Registro de 1778, publicado no livro Annaes do Sennado da Camara do Cuyabá (1719-1830) revela um caso de possessão demoníaca em Cuiabá. A mulher, de pele negra, natural do Rio de Janeiro, se chamava Maria Eugenia, e havia sido presa por queimar as imagens de Jesus Cristo, que estava em uma cruz de latão e de Nossa Senhora. As cinzas haviam sido encontradas em um fogão. “Atros delicto, horrendo, e já mais cogitavel”, cita trecho do documento.
A mulher foi presa no dia 11 de março daquele ano, quando teve os bens sequestrados. Ficou detida por quatro anos e morreu em 1782. A causa da morte não é revelada no documento. “Porque o Diabo Capital inimigo de Jezus Christo, não perde tempo em solicitar os meios possiveis de haver pella humana fragilidade aquela vingança, que apetece, que vem a ser, que as mesmas creaturas remidas com o preciozo sangue do Senhor senão saibão aproveitar deste bem”, diz trecho do arquivo.
Assim como este caso, o livro reproduz as normas técnicas do Arquivo Nacional para a transcrição e edição de documentos manuscritos, que registra o período de 1724 a 1830. São registros de mais de um século de funcionamento do parlamento de Cuiabá, ou seja, do equivalente, à época, à Câmara de Vereadores do município.
Relatam curiosos e interessantes fragmentos da vida cotidiana da população, mas também momentos históricos de suma importância para a compreensão do processo de fundação e consolidação da capital. Annaes do Sennado da Câmara do Cuyaba foi a segunda grande obra lançada pelo Arquivo Público na gestão do então governador Blairo Maggi.