Mato-grossense doa rim para livrar marido de sessões de hemodiálise: “é muito compensador”

Fonte: OLHAR DIRETO

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Os dois se conheceram na noite de Natal, há 32 anos. A moça, vinda do interior de São Paulo, já nem voltou pra casa: se casaram em seis meses. Em 2018, já com dois filhos e uma longa história juntos, ela pôde dar sua maior prova de amor, um pedaço de si mesma, que salvou a vida do marido e o livrou de três sessões de hemodiálise semanais. A doação de rim aconteceu em agosto, mas só no início deste mês que Aparecida Dias de Melo, 53, e Cleber Luis de Melo, 54, conseguiram voltar para casa, em São José dos Quatro Marcos, a 308km de Cuiabá, após uma jornada de esperança, luta e, principalmente, amor.

“Eu [o] conheci quando eu vim passear em Cuiabá na casa da minha irmã. Eu morava em Pereira Barreto, estado de São Paulo, e vim num final de ano, dia 12 de dezembro”, lembra a esposa, que é conhecida como Lurdes. “No dia 24, a irmã dele morava perto da casa da minha irmã, e fizeram uma festa lá perto. Uma vizinha deles era muito conhecida da família dele e me chamou pra ir. E lá eu o conheci, na véspera de natal. A gente logo começou a namorar. E não demoramos não, com seis meses a gente casou”.

No início, o casal vivia em Cuiabá, mas logo Cleber foi transferido para o interior, onde trabalhou a vida inteira como técnico agrícola num campo experimental da Empaer. Lurdes é técnica em enfermagem. Foi em 2010 que os primeiros sinais de deficiência renal começaram a aparecer, primeiro com sintomas como ácido úrico alto.

Cleber aceitou tomar alguns remédios que os médicos de Quatro Marcos receitavam, mas quando a esposa marcou consulta em Cáceres e ficou constatado que ele estava ‘perdendo os rins’, ele não quis continuar o tratamento. “Ele não aceitava. Achava que ia conseguir sarar com chá caseiro, que não ia precisar de hemodiálise, que não ia precisar de transplante”, lembra a esposa.

Passaram-se cerca de sete anos, até que em 2016 os sintomas ficaram ainda piores. Cleber começou a ficar fraco, e no dia 23 de dezembro Lurdes o ‘arrastou’ para Cuiabá. “Chegou lá, fez os exames e o médico disse pra ele que ele estava morrendo. Pra ele fazer hemodiálise”.

Mais uma vez, Cleber não queria fazer o tratamento, mas foi convencido pelos filhos e pela esposa. Já nessa época, Lurdes já disse para o médico que se disponibilizaria a doar um rim para ele. Em Cuiabá, no entanto, o médico disse que não aconselhava. E foi em Cáceres que ela encontrou uma médica disposta a ajudar. “Ela falou: vamos fazer todos os exames, se você não tiver nada, não tiver problema de pressão… e eu não tinha. Aí ela fez todos os exames, fez o mapa do coração, mapeou tudo, e encaminhou a gente pra Rio Preto [interior de São Paulo], porque aqui em Cuiabá ainda não tem transplante”.

Enquanto isso, o marido fazia sessões de diálise que duravam quatro horas, três vezes na semana, em Cáceres (uma hora e meia de viagem de onde moram). Foi um ano e meio de tratamento até que fosse realizada a cirurgia. Neste meio tempo, Lurdes ouviu todo tipo de comentário, desde os que diziam que ela era louca, até os que diziam que ela era muito corajosa. Ao final do processo, o último exame foi o da compatibilidade: “A doutora fez, chamou a gente e até falou: olha, é muito rara a compatibilidade dela pra você. Deu além do que a gente esperava”.

A cirurgia aconteceu no dia 28 de agosto, e foi um sucesso. Hoje, Cleber não precisa mais fazer hemodiálise, mas ele e Lurdes seguem em acompanhamento para o resto da vida. Quando perguntada se não tem medo de se arrepender, ela nega: “Não tenho. Nem um pouquinho. Eu fiz de coração (…) Foi por amor a ele, e principalmente pra salvar uma vida. Porque é muito compensador pra mim olhar nele agora e ver como ele está. É  muita recompensa. Não sei nem como explicar. Acho que Deus coloca as pessoas certas na vida das outras”, finaliza.

Sou Dayelle Ribeiro, redatora do portal CenárioMT, onde compartilho diariamente as principais notícias que agitam o cotidiano das cidades de Mato Grosso. Com um olhar atento para os eventos locais, meu objetivo é informar e conectar as pessoas com o que acontece em suas cidades. Acredito no poder da informação como ferramenta de transformação e estou sempre em busca de trazer conteúdo relevante e atualizado para nossos leitores. Vamos juntos explorar as histórias que moldam nosso estado!