As mulheres brasileiras ainda recebem em média 70% do equivalente ao salário dos homens para exercer as mesmas funções e executar as mesmas tarefas. A desigualdade entre os gêneros no mercado de trabalho cria obstáculos, mesmo que as mulheres representem 51,4% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2014.
E mesmo diante das dificuldades, elas estão cada vez mais engajadas em reivindicar os espaços que podem, e devem, ocupar em um processo de transformação do mercado. Atualmente, as mulheres representam 55,1% das universitárias e 53,5% do total de alunos de pós-graduação, porém apenas 41,8% dos cargos de chefia.
Dois anos atrás, um grupo de mulheres publicitárias percebeu a baixa representatividade delas na área. Em um evento, para profissionais do setor, não havia nenhuma palestrante, apenas homens.
Em uma conversa entre as profissionais, o diagnóstico: a “rivalidade feminina”, que dificulta trocas de conhecimento e de networking, elas são pouco conhecidas e pouco lembradas. A busca pela solução continuou na conversa e as publicitárias criaram o Coletivo “Publicitárias com A”, cujo objetivo é diminuir a distância do mercado de trabalho e fazer com que seja igual para homens e mulheres, com salários iguais para as mesmas funções, reconhecimento, responsabilidade e cargos de liderança.
Para a presidente do Coletivo, Silene Ferreira, a iniciativa proporcionou a troca de networking, uma vez que as publicitárias passaram a conhecer umas às outras e se colocar em evidência. Atualmente, a base do “Publicitárias com A” alcança 150 profissionais, com 20 delas fazendo parte do núcleo de tomada de decisões e promoção das ações.
“O Coletivo busca despertar o poder interior que todas as mulheres têm tanto no mercado de trabalho, quanto na vida pessoal. Para isso, fomentamos a troca de experiências, nos indicamos para trabalhos, promovemos eventos públicos e campanhas de conscientização de que o gênero não define o profissional”, destacou Silene.
Apesar de pouco tempo de atuação da iniciativa, ela contou já ter percebido uma resposta positiva na área, com a humanização do mercado e colegas mais receptivos e parceiros.
“O machismo também oprime os homens, que têm que vestir uma armadura de super-herói e com o coletivo queremos mostrar também aos homens esse outro olhar, de que pode existir parceria e companheirismo entre homens e mulheres, não é uma disputa. É um processo novo, mas essa resposta vem de todos os lados, inclusive do empresarial. Estamos sendo mais respeitadas, sim”, disse a publicitária.
A iniciativa, conforme Silene, é voluntária. Todas as engajadas trabalham em agências e ainda não veem a necessidade de transformar o coletivo em uma concorrência no mercado publicitário.
“Mas estamos abertas a parcerias desde que dentro de nossa filosofia de uma sociedade mais equânime. E este ano, queremos fomentar a discussão em torno da capacidade de liderança das mulheres. Teremos uma academia de líderes, com foco no gerencial e equipe, desenvolvendo as líderes que existem dentro de nós”, concluiu.