Em um ano à frente da base, ex-jogador promove mudanças no setor e inicia projeto de longo prazo que prevê recuperar o histórico vencedor da Seleção Brasileira
O autógrafo já mudou. Agora Cláudio Ibraim Vaz Leal assina como “Branco Tetra 94: 19” em alusão aos dois tetracampeonatos que marcaram sua carreira dentro e fora dos gramados. O primeiro foi na conquista da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, quando marcou o gol de falta memorável na semifinal contra Holanda, e o segundo e mais recente com o título da Copa do Mundo Sub-17, no Brasil.
O título da equipe comandada pelo técnico Guilherme Dalla Déa foi o quarto acumulado pela categoria e o quarto mundial da carreira de Branco. O coordenador de seleções de base da Seleção Brasileira já havia conquistado os Mundiais Sub-20 e Sub-17 no ano de 2003, em sua primeira passagem como dirigente da CBF. Ao todo, Branco já esteve em oito Mundiais: três como jogador profissional (86, 90 e 94) e cinco como dirigente da base (Três vezes campeão, um segundo-lugar e um terceiro lugar).
Branco voltou ao comando das Seleções Brasileiras de base com o objetivo de reconduzi-las ao caminho das vitórias. Em seu primeiro ano, já conseguiu resultados expressivos. No mês de julho, venceu o Torneio Maurice Revello, na França, com a equipe olímpica Sub-23, e agora a Copa do Mundo Sub-17. Conquistas que refletem uma filosofia de trabalho com a marca vencedora do ex-lateral esquerdo.
Em sua primeira passagem no cargo, entre 2003 e 2007, o ex-jogador conquistou, além das Copas do Mundo Sub-20 e Sub-17, o Pré-Mundial Sub-20 (2003), a Copa Internacional do Mediterrâneo Sub-18 (2003), a Copa Sendai Sub-18 (2003), a Copa Internacional do Mediterrâneo Sub-15 (2003), o Sul-Americano Sub-15 (2005), o Sul-Americano Sub-17 (2005) e o Sul-Americano Sub-20 (2007).
Um ano de mudanças
Branco assumiu a coordenação de base no mês de outubro de 2018. Em seus primeiros meses, dedicou-se a conhecer os profissionais que compunham o departamento e a diagnosticar suas necessidades. Em seguida, iniciou o processo de implementação de suas ideias, pautadas no principal objetivo a longo prazo: conquistar títulos e recuperar o histórico vencedor brasileiro.
– O Branco chega para cumprir dois conceitos cruciais da base: preparar com eficiência nossos jovens valores para integrar o time principal e conquistar os títulos que notabilizam o Brasil. Que ele traga sua experiência e seu estigma de vencedor – disse o presidente da CBF, Rogério Caboclo, na apresentação do novo coordenador.
O pedido de Caboclo vem sendo atendido por Branco. A Seleção Brasileira Principal começa a receber atletas que até pouco tempo ainda eram da equipe sub-20. Caso do lateral direito Emerson, do Real Betis, presente na última lista do técnico Tite.
As conquistas em campo começaram a aparecer, amparadas por uma estratégia de contar sempre com os melhores jogadores, estreitando o diálogo com os clubes, reestruturando os processos de convocação, diminuindo número de desconvocações e ampliando o relacionamento com os dirigentes dos clubes, convidando-os a participar dos processos internos e dos períodos de preparação.
Criação de novas categorias
Um dos objetivos das seleções de base é dar bagagem aos jovens atletas e prepará-los para vestir a camisa mais vitoriosa do mundo no futuro. Não é fácil representar o futebol brasileiro: marca de um jogo bonito e que sempre entra em campo para ser campeão. O presidente da CBF Rogério Caboclo anunciou durante sua posse que iria povoar a Granja Comary com as equipes de base, além de promover torneios e jogos preparatórios dentro e fora do país, para proporcionar mais rodagem aos nossos jovens jogadores.
Branco sabe como poucos o que é representar a Seleção Brasileira, e por isso é entusiasta da proposta de Caboclo. Pensando em proporcionar mais experiência com a Amarelinha, duas novas categorias foram criadas: as seleções Sub-16 e Sub-18. Dudu Patetuci foi contratado para comandar essas equipes. Só neste ano, a coordenação promoveu convocações constantes das seleções sub-17 e sub-15, que se preparavam para o Mundial e o Sul-Americano. A Granja Comary sediou Torneio Internacional sub-15, reunindo Bolívia, Peru e Uruguai. O Brasil venceu com direito a goleada sobre os uruguaios na decisão.
Ao mesmo tempo, o projeto olímpico seguiu a todo vapor, com convocações para jogos preparatórios e participações em torneios internacionais. Em janeiro, o time comandado por André Jardine inicia o trabalho voltado para o torneio pré-olímpico, no Colômbia.
A estrutura das comissões técnicas da base ficaram divididas da seguinte forma, com os respectivos treinadores: Paulo Victor Gomes (Sub-15), Dudu Patetuci (Sub-16 e Sub-18), Guilherme Dalla Déa (Sub-17) e André Jardine (Sub-20 e Seleção Olímpica).
Integração e eficiência
Branco fez uma mudança estrutural importante na sala do departamento da base na sede da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Reuniu todos os treinadores na mesma sala, com o objetivo de facilitar a integração e a troca de ideias em prol da Seleção Brasileira. Esse processo desencadeou em uma iniciativa inédita na CBF. Um encontro na Granja Comary reuniu todos os técnicos atuais da base e a comissão técnica da Seleção Principal para debaterem uma identidade e uma filosofia de jogo para as categorias de base do Brasil.
Além dos técnicos André Jardine (Sub-20), Guilherme Dalla Déa (Sub-17), Dudu Patetuci (Sub-16), Paulo Victor (Sub-15) e Tite, também participaram do debate supervisores, observadores técnicos, o analista de desempenho da Seleção principal Dudu Bressane e o preparador físico da principal Fábio Mahseredjian. O ex-técnico da Seleção Brasileira e campeão do mundo em 94, Carlos Alberto Parreira, e o ex-supervisor Américo Faria, presente nas delegações brasileiras em seis mundiais, foram os convidados especiais.
Como parte do incentivo ao desenvolvimento social, umas das premissas da nova gestão da CBF, Branco implantou nas categorias de base o projeto de apoio pedagógico. Nos períodos de convocações, os jogadores passaram a receber acompanhamento de suas rotinas escolares e também participam de atividades coletivas que trabalham temas como racismo, redes sociais, educação financeira e relacionamento com a mídia.
Neste primeiro ano no retorno à CBF, Branco também passou a buscar mais eficiência nos processos internos, buscando mais economia na contratação de serviços sem comprometer a excelência que a Seleção Brasileira exige.
– Estou muito satisfeito com esse primeiro ano de trabalho. Conseguimos avançar nos principais pedidos do nosso presidente Rogério Caboclo. Estreitamos a relação com os clubes, povoamos a Granja Comary e alcançamos conquistas importantes como a Copa do Mundo Sub-17. Vamos seguir evoluindo, acompanhando as competições pelo Brasil e dando oportunidade para os jovens talentos. Queremos os melhores vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Mais do que isso, queremos formar atletas com mentalidade vencedora para o futuro – resume o coordenador.
Branco vestiu a Amarelinha em 78 ocasiões, disputou três Copas do Mundo (86, 90 e 94), conquistou uma Copa América (89) e marcou 10 gols. Toda essa experiência acumulada como jogador da Seleção, o eterno camisa 6 compartilha com os mais jovens desde que deixou os gramados para seguir no futebol como dirigente.