O cinema brasileiro passou décadas deixando de lado vozes essenciais. Entre desafios de financiamento, ausência em festivais e apagamento histórico, duas cineastas negras — Edileuza Penha de Souza e Camila de Moraes — abriram caminhos paralelos, criando redes e estruturas para que o audiovisual negro se consolidasse.
Edileuza Penha de Souza, cineasta, professora e pesquisadora, é referência em debates sobre negritude, audiovisual e educação. Sua obra Negritude, Cinema e Educação articula estética, política e formação crítica, destacando a trajetória de Adelia Sampaio, primeira cineasta negra do Brasil, até então praticamente ausente nos estudos acadêmicos.
Em 2014, Edileuza lançou a Mostra Adélia Sampaio e o primeiro Encontro Nacional de Cineastas Negras, criando a primeira mostra competitiva de cinema negro no país. Ela afirma que a iniciativa buscava reparar o apagamento histórico e que formação, pesquisa e realização são dimensões inseparáveis no audiovisual.
Apesar de avanços, Edileuza alerta para desigualdades persistentes: até 2016, a Ancine não havia financiado nenhum longa dirigido por mulher negra, e o acesso a recursos segue limitado.
Camila de Moraes, jornalista e cineasta, construiu uma trajetória emblemática no cinema negro contemporâneo. Diretora de filmes como A Escrita do Seu Corpo e O Caso do Homem Errado, Camila enfrentou a falta de apoio institucional recorrendo a financiamento coletivo e criando a Borboletas Filmes, distribuidora independente que fortalece a circulação de obras de realizadores negros.
O Circuito Filmes que Voam, idealizado por Camila via Lei Paulo Gustavo, promove sessões semanais de filmes nacionais em Salvador, ampliando o acesso do público e fomentando o setor. Ela destaca a urgência de revisar critérios de distribuição no Brasil para garantir que os filmes cheguem ao público e às produtoras negras.
Para ambas, o cinema é direito, reparação e política pública. Suas trajetórias revelam que o futuro do cinema negro brasileiro já é coletivo, combativo e em expansão.
Pesquisas apontam a persistente desigualdade: em 2016, apenas 2% dos diretores de filmes comercialmente lançados eram negros, e menos de 1% dos filmes produzidos entre 1908 e 2015 teve protagonistas negros.























