A inadimplência é um desafio econômico significativo em muitos países, incluindo o Brasil. Com uma economia diversificada e em constante evolução, o país enfrenta questões complexas relacionadas à inadimplência, cujas implicações podem ser profundas tanto para as finanças individuais quanto para a saúde econômica geral da sociedade. O Mapa da Inadimplência no Brasil, desenvolvido pelo Serasa, oferece insights valiosos sobre a situação da inadimplência em todo o país.
De acordo com os dados do Mapa, o Brasil tem atualmente 71,45 milhões de inadimplentes, com o valor das dívidas chegando a R$ 262,80 bilhões. O número é referente ao mês de junho de 2023. Apesar de ser 0,63% inferior ao número de maio, este índice segue muito acima do observado no início do ano. Em Janeiro, o Mapa apontava 70,09 milhões de inadimplentes no país, quase 2% a menos do que atualmente.
No mercado de crédito privado para empresas, em especial baseado em antecipação de recebíveis, o cenário não é diferente. Dados da Liberum Ratings, importante agência de rating de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), apontam que a inadimplência no setor, medida pelos títulos vencidos há mais de 90 dias, saltou de 4,26% em janeiro para 5,48% em maio deste ano, o maior índice desde 2020, quando a inadimplência explodiu devido à crise do COVID-19. Em Junho, observa-se pequena queda para 5,37%, porém ainda em patamar muito superior ao observado ao longo de 2022 e no primeiro trimestre deste ano.
A correlação entre a taxa de juros e a inadimplência no Brasil é evidente. A taxa Selic, que atualmente é de 13,25%, torna as dívidas ainda mais onerosas e afeta consideravelmente a capacidade de quitação de quem está devendo. Em agosto de 2023 o COPOM iniciou o ciclo de redução da SELIC, que deve impactar positivamente a inadimplência, porém estes efeitos devem ser sentidos de forma significativa apenas no médio prazo. Diante deste cenário, uma das questões que surge é: como os fornecedores de crédito podem evitar – ou reduzir – a inadimplência?
A resposta passa por dois pilares intimamente relacionados: dados e tecnologia, aplicados de forma diligente em todas as etapas do ciclo de crédito.
Na concessão, por exemplo, a simples consulta a um bureau de crédito não é suficiente, sendo necessário a combinação destes dados com informações históricas do relacionamento com aquele cliente, bem como sua adequação aos filtros de negociação pré-definidos. O objetivo do processo deve ser garantir que os comitês de crédito tenham acesso a análises embasadas para que possam tomar suas decisões com segurança, adequando o apetite a risco e o tino comercial da empresa a cada negociação.
Após a concessão do crédito, o acompanhamento das garantias e do lastro das operações – através do monitoramento dos eventos referentes à Nota Fiscal antecipada, por exemplo – garante ações tempestivas caso algo fuja do esperado. Uma destas ações, por exemplo, pode ser o cancelamento imediato do limite daquele cliente, evitando assim que a inadimplência suba com operações adicionais.
Finalizando o ciclo, a cobrança é outra etapa que se beneficia fortemente do uso combinado de dados e tecnologia – desde réguas de cobrança automatizadas, já amplamente utilizadas, até análises preditivas que indicam o melhor momento para tentar recuperar um cliente inadimplente. Em casos de judicialização, também é fundamental ter, de forma estruturada, todos os dados relativos àquela operação, como assinaturas e notificações, garantindo assim a irrefutabilidade da cobrança.
A inadimplência no Brasil ainda é um desafio complexo, influenciado por fatores que também vão além das taxas de juros, como condições econômicas e políticas públicas. Contudo, é certo que os fornecedores de crédito que melhor aliarem tecnologia e dados terão uma grande vantagem competitiva, sendo capazes de criar estratégias para reduzir e prevenir a inadimplência.