E, diante do quadro que se instalou no Brasil a partir de março de 2020, o medo das equipes passou a ser palpável, real. A Covid-19 deixou de ser um problema chinês e ganhou rostos em todo o mundo. Logo, em uma velocidade inimaginável, o vírus se transformou em uma epidemia mundial, a pandemia. Em Sorriso, o primeiro caso suspeito foi registrado em 28 de fevereiro e foi descartado na sequência. Assim, o município confirmou o primeiro caso positivo em 1º de maio e de lá para cá os números só avançaram.  Enquanto isso, Lidiane conta que dentro da Semsas, tiveram as reuniões para tentar entender o que era melhor a ser feito e como lidar com as pessoas que já estavam em pânico, não paravam.

Junto a isso, o município começou a viver problemas comuns às demais cidades. Mesmo com dinheiro em caixa, não conseguia comprar insumos como EPIs, medicamentos, equipamentos. “Tínhamos dinheiro em caixa, mas nenhum fornecedor com produtos a pronta entrega”, destaca Lidiane. E começou a correria da equipe: eram ligações e pessoas trabalhando 24 horas em função das compras e cobrando a entrega dos produtos: no administrativo o secretário de Saúde e Saneamento, Luís Fábio Marchioro e a equipe buscavam novas alternativas. “A maioria dos fornecedores pedia 90 dias para entrega e nós precisando para aquele dia; ninguém estava preparado. Os valores subiram de forma exorbitante, passávamos o dia todo atrás de insumos”, relata Lidiane.

“Foi tudo muito tenso e exaustivo. No início da pandemia, tínhamos a sensação de que as pessoas estavam mais conscientes do que hoje: chegaram a atender aos pedidos e reduzir aglomerações. Muitos conseguiram ficar em casa e a equipe da saúde continuava lá, cuidando do município”, diz Lidiane. Mas 2020 chegou ao fim e quem imaginou que 2021 seria diferente, descobriu que o tempo de “respirar” e “desafogar” ainda não havia chego.

Para Lidiane, que viveu na pele as consequências da Covid-19, a esperança está na eficácia da vacina – que ainda irá demorar para ser aplicada em grande parte da população; na empatia pelo outro demonstrando amor por meio do cuidado. “E crer em Deus, ter muita fé”, pontua. “Pois de nada adianta UTI, médicos, medicamentos se o nosso corpo não reagir. É preciso ter muita fé em Deus e orar pela nossa própria reação”, diz.

No início de março, a profissional testou positivo para a Covid-19. Com muita falta de ar, Lidiane ficou internada cinco dias no Hospital Regional de Sorriso. “Eu estava bem, trabalhando quando de repente comecei a passar muito mal. Meus colegas me carregaram até o Hospital de Campanha e fiquei no oxigênio até conseguir vaga para o Regional”, relata, explicando que sentiu muita pressão na cabeça, conjuntivite, dores no corpo, falta de olfato, até a saturação cair ao ponto de ser levada para o HC. Lá, os colegas que estão na linha de frente tentaram monitorar a saturação e restabelecer, o que não foi possível, acarretando na internação no HRS.

Foram cinco dias na enfermaria do Regional em que Lidiane viveu o seu próprio drama e o drama de tantas outras famílias. “Ao meu lado tinha uma senhorinha que gritava “me acode, me acode!”. Os médicos fizeram de tudo, a filha acompanhou, mas infelizmente ela não resistiu. Outra senhora, ao meu lado também foi uma das vítimas fatais”, relata.

 “Agradeço a Deus por mais essa chance, por essa nova vida. A ele, aos profissionais e à minha família, todo meu reconhecimento”, frisa.

Ao sentimento de gratidão de Lidiane, junta-se o agradecimento da paciente Carla Elisa Tedesco Ferreira, que ficou internada no Hospital de Campanha Municipal por cinco dias. Carla começou a sentir os sintomas no dia 3 de março. Passou por consulta e retorno e como os sintomas evoluíram ficou internada no HC entre os dias 16 a 20 de março.

A paciente destaca que só tem a agradecer a Deus e a equipe do HC. ”Recepção, enfermeiras, técnicos, médicos, fisioterapeutas, psicóloga, nutricionista, higienização, todos foram fantásticos comigo, me acolheram com muitos cuidados e muito zelo”, diz. “A todos eles meu muito obrigada por tudo. Voltei para casa e com muita gratidão e peço a Deus que abençoe infinitamente cada um da equipe do Hospital de Campanha para que possam continuar com a missão de ajudar mais pessoas a voltar para suas famílias”, completa.