A devastação causada pelo fogo no Pantanal atingiu novos patamares alarmantes em 2024. De janeiro até esta terça-feira (11), 372 mil hectares foram atingidos por incêndios, uma área que supera a soma de duas cidades de São Paulo. Este valor é 54% maior do que o registrado no mesmo período de 2020, considerado o pior ano de queimadas no bioma, quando 241,7 mil hectares foram queimados até a data.
De acordo com o Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais (Lasa) do departamento de meteorologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), até sexta-feira (14), o bioma já teve, em 2024, 2.019 focos de incêndio, conforme a plataforma BD Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em comparação, no mesmo período em 2023, foram registrados apenas 133 focos. Embora o número de focos em 2020 tenha sido ligeiramente maior (2.206), a área devastada é significativamente maior em 2024.
Especialistas apontam que a situação atual é resultado de uma seca severa no bioma, agravada pelo fenômeno climático El Niño e pela falta de ações preventivas eficazes. O biólogo e porta-voz da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, ressalta que os esforços em pessoal e equipamentos, como aeronaves, ainda são insuficientes. “Os governos pouco aprenderam com os episódios anteriores, e a falta de prevenção é um dos principais problemas das queimadas,” afirma Figueirôa.
A ONG SOS Pantanal enviou uma nota técnica aos governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), cobrando uma ação conjunta mais eficiente. Na sexta-feira, o Governo Federal criou uma sala de situação para lidar com as queimadas e a seca no Pantanal. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, liderará reuniões a partir de segunda-feira (17) para discutir soluções, incluindo a simplificação na contratação de brigadistas e aquisição de equipamentos.
O Pantanal, a maior planície alagável do mundo, enfrenta desafios logísticos significativos devido ao difícil acesso e à complicada logística. Isabelle Bueno, coordenadora de operações do Instituto Homem Pantaneiro, explica que as altas temperaturas e o vento na região facilitam a propagação do fogo, dificultando o combate direto.
O Ibama está atuando com 157 brigadistas do Prevfogo e uma aeronave avaliando os maiores focos de incêndio. Novas contratações estão previstas. O Governo de Mato Grosso investiu R$ 74,5 milhões em 2024 no combate ao desmatamento e incêndios florestais. O Governo de Mato Grosso do Sul destacou a criação da Lei do Pantanal e mantém ações de prevenção conjunta com Mato Grosso. No entanto, a implementação de um combate eficaz ainda enfrenta desafios significativos.
O STF determinou recentemente que o Congresso deve definir normas específicas para a proteção do Pantanal em 18 meses, destacando a necessidade urgente de ações legislativas para proteger o bioma.
A maior parte dos incêndios é causada por ações humanas, sejam intencionais ou não. A vegetação nativa e a fauna, incluindo espécies ameaçadas como onças-pintadas, ariranhas, cervos-do-pantanal e araras-azuis, são as principais vítimas. A situação crítica exige uma resposta rápida e coordenada para evitar mais perdas devastadoras no Pantanal.