Os consumidores estão ficando sem saída nos supermercados com a inflação de 1,62% em março e de 11,3% nos últimos 12 meses. Além de os produtos da lista de desejos das famílias terem aumentado muito no último ano, a tradicional troca por outros alimentos baratos está se tornando inviável. Isso porque os substitutos registraram elevações às vezes até superiores que as dos itens mais procurados.
Nos últimos 12 meses, a carne acumulou aumento de 8,05%, enquanto as aves e os ovos, substitutos diretos desse item, registraram inflação de 18,88%.
Quer trocar a manteiga pela margarina? Pense bem, a primeira está 7,24% mais cara, mas sua alternativa disparou quase três vezes mais: 20,09%.
Também não é mais tão vantajoso trocar o azeite de oliva (11,32%) pelo óleo de soja, que subiu 23,75% em um ano. A mandioca poderia substituir a batata (27,15%), isso se não fosse a inflação de 36,12% no tubérculo.
Com os grãos não tem sido diferente. Todos os tipos de feijão, com exceção do preto (-4,13%), tiveram alta, logo mudar o tipo não adianta. O mulatinho subiu 7,30%, o fradinho, 6,63%, o carioca 2,80%. Está achando caro? Nem pense em trocá-lo pelo milho. O grão registrou elevação de 23,36% em 12 meses.
Baratear a salada também ficou difícil. Itens mais comuns tiveram um aumento nos últimos meses. Esse é o caso de cenoura (166,17%), tomate (94,55%) e alface (38,92%). O mesmo aconteceu com produtos como a abobrinha (44,99%), pepino (28,12%), couve (24,96%), brócolis (30,35%) e repolho (64,79%).
Para o economista responsável pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da FGV, André Braz, o aumento dos preços é um efeito em cadeia.
“Os alimentos in natura, por exemplo, variam com o aumento nos adubos e fertilizantes, que estão subindo muito de preço. Eles também são muito dependentes do frete e, nesse caso, quanto menor o valor do bem, maior o impacto no valor final”, analisa Braz.
Ele lembra que o diesel já vem subindo desde o ano passado. Em um ano, o combustível foi reajustado em 46,47%. Os fertilizantes, segundo levantamento do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da FGV, subiu 7,97% em março.
De acordo com o economista da FGV, a tendência com a alta no valor dos produtos, principalmente daqueles que costumavam sair mais em conta para as famílias, é que o brasileiro pare de substituir e comece a reduzir a quantidade no carrinho de compras.
“A alta dos preços está acontecendo principalmente em cima de alimentos básicos, que as famílias de baixa renda ainda podem comprar”, explica Braz. “Se eles ficam mais caros e superam a variação dos salários, o consumidor só pode reduzir a lista, o que leva a uma situação de insegurança alimentar no país”, adverte.
O economista destaca que o aumento da inflação acontece em um momento de desemprego ainda alto, o que torna mais grave a situação das classes mais baixas.