Resgatado com queimaduras dos incêndios no Pantanal mato-grossense, um cateto tratado durante seis meses pela ONG Ampara Silvestre, foi solto nessa quinta-feira (29), na Transpantaneira. A fêmea foi encontrada em outubro de 2020 no Parque Sesc Baía das Pedras, localizado na Estrada Parque Porto Cercado, em Poconé, e no próprio local recebeu o tratamento num recinto em meio à mata.
O cateto fêmea, que recebeu o nome de Pururuca, foi encontrado com as quatro patas e o peito queimados. Ela estava prenha quando foi resgatada, mas perdeu o filhote devido ao estresse.
Segundo a veterinária voluntária da Ampara Silvestre, Laís Picanço, Logo que Pururuca chegou, os veterinários deram início ao tratamento com analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios. Para as queimaduras, foi usado pele de tilápia e óleo ozonizado. A troca de curativo era feita uma vez por semana, devido à sedação, já que era inviável a aproximação.
Laís conta que o animal respondeu muito bem ao tratamento e está 100% recuperado, pronto para voltar à natureza.
Após seis meses de tratamento e ganho de peso, a Pururuca volta à natureza.
O parque, que faz parte do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, teve 10% dos cinco mil hectares atingidos em 2020, e abriga uma variedade de espécies, dentre elas a onça pintada e outros nove animais que estão na lista de extinção. Na área, há dois recintos, onde seguem em tratamento duas antas com menos de um ano. Os espaços integrados à natureza favorecem a recuperação dos animais por estarem inseridos em seu habitat.
Em 2020, 4,350 milhões de hectares foram incendiados no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que representa 30% do bioma, conforme o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA).
A soltura
Para poder voltar a viver livre pelo Pantanal e aumentar as chances de sobrevivência do animal, a estratégia pensada pelas equipes foi soltá-la onde houvesse um bando de catetos. Neste momento da soltura, não foi encontrado um bando no parque do Sesc Pantanal.
Com as chuvas, a vegetação cresceu e o avistamento dos bandos ficou mais difícil, diferente da Transpantaneira, onde os animais estão habituados a cruzar a estrada.
O puçá, instrumento de contenção, foi utilizado para retirá-la do recinto pelo veterinário da Sema-MT, Eder Toledo. Ele implantou um microchip abaixo da pele do cateto, que permitirá o monitoramento do animal.
Colocada na caixa de transporte, a Pururuca percorreu 70 quilômetros entre a Estrada Parque Porto Cercado e a Transpantaneira, onde fica a base do Posto de Atendimento Emergencial a Animais Silvestres (PAEAS), que é rota de um grupo de catetos.
O primeiro contato com o bando foi a distância no dia 28 e, nessa quinta-feira (29), ela seguiu com ele. Como passou muito tempo sozinha, a soltura do cateto envolve essa socialização.
Para a presidente da AMPARA Animal, Juliana Camargo, a recuperação e soltura representam que o ciclo dela foi cumprido.
Conheça o cateto
O cateto está presente em todos os biomas brasileiros, exceto no extremo sul do país, e, devido à sua grande semelhança com o javali, a queixada e o porco, é comumente chamado de porco-do-mato. Mede de 84 a 106 cm de comprimento, com a cauda medindo em torno de 10 cm. Tem entre 30 e 50 cm de altura e pode pesar de 15 a 30 kg.
O corpo é castanho-acinzentado, com faixa branca no pescoço, diferente do queixada, cuja mancha branca vai da mandíbula até a parte de cima do focinho. Tem ótimo olfato, usado para encontrar alimentos, o cateto emite várias vocalizações, incluindo batidas de mandíbulas, que inibe predadores.
Escondem-se em buracos no chão ou em troncos ocos. São onívoros e comem diversas plantas verdes, raízes, frutos e sementes, além de pequenos vertebrados e invertebrados. São importantes dispersores de sementes, além de controlarem a diversidade de espécies de plantas.