O nível do Rio Paraguai, em Cáceres, a 220 km de Cuiabá, chegou a 1,08 m, conforme registro feito pela estação de monitoramento hidrológico do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), no último domingo (6). Essa é a menor cota registrada nesta época do ano desde 1965, quando a estação começou a operar na região.
De acordo com o SGB, a cota mínima referente era de 1,50 m.
O declínio dos níveis da bacia começou em abril, com o fim precoce da estação chuvosa no Pantanal.
A entidade que monitora a região disse durante uma reunião da Sala de Crise do Pantanal, nessa segunda-feira (7), que há a possibilidade do rio alcançar o nível mínimo de -40cm em outubro deste ano.
A previsão é baseada nos anos em que a bacia apresentou uma situação parecida com a atual, no entanto, as condições dependem de como e quando será o período chuvoso. Nos anos mais secos, segundo o SGB, a seca costuma terminar entre final de setembro e meados de outubro.
Conforme o último Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai, publicado no dia 4 deste mês, o nível da bacia ficou estável somente na estação fluviométrica de Bela Vista do Norte. Nas demais estações, incluindo a de Cáceres, o rio manteve a tendência de declínio – como mostra a tabela acima.
Estiagem intensa
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que a região do Pantanal teve precipitações abaixo da média no último trimestre. Em maio, além da pouca chuva, as temperaturas na região estiveram acima do esperado.
O acumulado mensal de chuvas ficou abaixo da média na bacia do Alto Paraguai, onde a climatologia é de 60mm e o acumulado ficou entre 20 e 30 mm.
A previsão aponta que as chuvas devem se manter na média para este mês. No entanto, isso não representa uma melhora, segundo o SGB.
Riscos
A entidade avaliou que os últimos 24 meses foram marcados por chuvas abaixo da média em toda a região do Pantanal, levando a uma seca pluviométrica que deve se estender por, no mínimo, dois anos.
O pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, Marcus Suassuna, explicou que a estiagem e, consequentemente, a baixa no nível do rio, podem causar diversos impactos sociais e econômicos.
“Um dos principais pontos prejudicados é a navegação fluvial, pois as embarcações da Marinha passam a partir de 1,50m. Quando o nível do rio passa dessa cota, restrições começam a ser impostas, e essas restrições podem aumentar com o avanço da vazante para outras navegações”, explicou.
No setor agroprodutivo, por exemplo, o impacto já é visível. No final de maio, mais de 40% das propriedades estavam com 60% a 80% da produção afetada. Outros 15% das propriedades sofrem com mais de 80% da área afetada, representando uma piora de abril para maio.
Outro ponto relevante, segundo Marcus, é a questão do saneamento. Cuiabá faz a captação diretamente do Rio Paraguai. Com a baixa, o serviço passa a ser limitado.
“Isso ocorre com uma cota de -50cm, o que vai acontecer, provavelmente no final do período de seca”, ressaltou.
Além disso, o pesquisador explica que a diminuição da quantidade de água no rio para a diluição da matéria orgânica afeta também a oxigenação, levando à mortandade de peixes.
Os boletins de acompanhamento dos níveis do Rio Paraguai serão encaminhados aos órgãos responsáveis para evitar grandes impactos na região.