A descoberta de seis cemitérios clandestinos com 33 corpos expôs a dimensão da violência praticada por facções em Mato Grosso ao longo deste ano. As áreas, isoladas e de difícil acesso, funcionavam como pontos de ocultação de vítimas executadas em conflitos internos ou punições impostas pelo chamado tribunal do crime.
Entre os locais mais recentes identificados está um sítio de desova em Confresa, encontrado no dia 3 de dezembro. Ali, equipes policiais desenterraram dois corpos ainda sem identificação, marcando mais um episódio da estratégia das organizações para eliminar rivais e esconder a violência que exercem sobre quem desrespece suas ordens.
De acordo com a Polícia Civil, o acesso ao ponto em Confresa somente foi possível após meses de monitoramento da Derf, que cruzou denúncias, movimentações suspeitas e dados de inteligência. As investigações levavam à região da Cachoeira da Onça, uma área de mata fechada que, segundo os relatos colhidos, era utilizada pela facção dominante para enterrar vítimas.
No terreno, os agentes encontraram um dos corpos com a cabeça separada do tronco, um indício de execução com extrema violência. O cenário reforça a suspeita de que o caso está ligado a disputas internas ou a punições determinadas pelo grupo criminoso que atua na região.
Casos semelhantes marcaram o ano em diversas cidades do estado. Em março, quatro corpos foram encontrados em um cemitério clandestino no bairro Pirinéu, em Várzea Grande. Dois deles eram trabalhadores maranhenses — Diego de Sales Santos, 22, e Mefibozete Pereira da Solidade, 25 — desaparecidos após aceitarem emprego na cidade. Dias depois, na mesma área, surgiram os corpos de Ricardo Oliveira Alves, 41, e do filho, Ryan Matos Alves, 18, desaparecidos desde dezembro de 2024.
Várzea Grande também foi palco de outra descoberta em janeiro, quando três corpos foram localizados perto do Complexo Predinhos, entre os bairros São Mateus e Residencial São Benedito. As vítimas — Flávio Rodrigues Carneiro, 47, Wellington Suede Jesus Carneiro, 28, e Jean Suede de Jesus Dias, 21 — tiveram as identidades confirmadas pela perícia. Meses depois, em agosto, o corpo de José Walleffe dos Santos Lins, 28, natural de Alagoas, foi achado enterrado no Residencial Isabel Campos.
Grandes áreas de desova vieram à tona no início do ano
Os maiores cemitérios clandestinos, porém, foram revelados em janeiro e fevereiro. Em Lucas do Rio Verde, a polícia encontrou 12 corpos em uma área atribuída ao Comando Vermelho, que, conforme a investigação, utilizava o espaço desde pelo menos 2022. [Veja mais]
Em Rondonópolis, outro ponto com 11 corpos reforçou o padrão de punições impostas pela facção que controla o tráfico na cidade. As vítimas, segundo a polícia, eram usuários de drogas que violaram regras internas e acabaram executados após julgamentos do tribunal do crime.
Perícia trabalha para avançar na identificação das vítimas
Conforme a Perícia Oficial e Identificação Técnica, já foram concluídas 47 identificações de corpos encontrados nesses locais nos últimos anos. Outros 70 conjuntos de restos mortais aguardam cruzamento genético no sistema Codis, enquanto 168 famílias já forneceram material de DNA para tentar localizar parentes desaparecidos.
As investigações seguem em andamento e cada novo ponto revelado pode ajudar a esclarecer desaparecimentos antigos, além de mapear a estrutura das facções que operam no estado, segundo informações repassadas pelos órgãos de segurança.
Fonte: informações da Polícia Civil e da Perícia Oficial e Identificação Técnica.






















