A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Porto Alegre do Norte, instaurou um inquérito para apurar os crimes de redução à condição análoga à escravidão, cárcere privado e lesão corporal praticados contra trabalhadores no município de Canabrava do Norte.
No dia 15 de março, as vítimas procuraram a Delegacia de Porto Alegre do Norte e relataram uma possível situação de trabalho em condições análogas à escravidão. Uma dessas vítimas estava bastante machucada, apresentando lesões no corpo.
Agressões
De acordo com o relato do homem agredido, na noite anterior, seu patrão junto com outro funcionário, considerado um ‘gato’ (pessoa responsável em recrutar funcionários), o levou para um bar. Após consumirem bebidas alcoólicas, todos retornaram para o alojamento em que estavam e o patrão e o ajudante passaram a xingar e agredir a vítima com socos e chutes. Depois, amarraram a vítima pelos pés e mãos e a deixaram trancada no quarto do alojamento. Por volta das 5 horas da manhã, a vítima conseguiu se desvencilhar das cordas, abriu a porta e buscou socorro na casa de um colega de trabalho.
Ao chegar à casa, ele estava com outras duas pessoas, todos funcionários do mesmo empregador, que decidiram procurar a Delegacia da Polícia Civil para denunciar o patrão, pois segundo eles, estavam trabalhando há mais de seis meses e não havia recebido nenhum salário pelos serviços, além das más condições de trabalho ofertadas.
Segundo a denúncia, as vítimas foram contratadas para trabalhar em serviços gerais em uma fazenda, especificamente com a retirada de raízes e pedras, porém, desde o contrato verbal até esta semana, não tinham recebido nenhum pagamento. O grupo de trabalhadores afirmou ainda que o local em que estavam tinha situação precária e a alimentação era à base de arroz, abóbora e carne de animal silvestre.
Parte dos trabalhadores é oriunda do estado do Pará.
Habitação precária e sem salários
O delegado Artur Almeida determinou diligências no local informado e a equipe de investigadores da Delegacia de Porto Alegre do Norte seguiu até Canabrava do Norte para averiguar a situação. Na cidade, os policiais civis constataram que a casa alugada para abrigar os trabalhadores era um antigo bar, com aspecto de abandono, próximo da Câmara Municipal da cidade. O local possuía apenas dois cômodos, sendo o salão principal, onde ficavam todos os trabalhadores, e um cômodo usado como cozinha, além de um banheiro.
Na residência, a equipe de investigação encontrou três funcionários e todos alegaram trabalhar para o mesmo empregador e que aguardavam o pagamento, pois nunca haviam recebido nenhum salário. Eles informaram ainda que todos os dias, o patrão os levava para o trabalho e trazia de volta.
Os investigadores apuraram ainda que o local era divido por 16 pessoas e a maioria havia ido embora para outras cidades com ajuda de parentes, devido às condições do trabalho, enquanto que os outros ficaram à espera do pagamento. O empregador, além de não pagar seus funcionários, constantemente os ameaçavam de morte caso ele fosse denunciado.
Os investigadores checaram a informação de que o homem que atuava no recrutamento de trabalhadores e que havia agredido uma das vítimas, estaria retornando para Santana do Araguaia, no Pará. Durante as diligências, a equipe da Polícia Civil conseguiu localizá-lo na rodoviária de Porto Alegre do Norte, pronto para embarcar no ônibus, quando foi preso em flagrante.
O empregador está foragido, mas as diligências continuam.
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