presa, detida, submetida a trabalhos forçados e torturada. Muitos também tiveram negado um julgamento justo e foram submetidos a violência sexual e execução pública.
Um desertor disse à Korea Future que as autoridades espancaram adeptos cristãos e xamânicos sob custódia, deram-lhes comida contaminada e os executaram arbitrariamente. Outro afirmou que, em 2002, as autoridades negaram comida a um cristão, levando-o à morte em três dias.
Já um prisioneiro que foi libertado em 2020 disse à RFA (Radio Free Asia) que as autoridades submeteram os cristãos ao tratamento mais severo e que, uma vez, as autoridades forçaram os presos a ficar de pé por 40 dias seguidos, fazendo com que perdessem a capacidade de se sentar.
Os cristãos são considerados o “degrau mais baixo” da sociedade norte-coreana e estão constantemente “vulneráveis e em perigo”, de acordo com o relatório.