Casais de Mato Grosso batem recorde na escolha por manter o nome de solteiro

Fonte: CenárioMT

Casamento
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Decisão alcança 54,3% dos casamentos e marca a maior mudança cultural da série histórica iniciada em 2003

Levantamento dos Cartórios de Registro Civil revela transformações sociais, novas legislações e maior autonomia nas relações

Um comportamento cada vez mais presente entre casais mato-grossenses atingiu seu ápice em 2024: a escolha por manter o nome de solteiro no casamento. Segundo levantamento exclusivo dos Cartórios de Registro Civil do estado, compilado pela Anoreg/MT com base nos registros da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), 54,3% dos matrimônios foram celebrados sem qualquer alteração de sobrenome. Trata-se do maior índice registrado desde o início da série histórica, em 2003.

O dado confirma uma mudança profunda na cultura matrimonial em Mato Grosso. Enquanto em 2003 apenas 18% dos casamentos mantinham o nome de solteiro, o número avançou de maneira constante ao longo das últimas duas décadas e ganhou força após 2020, quando ultrapassou pela primeira vez a marca dos 50%.

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Mudança que se reflete nos números

Em 2024, Mato Grosso registrou 19.005 casamentos. Desses, 10.320 ocorreram sem alteração de sobrenome — um marco que praticamente dobra o total de matrimônios registrados em 2003 (10.310 no ano), quando apenas 1.860 optaram pela mesma escolha.

Para a presidente da Anoreg/MT, Velenice Dias, o fenômeno traduz um novo momento social: “Hoje, a escolha sobre o sobrenome é tratada com mais autonomia e igualdade, refletindo relações mais equilibradas e decisões familiares baseadas na identidade de cada indivíduo.”

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Mudanças legais que transformaram o comportamento dos casais

A virada no comportamento matrimonial tem forte relação com transformações jurídicas ocorridas ao longo dos últimos 20 anos. A mais significativa delas foi a entrada em vigor do novo Código Civil, em 2002, que ampliou as possibilidades de escolha sobre sobrenomes e introduziu uma novidade inédita até então: a permissão para que o homem adotasse o sobrenome da mulher.

Embora inovadora, essa opção nunca se popularizou. Em 2003, apenas 60 homens adotaram o sobrenome da esposa. Em 2024, mesmo com o crescimento dos matrimônios, o número atingiu somente 307 ocorrências, o equivalente a 1,62% dos casamentos.

Já a possibilidade de ambos os cônjuges incluírem sobrenomes — também trazida pelo novo Código Civil — ganhou adesão ao longo dos anos. Em 2003, isso acontecia em 0,61% dos casamentos. Em 2024, saltou para 5,23%, representando 993 celebrações em todo o estado.

Lei 14.382/22 amplia ainda mais as possibilidades de mudança

A tendência recente também foi impulsionada pela Lei Federal nº 14.382/2022, que flexibilizou a alteração de sobrenomes, permitindo:

  • inclusão de sobrenomes familiares a qualquer tempo, com comprovação de vínculo;
  • alteração de sobrenome em razão de casamento ou divórcio sem necessidade de justificativa judicial;
  • adequação dos sobrenomes dos filhos conforme mudanças realizadas pelos pais.

A legislação, segundo registradores, reforça a autonomia dos indivíduos e acompanha uma sociedade que valoriza cada vez mais identidade e pertencimento.

Tendência reflete transformações sociais e novas percepções de família

A preferência por manter o nome de solteiro tem sido interpretada por especialistas como reflexo de mudanças culturais associadas à igualdade entre os cônjuges, fortalecimento da identidade pessoal e menor pressão social para adoção de sobrenomes por convenção.

O fenômeno também dialoga com padrões familiares mais plurais e com o avanço da participação feminina em decisões legais ligadas ao matrimônio.

O recorde registrado em 2024 confirma que os casais mato-grossenses estão optando por relações cada vez mais igualitárias, conscientes e alinhadas às transformações sociais do país. Com novas legislações e maior autonomia sobre decisões civis, os indicadores devem continuar evoluindo nos próximos anos, consolidando um novo perfil das uniões no estado.

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Rodrigo Lampugnani, formado em Ciência da Computação, é fundador do CenárioMT. Inovador no jornalismo digital, atua com tecnologia, fé e solidariedade, representando Mato Grosso em eventos nacionais.