A pedagoga Aloma Ribeiro Felizardo pede que os professores tomem cuidado ao participarem de grupos de aplicativos de mensagens com seus alunos menores de idade. A profissional alerta quanto a possibilidade de crimes virtuais já que eles podem ser responsabilizados. No primeiro semestre de 2019, houveram diversos casos de ameaças de massacre em Mato Grosso por grupos de WhatsApp após o ataque em uma escola de Suzano (SP). Aloma é doutoranda em Psicologia Social e mestranda em Sistemas de Resolução de Conflitos, licenciada em Pedagogia e estudiosa de bullying, cyberbullying e justiça restaurativa na escola.
“Não sei se vocês usam redes sociais e colocam grupos de trabalhos com seus alunos menores de idade. Se algo acontecer nesse grupo que transgride a lei, o adulto que está como mediador de grupo do WhatsApp ou Facebook, o professor, vocês são responsáveis pelos seus alunos menores de idade. Cuidado com os grupos”, alertou durante visita a Mato Grosso e participação em evento onde se debateu o Cyberbullying.
Além dos professores, os pais também precisam se mostrar presentes e devem estar sempre atentos quanto às redes sociais utilizadas pelos seus filhos, orientando, inclusive, a forma que tais ferramentas devem ser utilizadas.
“Entre nas redes sociais, vejam onde os seus filhos estão. Acompanhem. É o único jeito que nós podemos ajudá-los. Agora se nós pegamos o Snapchat, eles passam as mensagens pornográficas e apagam na hora. É orientação [que devemos dar] para os nossos filhos e alunos. Temos que orientar o uso ético, seguro e legal da rede social”, pede.
Os alunos estão abandonados e sozinhos, precisando ser ouvidos pelos professores. A pedagoga explica que muitos sequer sabem que o professor está disposto a ouví-lo e ajudá-lo. Ela traz um caso vivido pela própria, quando um estudante questionou porque ela estava se importando com ele, surpreso com a situação.
Durante sua palestra, Aloma definiu o bullying como “um fenômeno em grupo”. Até mesmo as testemunhas contribuem para que o ato seja consumado com maior eficácia porque, ao se ocultarem, o agressor se sente mais forte. Muitos alunos se sentem impedidos de intervir porque temem em serem os próximos a sofrer as agressões verbais e físicas.
Partindo sobre a prática do cyberbullying, a profissional pontua que é comum a vítima sequer saber quem é o seu agressor por conta do anonimato que é dado a ele, além de que o ato pode acontecer a qualquer momento. A vantagem de não ter o face a face também contribui para que a agressão se agrave, podendo também ter milhares de espectadores.
Ameaças em Mato Grosso
O caso mais recente de ameças envolvendo aplicativos de mensagens no estado aconteceu no final de julho de 2019. Dois estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) postaram uma foto no WhatsApp com a legenda “partiu massacre hoje, galera”. Em mensagens de um grupo, um dos alunos acrescenta “é ruim ter mil e um sentimentos para administrar. Às vezes eu só quero um. Por isso ainda não fiz, mas a vontade é grande”.
Já o primeiro caso em Mato Grosso após o massacre em Suzano ocorreu em março, na cidade de Cáceres (a 219 km de Cuiabá). No grupo, um adolescente de 17 anos afirmou dizer que iria fazer um massacre na unidade escolar onde estudava. Na época, os 18 estudantes envolvidos no caso foram detidos e ouvidos pela Polícia Civil.
As ameaças começaram dias depois do massacres em Suzano, no estado de São Paulo, resultando na morte de 10 pessoas. A dupla de atiradores, Guilherme Taucci Monteiro (17 anos) e Luiz Henrique de Castro (25 anos), mataram cinco estudantes e duas funcionárias; depois, um dos atiradores matou o comparsa e em seguida cometeu suicídio. Antes do massacre na escola, a dupla também matou o tio de Guilherme.
I Encontro Estadual de Educação do Ministério Público de Mato Grosso
Aloma Felizardo foi uma das palestrantes do “I Encontro Estadual de Educação do Ministério Público de Mato Grosso: a prevenção do bullying, do suicídio e da violência escolar”, realizado na Sede das Promotorias, na quinta-feira e sexta-feira (9).
A pedagoga é idealizadora do Programa Bullying e Cyberbullying – O combate de todo brasileiro, que dura mais de 10 anos. Aloma também escreveu os livros “Bullying: O Fenômeno Cresce”, “Cyberbullying: difamação na velocidade da luz” e “Bullying Escolar”.