As eleições municipais de 2024 em Mato Grosso revelam um cenário diversificado entre os candidatos, destacando avanços e desafios na representatividade racial e de gênero, conforme análise de estatísticas eleitorais e opinião de especialistas
Perfil dos candidatos
O número de candidatos em Mato Grosso é expressivo, com 10.267 disputando o cargo de vereador e 366 concorrendo à prefeitura. Do total, 65% dos candidatos são homens (7.180) e 35% são mulheres (3.822), destacando um desequilíbrio de gênero que ainda persiste na política.Segundo o cientista político João Edisom, ao comparar os dados deste ano com os pleitos de anos anteriores, é possível observar pequenos avanços, mas também grandes desafios na política mato-grossense. “Esse crescimento tímido na participação feminina se deve ao fato de que a inclusão das mulheres na política é consequência das dinâmicas sociais.
Os homens possuem um histórico milenar de liderança e autogestão. Lembrando que, no Brasil, o voto feminino só foi permitido em 1934. A equiparação na política não ocorre de forma isolada, mas sim como um reflexo das transformações sociais. Por isso, é fundamental que mais mulheres ocupem cargos públicos, para acelerar o processo de equidade. A representatividade se dá pela identidade”, destacou Edisom.
Quanto ao estado civil, metade dos candidatos são casados (50%), enquanto 38% são solteiros. Há ainda 10% de divorciados/separados judicialmente e 2% de viúvos. A faixa etária predominante entre os candidatos está entre 45 e 49 anos, totalizando 1.845 pessoas, seguida de perto pela faixa dos 40 aos 44 anos, com 1.806 candidatos. De 50 a 54 anos, são 1.748. Os demais estão distribuídos em outras faixas etárias, sendo que 4 candidatos têm entre 85 e 89 anos e apenas 9 acabaram de atingir a maioridade, aos 18 anos.
Educação e raça
Em termos de escolaridade, 36,49% dos candidatos possuem ensino médio completo, seguidos por 33,11% que têm ensino superior completo. Contudo, uma parcela significativa (9,92%) possui apenas o ensino fundamental completo, enquanto outros candidatos apresentam graus variados de escolaridade, desde ensino médio e fundamental incompletos. 2,45% informaram apenas saber ler e escrever.
“A formação escolar é essencial. Isso não significa que a escolaridade, por si só, garante um representante de qualidade. Não defendo que o direito de se candidatar seja retirado por causa do nível de escolaridade, mas acredito que ao exercer o cargo, a pessoa deveria buscar essa formação. Não podemos depender apenas da experiência prática, sabendo que há um conjunto de conhecimentos necessários que precisam ser dominados. Não se deve cercear a liberdade, mas exigir o esforço para adquirir o conhecimento necessário para criar leis melhores e melhorar a sociedade“, destacou Edisom, reforçando que a escolaridade e a experiência política dos candidatos impactam diretamente na qualidade das propostas e na capacidade de implementação das políticas públicas.
A diversidade racial também se faz presente: 52,61% dos candidatos se declararam pardos, 33,53% brancos e 11,19% pretos.Apenas 1,15% dos candidatos se identificaram como indígenas, representando 126 pessoas, e 1% se declarou quilombola, totalizando 87 candidatos.
Há ainda candidatos que se declararam amarelos (0,73%) e 0,8% que optaram por não informar.
“Quando falamos sobre diversidade, precisamos abordar também a questão racial em uma sociedade que viveu sob a condição de escravatura. A representatividade se dá pela identidade e pela defesa. Quando colocamos uma pessoa branca para defender a negritude, ela não consegue ter o mesmo sentimento ou conexão entre o que é, o que sente e o que deseja ser. A diversidade na ocupação dos cargos públicos é necessária para que a representatividade tenha legitimidade”, pontuou João Edisom.
Para a presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, desembargadora Maria Aparecida Ribeiro, os dados evidenciam a complexidade e a diversidade do cenário eleitoral em Mato Grosso.“À medida que as eleições se aproximam, fica cada vez mais claro que, embora haja uma variedade de perfis entre os candidatos, a luta por uma representatividade mais ampla e equitativa ainda é necessária. A participação de todos os segmentos da sociedade nas eleições é fundamental para garantir que as políticas públicas reflitam de fato as necessidades e os interesses de toda a população. A Justiça Eleitoral de Mato Grosso tem empreendido diversas campanhas de incentivo à participação política de todos os segmentos da sociedade”, destacou a desembargadora.