A entrevista deste mês de outubro destaca o trabalho desenvolvido por quem planeja, organiza e acompanha o preparo e o cultivo do solo, cuida da alimentação, da reprodução e do abate de animais, além de gerenciar o armazenamento, a industrialização e a comercialização de alimentos de origem animal e vegetal.
Para homenagear os engenheiros agrônomos do Sistema Confea/Crea pelo dia, comemorado em 12 de outubro, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT) entrevistou João Pedro Valente, atualmente presidente do Regional Mato-Grossense. O gestor do Crea-MT é técnico em agropecuária formado pela Escola Técnica de Franca no Estado de São Paulo. Formado em Agronomia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e mestre e doutor pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). O agrônomo possui diversas experiências profissionais entre elas, professor do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), professor colaborador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, em São Paulo, diretor da Faculdade de Agronomia, como engenheiro agrônomo na Fazenda Experimental. Sua principal atuação profissional foi como docente na UFMT, onde passou por todos os níveis e classes de professor, aposentando como docente titular em 2016. Atuou como diretor Financeiro do Regional Mato-Grossense, na qual atuou como conselheiro por diversas vezes. Hoje ocupa a cadeira de presidente do Crea Mato Grosso eleito para o triênio 2018/2020.
Gecom-Qual a importância do Engenheiro agrônomo para o desenvolvimento econômico de Mato Grosso?
João Pedro Valente– Doze de outubro é uma data muito especial, onde é comemorado o dia do engenheiro agrônomo, dia em que foi regulamentada a profissão. Tenho muito orgulho de ser engenheiro agrônomo, essa profissão transformou nosso estado de Mato Grosso. Certamente todas as ciências e engenharias contribuíram para o desenvolvimento desse Estado, o agronegócio representa mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso. Hoje somos campeões na produção de pecuária, tendo o maior rebanho do Brasil, com cerca de 30 milhões de cabeça, ainda batemos recorde no cultivo de soja, tanto que Mato Grosso produz 28% dos grãos no país. O Estado é o maior cultivador de algodão do Brasil, produzindo 67% da produção nacional e respondemos por 42% do cultivo de milho da safra normal. Respondemos também por 32% do milho total produzido no pais. Por tanto, é um destaque nacional a produção de Mato Grosso. Isso se deu graças ao desenvolvimento de tecnologias, aproveitamento do cerrado, onde os estudos especialmente na questão da fertilidade do solo, no conhecimento, no mecanismo de produção, na constatação dos nutrientes do solo, e no uso do gesso e calcário, que transformou esse imenso território que nada produzia, em um território extremamente fértil e que orgulha a todos nós.
Mato Grosso é hoje um case de sucesso na agropecuária. Pessoas de todos os estados e de muitos países vem aqui para ver o que o Estado está fazendo de diferente para produzir tanto e tão bem. Isso a sociedade deve aos profissionais da agronomia, que estudaram e dedicaram muito para colocar essa tecnologia a disposição dos produtores e da sociedade. Então, por tanto, a profissão tem um legado importante e valioso para essa, e para as próximas gerações, num momento que temos como projeção para o ano de 2050, a necessidade de estar produzindo 70% a mais do que produzimos atualmente de alimentos, isso faz nos entender que os agrônomos precisam começar a desaprender o que usou no passado, para reaprender novamente, desenvolvendo novas tecnologias e métodos de produção.
Gecom- Qual a importância do agrônomo para o desenvolvimento social do Estado?
Tanto para o Estado como para o mundo, sem os agrônomos a produção agropecuário se tornaria inviável ou destrutiva, o que poderia levar o nosso meio ambiente a extinção. Sem a agronomia não há que se falar em desenvolvimento social e sustentável no campo.
O profissional da agronomia viabiliza a utilização de tecnologia, e aplica a melhor técnica para o cultivo do campo e para a criação ou manejo de animais, amenizando os impactos ambientais e ampliando os resultados de produção, e consequentemente favorecendo efeitos positivos para o meio social e econômicos. A agronomia é sinônimo de boa qualidade dos produtos rurais, preservação dos solos, nascentes, segurança no trabalho, alto rendimento e qualidade na produção, despesas econômicas para o mercado privado e para o dinheiro público.
Gecom- Como o senhor percebe sua atuação na gestão do Crea-MT para a sociedade, e para o engenheiro agrônomo?
João Pedro Valente – Assim como em qualquer atividade profissional, e não diferente na agronomia, estamos dando o devido enfoque no aprimoramento das leis que regulam a profissão, bem como uma fiscalização orientativa aos profissionais, e ostensiva à aqueles que praticam tanto o exercício ilegal da profissão e tolhem injustamente o mercado do profissional devidamente apto, como também uma fiscalização enérgica aos profissionais que margeiam a normas que protegem o profissão e a sociedade. Ainda é preciso se adequar a uma nova realidade em que o país vive, onde sobeja novos desafios aos profissionais da agronomia que contribui para que chegue na mesa da família brasileira alimentos seguros e de qualidade. Assim o comportamento do Conselho tem mudado, como disse a nossa legislação, e os normativos precisam ser aprimorados, pois estão antigos e muitas vezes não conseguem dar a devida interpretação ou regulamentação as novas realidades profissionais. E muitas dessas adequações normativas, via de regra, depende do Congresso Nacional. Assim, a atual gestão do Sistema Confea/Crea, que incluem os Regionais e o Conselho Federal, tem atuado de forma bastante efetiva na relação com os parlamentares. Historicamente relacionávamos mal com o Congresso nacional, isso fez com que nossa lei ficasse antiga sem receber as melhorias e alterações necessárias. A atual gestão tem uma visão de que é necessário sensibilizar os parlamentares, e levar para eles informações relevantes para o devido convencimento de que existem necessidades de adequação para que possamos atuar dentro do amparo legal, no sentido de regulamentar as profissões e proteger a sociedade, ou seja, missão original dada aos conselhos. Só fiscalizar e ver se tem uma ART não é suficiente. É preciso verificar se aquele profissional está atuando de fato naquele empreendimento e entregando para a sociedade um serviço de qualidade. Portanto, reforço que é necessário que haja a devida consciência de que a fiscalização da profissão é um exercício para a proteção do profissional e da sociedade. Mas tenho o prazer de estar vivenciando um momento em que o sistema que regulamenta as profissões vem sendo questionado, pois abarcam a todos a saírem da zona de conforto. Esse é um momento propício para que essa crise se transforme em um período de retomada, efetivar a quebra de paradigmas em forma de ação, e operar o Conselho como espera os profissionais e a sociedade, contudo não concordo, de forma alguma, a inexistência de um Conselho que regulamenta a profissão, pois deixará desguarnecido os profissionais e desprotegida a sociedade. A agronomia é estratégica para o país, para o Estado e para sociedade num todo. Agradeço ao Corpo funcional do Crea de Mato Grosso que me ajudou a compreender a viabilizar muitas oportunidades que contribui para o órgão. Conseguimos vários aspectos positivos para esse mandato. Investimos na organização de fluxos de processos e de alguns passivos trabalhistas que encontramos. Foi necessário elaborar um novo plano de Cargos e Carreiras. Investimos em novas frotas para fiscalização. Serão investidos recursos advindos do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia – Confea, para a construção de quatro novas inspetorias em cidades do interior que não existem sede próprias. Foi assinado convênio com Confea para a construção de um auditório.
Gecom- Existe alguma palavra a mais a acrescentar ao profissional da agronomia?
João Pedro Valente – Como já é sabido a todos os profissionais da agronomia, ser agrônomo é mais que ciência e técnica é acima de tudo amar à terra. Parabéns a todos os Agrônomos Mato-grossense!