O professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Moisés Cecconello, alertou para os riscos da reabertura do comércio não essencial em Cuiabá, cujas atividades estavam suspensas desde o dia 25 de junho por determinação da Justiça. O pesquisador lembrou que em março, quando a Prefeitura da Capital optou pelo fechamento precoce de alguns setores, a curva epidemiológica avançou de forma bem mais lenta do que o observado após a retomada das atividades.
“As decisões tomadas naquele momento evitaram colapso precoce. Claro que desaceleraram a disseminação do vírus em Cuiabá. Existe também a questão da população adotar o isolamento social. Isso então evitou que essa questão fosse acelerada. Abrir o comércio neste período [agora], talvez não seja a melhor saída, porque estamos em um momento em que ainda não começou a diminuir o número de casos. A abertura do comércio, de setores da economia, vai acabar alterando o cenário de disseminação”, disse o professor.
Cecconello possui graduação em Matemática e mestrado e doutorado em matemática aplicada pela Unicamp. Ele é um dos responsáveis pelos estudos que estão sendo feitos pela UFMT desde o início da pandemia no Estado.
No dia 20 de março, após a confirmação dos primeiros casos de Covid-19 em Cuiabá, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) determinou o fechamento de praticamente todo o comércio como prevenção contra a proliferação do novo coronavírus.
A medida mobilizou entidades e empresários e, sob forte pressão, no final de abril o prefeito liberou atividades do comércio varejista e atacadista. Um mês depois, Emanuel permitiu também o funcionamento de de shoppings centers, bares, restaurantes e similares, com restrições.
No mês passado, com base no sistema de classificação da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT), que dividiu as cidades por grupos de risco de contágio, o juiz José Luiz Leite Lindote, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Várzea Grande, determinou quarentena coletiva obrigatória em toda a região metropolitana.
A decisão de Lindote vem sendo prorrogada desde então e, segundo o magistrado, só deve ser revista quando a Capital e Várzea Grande apresentarem diminuição no número de casos e de mortes por Covid-19.
Conforme o Informe Epidemiológico que é elaborado pela UFMT em parceria com a Prefeitura de Cuiabá, mais da metade dos casos totais de Covid-19 em Cuiabá foram notificados no último mês.
“Entendemos os fatores econômicos que tem de guiar as decisões políticas. Mostramos no nosso estudo o cenário recente. Agora, quase dois meses se passaram, existe a adesão da população que será recalculada. Vários fatores que entrarão na próxima conta”, explicou Cecconello.
“A qualidade das projeções depende muito da qualidade dos dados que nos são fornecidos pelos setores públicos. Quanto mais precisos forem os dados, melhor será para fazermos as projeções e mais precisas elas serão. Se tivéssemos uma testagem maior, poderíamos ter um cenário mais real da epidemia. A população tem que estar atenta ao isolamento social e as medidas de higiene. Iremos atualizando os dados e divulgando”, pontuou o professor.