Há oito anos atuando como enfermeiro, Denialison Santiago Vieira, de 30 anos, é um dos trabalhadores da saúde que estão na linha de frente no combate à Covid-19, em Cuiabá. Profissional contratado da Empresa Cuiabana de Saúde, atua no atendimento das UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Municipal São Benedito, desde junho de 2020, quando a unidade de saúde se tornou hospital referência para atender pacientes com a doença respiratória.
Com 40 leitos, o São Benedito, atualmente já está com quase 70% de sua taxa de ocupação de leitos de UTI, após a nova alta no número de casos de coronavírus no Estado. Vendo isso de perto, o enfermeiro conta como é a rotina e a sensação de impotência nos hospitais, quando se perde uma vida nas batalhas diárias contra o vírus.
O profissional já contraiu o vírus em junho do ano passado, mas teve apenas sintomas leves. a esposa porém,que também é enfermeira, foi infectada e chegou a ficar internada após sentir muita falta de ar e ter parte do pulmão comprometido. Depois do drama vivido, Denialison fala com propriedade sobre como é essencial tomar os cuidados necessários para se proteger.
“A gente tem passado por um momento tão conturbado, com tantas vidas se perdendo, tantos familiares que também perderam seus entes queridos. É como se estivéssemos em um jogo onde a covid está de um lado tentando levar as pessoas e nós profissionais da saúde do outro, não querendo deixar. O vírus está aí ainda, não tem o que contestar. As pessoas precisam tomar cuidado, usar máscara, lavar as mãos sempre, se isolar, e, de fato, ficar só no seio das pessoas eu convive. Evitem sair, aglomerar, nós já vamos fazer um ano com essa doença, então é importante que tomemos cuidados. Aqueles que perderam os seus entes, que já passaram pela doença, sabem o valor do cuidado, sabem a importância de se preservar e cuidar de si e cuidar do próximo. Os que não passaram por isso, passaram mais de forma leve, acha que o vírus não é mortal, pedimos empatia com as pessoas, com quem já perdeu alguém próximo. Muitas vidas foram perdidas, já temos mais de 200 mil casos confirmados no Estado e milhares de mortos”, desabafa o profissional.
O enfermeiro tinha outros planos de carreira, mas viu a sua vida mudar do avesso desde mês de junho do ano passado quando foi convidado para atuar na linha de frente do combate ao coronavírus e conta que sentiu-se no dever moral de ajudar a população. “Eu escolhi essa profissão para ajudar, para transformar, fazer a diferença na vida das pessoas e é o que tenho feito até hoje”. Para ele, o pior nesse combate ao vírus é o cansaço mental e emocional que, segundo ele, é “fora do comum”.
“A gente tem vivido fases dessa doença. No começo da pandemia era muito pesado tudo, não sabíamos muito sobre a doença, fazíamos uma coisa e não tinha o resultado esperado, era frustrante. Depois foi melhorando, nos adaptamos durante o curso e isso causou um cansaço mental muito grande, que é ver as pessoas morrendo e se sentir impotente. Fora a questão do medo de saber que estávamos dentro do hospital ali cuidando do ente querido de outras pessoas, pensando que também temos pai, mãe e pessoas que poderiam passar por essa situação e tudo isso ‘pesava’ muito na cabeça, foi o pior para mim”, conta.
A rotina era árdua e continua da mesma seguindo todos os protocolos de segurança: após encerrar o turno, tomar banho, se esterilizar e ao chegar em casa repetir o processo, em seguida colocar roupa no cesto, e só então ficar com a família. No entanto, o enfermeiro afirma que mesmo assim, sentia-se que não estava limpo e o medo de levar o vírus para os seus familiares era grande.
“Quando chegava em casa ainda me sentia incomodado, porque é algo que você não vê e fica imaginando se tem algo de errado, ainda mais se tratando de um vírus que você pega pelo contato, é algo que me assustava bastante. Hoje tenho menos medo, mas os cuidados sempre estão sendo tomados como recomendados pelo Ministério da Saúde. Além disso ainda me isolei das outras pessoas, o contato hoje é mínimo, só quando necessário”.
Além disso, o profissional destacou que a estrutura do Hospital São Benedito e todo cuidado tomado por todos no local o fez sentir mais seguro e mais confiante para ajudar as pessoas.
“As equipes são muito capacitadas, todos empenhados no trabalho. A gente trabalha aqui querendo ver o melhor das pessoas. Graças à Deus nunca passamos por nenhum perrengue aqui por falta de EPIs [Equipamento de Proteção Individual] ou insumos, tudo transcorre como tem que ser. O hospital tem uma estrutura muito boa, a gente tem uma máquina lá dentro da UTI, que colhe o sangue dos pacientes, não precisa a gente ter que entrar para colher, verificar, e esperar até que chegue o resultado… é uma tecnologia que faz toda a diferença e soma muito com relação ao tratamento para a covid. Eu só tenho que parabenizar a quem gere o hospital e a quem pensa nisso tudo, porque de fato, o São Benedito tem um atendimento de qualidade”, diz.
Fé na chegada da vacina
Na quarta-feira (20), Cuiabá iniciou a imunização contra a covid-19 e vacinou as primeiras sete pessoas na campanha “Vacina Cuiabá – sua vida em primeiro lugar”, trazendo esperança de superação deste momento difícil pelo qual passa toda a humanidade.
Durante o evento de início da campanha de vacinação, o prefeito Emanuel Pinheiro exaltou a abnegação desses profissionais, que se dedicam a salvar vidas. “Homenageio os servidores públicos da Capital em nome dos valorosos guerreiros e guerreiras profissionais da saúde da Capital do estado de Mato Grosso. Quero parabenizar por todo esse comprometimento e por todo esse amor de servir ao público e de se dedicar, num momento tão difícil da humanidade, para que Cuiabá saia à frente e continue sendo uma capital referência no enfrentamento do combate a covid-19”, discursou.
Neste primeiro momento serão vacinados todos os profissionais da saúde, que estão na linha de frente ao combate ao vírus, que é o caso do enfermeiro Denialison, que coloca suas esperanças na imunização contra o vírus.
“É o que a gente mais quer, tenho muita fé que essa vacina veio para nos ajudar, para cessar essa proliferação de vírus, para parar de matar as pessoas. Eu vou tomar e queria que todas as pessoas tivessem a mesma opinião que eu, porque eu ainda vejo muitos colegas, até mesmo de profissão, questionando a vacina, mas eu tenho fé que vai dar certo”, acredita.