Nos períodos mais frios do ano, é comum fechar portas e janelas para impedir a entrada de correntes de ar gelado nos ambientes da casa. Entretanto, o recomendado para evitar doenças nesta época é justamente fazer o contrário.
Os ambientes sem incidência de luz solar, entrada de ar e com sinais de umidade – que é maior em locais fechados – são propensos para o acúmulo e proliferação de ácaros, mofo e poeira. A olho nu, não percebemos a presença destas substâncias, mas elas estão aglutinadas no pó.
A poeira de casa contém diversas matérias, desde as mencionadas acima, até bactérias e proteínas produzidas por elas.
Em um geral, elas constituem o que especialistas chamam de alérgenos respiratórios, pois possuem capacidade de desencadear reações inflamatórias nas vias aéreas superiores e/ou inferiores, principalmente em pessoas que já possuem algum tipo de doença pulmonar e sensibilização alérgica.
Nos casos comuns, ao entrar em contato com estes constituintes da poeira, o nosso organismo produz anticorpos que liberam mediadores inflamatórios para conter aquele corpo estranho, principalmente a alarmina, como uma forma de defesa. As inflamações são uma maneira do corpo sinalizar que há algo errado.
Em pessoas com predisposição a alergias, o contato com estes materiais induz a uma resposta inflamatória ainda mais intensa que libera histamina e desencadeia as reações alérgicas.
Indivíduos com doenças respiratórias prévias podem sofrer o pneumologista André Nathan classifica como “descompensação”.
“Em quem tem uma doença pulmonar prévia, principalmente a DPOC [doença pulmonar obstrutiva crônica], que é o enfisema, bronquite crônica e a asma, ele [agente alérgico] é um indutor de descompensação. Você está compensado da sua doença crônica, você está bem, e aí você entra em contato com essas substâncias ou com esses microrganismos e descompensa, começa a ter sintoma” orienta.
Os sintomas, para pessoas que possuem ou não a tendência de desenvolvê-los, acontecem porque a via inflamada secreta mais muco, por vezes mais espesso, que dificulta a passagem de ar. Esta situação, que varia de acordo com a gravidade, pode ocasionar um quadro febril, fadiga, coriza, tosse, secreção, chiado e até mesmo falta de ar.
Os ácaros são animais que se alimentam de pele e medem entre 0,25 mm e 0,75 mm. Eles preferem locais mais escuros e úmidos, comuns nos dias de frio.
Por se alimentarem principalmente da pele descamada (matéria orgânica), os ácaros são encontrados em colchões, travesseiros, toalhas e roupas usadas.
As enzimas digestivas liberadas por eles nas fezes, ao entrarem em contato com a nossa mucosa, provocam reações indesejadas, como o agravo de alergias e doenças respiratórias. Em casos leves, ocasiona corrimento nasal, espirro e lacrimejamento. Nos mais graves, tosse, pressão facial e falta de ar.
A poeira é constituída de parasitas, como fungos e bactérias, e demais micropartículas que têm grande potencial para gerar complicações no corpo humano.
Por se tratar de fragmentos bem pequenos, finos e praticamente invisíveis para o olho humano, possuem grande potencial de causar malefícios à saúde quando inspirados. Os sintomas mais comuns são tosse seca, dificuldade para respirar e coceira no nariz.
Umidade e falta de incidência de luz solar são ideais para a proliferação do mofo, que é formado por microrganismos vivos, como fungos microscópicos. Os esporos destes fungos se proliferam no ambiente interno e podem desencadear problemas alérgicos e respiratórios.
A forma como nosso sistema imunológico reage a esta substância é por meio de espirros, obstrução nasal, tosse, falta de ar e coceira. Porém, a situação pode atingir quadros mais graves.
“Especificamente, o mofo tem uma capacidade de induzir uma doença que chama pneumonia de hipersensibilidade. Isso não é uma alergia, é uma doença grave que pode até causar fibrose pulmonar. Uma exposição contínua ao mofo pode ser mais grave do que a outros alérgenos”, esclarece o pneumologista.
O alergista e pneumologista José Elabras Filho, professor de medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro da diretoria de asma da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), orienta que a principal medida protetiva é o controle ambiental.
Esse tipo de precaução age na raiz do problema ao evitar objetos que acumulem poeira. Caso não seja possível, deve-se retirá-los, ao menos, do quarto de pessoas alérgicas.
Além do controle ambiental, o especialista contraindica o uso de fornos a lenha em casa, seja para o preparo de alimentos ou para se aquecer nos dias frios.
“As pessoas têm que evitar utilizar, principalmente quem tem problemas respiratórios, fornos a lenha em casa. É uma coisa que induz várias doenças respiratórias e pode gerar várias doenças pulmonares. Pode levar a asma, a bronquite crônica”, acrescenta Elabras Filho.