O câncer de esôfago é no Brasil o sexto mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres, e o oitavo tipo de câncer mais frequente no mundo segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A estimativa anual de casos é de 8.690 em homens e 2.700 em mulheres. Há basicamente dois tipos de câncer do esôfago que se diferenciam em sua origem e também no tratamento. O tipo mais comum é o carcinoma epidermóide, cuja causa mais frequente está associada ao consumo de tabaco e álcool. O segundo tipo mais frequente é o adenocacinoma, que ocorre especialmente na parte final do esôfago e na maioria das vezes está correlacionada com a esofagite crônica provocada pelo refluxo do estômago para o esôfago, associada a fatores como a obesidade, sedentarismo, dieta e tabagismo.
As diferenças na incidência dos dois tipos de câncer do esôfago ao redor do mundo, ilustram de uma maneira clara a relação da influência dos fatores alimentares, hábitos de vida e até de fatores socioeconômicos, sobre o câncer. Em países desenvolvidos e mais ricos, como os da América do Norte e alguns da Europa, onde é exagerado o consumo de carnes, onde o índice de sedentarismo e obesidade cresce assustadoramente, tem-se observado um crescimento acentuado do tipo adenocarcinoma. Já o carcinoma epidermóide é muito mais frequente nas populações com menores índices de desenvolvimento socioeconômico, onde é menor o consumo de proteína animal, com maior consumo de destilados alcoólicos e fumo. Mesmo dentro dos países ricos, como os Estados Unidos, nas populações menos privilegiadas socioeconomicamente, o tipo carcinoma epidermóide é o mais comum.
Qualquer tipo de irritação crônica durante muitos anos do esôfago, provocada por diversos fatores como o tabagismo, consumo excessivo de bebida alcoólica, consumo frequente de bebidas em elevada temperatura como chimarrão, infecção por determinados tipos de vírus como o HPV e refluxo gastroesofágico, pode estar associada ao câncer do esôfago. O refluxo gastroesofágico se desenvolve quando o conteúdo ácido do estômago retorna em direção ao esôfago, provocando inflamação nesse órgão. O oncologista da Oncomed-MT, Eduardo Dicke, explica que a acidez do refluxo gastroesofágico provoca inflamação na parte inferior do esôfago, causando as famosas azia e queimação. Assim, sintomas comuns como esses, precisam ser investigados quando duradouros e/ou intensos.
A obesidade também está associada ao risco aumentado de câncer de esôfago, pois facilita a ocorrência de refluxo gastroesofágico por um conjunto de razões mecânicas, como a elevação da pressão interna do estômago, além de níveis aumentados de hormônios e de mediadores inflamatórios que exercem efeitos facilitadores para a proliferação celular que pode originar tumores. O médico observa que, em fases iniciais, a doença pode não apresentar sintomas, e com a progressão da doença eles podem aparecer. “O principal sintoma em fase avançada é a dificuldade para engolir (“entalamento”), porém outros sintomas como a dor ou queimação na garganta ou no peito, náusea, vômitos, perda de apetite ou de peso, azia e queimação com frequência podem existir. Tosse ou rouquidão prolongados podem ser sintomas presentes. Se eles persistirem por vários dias é importante uma avaliação médica.” O exame que confirma o diagnóstico de câncer de esôfago é a endoscopia com biópsia, quando é retirada uma amostra de tecido que é enviada para análise pelo médico patologista.
Tratamento – O tratamento do câncer de esôfago envolve uma abordagem multidisciplinar. É importante que desde o início o acompanhamento seja feito por cirurgiões especializados em operar câncer e em cirurgias de alta complexidade, e que o paciente também seja assistido pelo oncologista clínico e pelo radio-oncologista. A análise pormenorizada do caso de cada paciente permitirá à luz da melhor evidência científica disponível traçar o planejamento terapêutico com a adequada sequencia dos tratamentos visando às melhores possíveis taxas de sucesso e controle da doença. O acompanhamento adicional de nutricionista, enfermagem e psicologia são fundamentais para proporcionar um tratamento com maior possiblidade de sucesso, confortável e humanizado, refletindo em uma melhora da qualidade de vida.
O tratamento mais frequentemente utilizado, associa a radioterapia e a quimioterapia, seguidos de cirurgia, principalmente quando o tumor for mais avançado e já houver risco de disseminação para outros órgãos. Estes tratamentos que complementam e potencializam a cirurgia, também tiveram grandes avanços, como o tratamento com radioterapia com feixe de intensidade modulada, que consegue combinar maior efetividade com menos efeitos adversos do tratamento.
A quimioterapia também evoluiu, além da possibilidade da “terapia alvo” com medicações de nova geração como a imunoterapia que podem em determinados casos trazer um resultado superior. Testes moleculares, os biomarcadores estão disponíveis em alguns tumores e orientam a escolha de tratamentos, um recurso que permite identificar o câncer de forma individual, o subtipo do tumor que acomete o paciente, tornando o tratamento mais preciso e mais eficaz.
Prevenção – Além de não fumar e beber em excesso, manter hábitos saudáveis, identificar sintomas e manter acompanhamento médico para a doença do refluxo gastresofágico, são medidas que podem auxiliar na prevenção do câncer de esôfago. “É importante evitar bebidas alcoólicas, consumir bebidas quentes como chimarrão, chá e café sempre em temperaturas inferiores a 60 °C, manter o peso corporal adequado e utilizar preservativo durante relação sexual são medidas recomendadas para prevenção de câncer de esôfago”.
A prevenção do câncer de esôfago está diretamente correlacionada com os bons hábitos de vida. Os sintomas de alerta e azia persistentes devem ser avaliados pelo médico. Os profissionais da área da saúde em Oncologia se dedicam a proporcionar um tratamento digno, responsável e humanizado, refletindo em uma melhora da qualidade de vida e possibilidade de cura. As chances de cura aumentam muito, quando o diagnóstico é realizado precocemente.