Prefeita em Mato Grosso renuncia para não administrar com Lula

Carmen Martines deixa a Prefeitura de Carlinda em 2 de janeiro por discordar de eleição de "presidente condenado"

Fonte: EDUARDO GOMES - DIÁRIO DE CUIABÁ

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“Não teria condições de administrar meu município sabendo que, na Presidência, está um homem condenado por improbidade administrativa e que chefiou o maior esquema de corrupção que se tem notícia no mundo”.

Com esse posicionamento, a prefeita de Carlinda (762 km ao Norte de Cuiabá), Carmen Martins (União) confirmou que renunciará ao cargo em 2 de janeiro de 2023, por não concordar com a eleição de Lula da Silva (PT) para presidente da República, em razão das condenações sofridas por ele.

“Não tenho nada contra o resultado das urnas; somente contra o eleito”, acrescentou, observando que, em caso de eventual condenação de Bolsonaro por crime do colarinho branco, ela deixará de segui-lo. “Pois não tenho político de estimação”, resume.

Carmen elaborou um roteiro para deixar a prefeitura.

Em novembro, assinou uma carta-renúncia, como se fosse um cheque pré-datado.

No dia 10 de dezembro, repassou o duodécimo de R$ 124 mil para a Câmara Municipal, engordado com R$ 18 mil, para viabilizar a compra de um carro para os vereadores.

No dia 20, quitou o décimo-terceiro salário do funcionalismo e fez reserva de caixa para pagar o mês de dezembro, no próximo dia 23.

A folha de pagamento da prefeitura gira em torno de R$ 1,2 milhão.

O município tem cerca de 470 servidores, dos quais, 270 efetivos.

A estimativa orçamentária para 2023 é de R$ 60 milhões, o que corresponderá a R$ 5 milhões mensais, sem computar receitas extraorçamentárias com convênios e outras fontes.

Eleita prefeita pela primeira vez em 2016, pelo Democratas, reelegeu-se em 2020 pelo mesmo partido, que se fundiu com o PSL, ganhando o nome de União Brasil.

Questionada se o fato de ser reeleita, com o segundo mandato na metade, não estaria por trás de sua decisão, o que poderia servir como bandeira para uma eventual disputa para deputada estadual, Carmen respondeu com um “não” seco.

E, em seguida, citou que, enquanto o Brasil foi governado por “um condenado”, ela jamais subirá em palanque.

“Com a serenidade que vou cumprir meu compromisso de renunciar, ficarei fora do processo eleitoral, pois sou mulher de palavra. E, nessa situação (com a posse de Lula), sinto até vergonha de ser brasileira”, comentou.

O ambiente na prefeitura de Carlinda é de despedida.

Carmen Martines conversou com os sete secretários municipais, pedindo que todos permanecessem em seus cargos, desde que o novo prefeito concorde, “pois eles conhecem a engrenagem da administração”.

O vice que a sucederá é o pastor da Assembleia de Deus Fernando de Oliveira Ribeiro (PSC), 58 anos, teólogo, administrador de empresas, residente no município desde 1988 e nascido em Londrina (PR).

Carmelinda Leal Martins Coelho, a Carmem, nasceu em Assis Chateaubriand (PR) e mudou-se com os pais para Alta Floresta (803 km ao Norte da Capiital), quando tinha um ano de idade.

Aos 10 anos, trocou Alta Floresta por Carlinda, distante 35 quilômetros, onde casou-se com o pecuarista Pedro, e juntos, naquela cidade, tiveram uma filha, Daniela, que é mãe de Pedro, de 8 anos.

Ao requerer o registro de candidatura junto ao Tribunal Regional Eleitoral, em 2020, Carmem declarou patrimônio de R$ 2,8 milhões.

Ao deixar a prefeitura, ela se dedicará ao agronegócio, com o marido.

Segundo ela, a renúncia a deixará aliviada, uma vez que seu perfil marcado pela franqueza não lhe permite fazer concessões.

“Como poderia assinar um convênio com Lula?” pergunta e responde: “Nunca”.

POLÍTICA – Até 2015, Carmen Martins nunca havia militado politicamente.

Porém, naquele ano, uma ponte que havia desabada e nunca restaurada pela prefeitura a empurrou para a política.

A prefeita explica que, durante alguns anos, a ponte de madeira sobre o córrego denominado Corgão permaneceu caída, sem que a prefeitura atendesse seus pedidos pela construção de outra.

Ela e o marido dependiam de cruzar o Corgão para irem a Carlinda.

Sem que houvesse solução, a alternativa foi tornar-se política e candidata a prefeita.

“Avisei meu marido e parti para a vitória”, narra, com emoção.

Carmem tomou posse em 1º de janeiro de 2017. Em 15 de março daquele ano, sua administração inaugurou a nova ponte com Corgão, com 22 metros,

“Ela somente não foi concluída antes, por conta da chuvarada”, justifica.

Segundo a prefeita, desde então, todas as pontes são mantidas em funcionamento.

CARLINDA – O município administrado por Carmem tem 10.094 habitantes e seu perfil econômico é rural.

Ex-distrito de Alta Floresta, Carlinda surgiu de assentamentos da reforma agrária e emancipou-se em 16 de outubro de 1994.

Situado na região Norte, tem ligação com a Capital á por rodovia pavimentada.

Seu nome reverencia a memória de Carlinda Lourenço Teles Pires, mulher do capitão Antônio Lourenço Teles Pires, que morreu num naufrágio no rio ao qual empresta o nome, quando tentava estabelecer uma rota fluvial entre Mato Grosso e Santarém, no Pará.

Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.