O impacto desse crime reverbera na vida de uma menina e da comunidade onde vive. Na tarde de quarta-feira (22), a equipe da Delegacia de Polícia Civil de Matupá, no interior de Mato Grosso, prendeu um homem de 52 anos buscado por mais de cinco anos por um crime praticado contra sua enteada de apenas 11 anos. O mandado definitivo de prisão foi cumprido após o condenado ser encontrado trabalhando em um hotel da cidade.
Segundo as investigações, o abuso ocorreu em 2020 no município de Itiquira, distante cerca de 358 km da capital. A criança revelou à mãe o que havia acontecido e, conforme relatado, o então companheiro admitiu o delito, alegando estar “doente” e necessitar de tratamento psicológico. Após a confissão, ele mudou-se para outra localidade e permaneceu foragido mesmo após a condenação.
O processo tramitou na Vara Única de Itiquira e resultou em sentença de 20 anos e cinco meses de prisão em regime fechado, pela prática de estupro de vulnerável — tipificado no Art. 217-A do Código Penal brasileiro. Com a expedição de mandado definitivo, o acusado figurava como foragido até a data da prisão.
Como se desenrolou a captura
A operação de monitoramento e levantamento de informações da Delegacia de Matupá permitiu localizar o condenado em atividade profissional no setor hoteleiro local. Ao ser abordado, ele foi conduzido à unidade policial para os trâmites cabíveis e, em seguida, encaminhado ao sistema prisional estadual.
O caso deste município se insere num cenário mais amplo: dados da Justiça de Mato Grosso apontam que os processos sobre estupro de vulnerável aumentaram 21% de 2023 para 2024, saltando de cerca de 1.714 para 2.082 registros. Ainda, estudo estadual mostra que 72% dos crimes de abuso sexual contra crianças ocorreram dentro de casa no primeiro quadrimestre de 2021.
Essa estatística reforça que, muito frequentemente, os crimes não acontecem em ambientes públicos ou desconhecidos — mas dentro de lares, de pessoas próximas da vítima. Em 73,7% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em Mato Grosso, o ambiente doméstico foi o local da agressão.
Reflexos e orientações para a sociedade
Para além da prisão, o episódio evidencia a necessidade de atenção constante — de familiares, vizinhos, escolas — ao comportamento de crianças e adolescentes. Quando uma menina ou um menino relata algo fora do comum, esse relato não pode ser descartado.
É importante lembrar que o canal Disque 100 e o Disque 180 (no caso de violência contra a mulher) são acessíveis 24 horas e garantem sigilo. Em Mato Grosso, o número de denúncias via Ligue 180 aumentou 113% até julho de 2024 em relação ao ano anterior, o que mostra tanto um avanço na conscientização quanto o tamanho do desafio.
Este caso, intimamente ligado à história de abandono, silêncio e impunidade, mostra que o sistema de Justiça ainda precisa manter vigilância para localizar condenados foragidos e garantir que a pena seja cumprida. A nossa reportagem baseou-se em dados da Polícia Civil e do Poder Judiciário estadual.
