A pecuária sempre foi uma paixão de família, que veio do meu pai, que era pecuarista, passou para mim e agora já estamos na terceira geração dedicada a esta importante atividade. Acabei de completar 72 anos e tendo consciência da importância da continuidade do meu legado, iniciei a sucessão familiar já há alguns anos.
Afinal, quanto dinheiro a pecuária dá? Como modernizar o negócio e agregar maior rentabilidade em um sistema de produção sustentável? Ainda hoje, um dos principais desafios para o setor agropecuário é fazer uma gestão eficiente da propriedade e, paralelamente, o processo de sucessão do negócio.
Eu venho fazendo ambos com apoio de uma equipe técnica especializada. É importante destacar a importância de trabalhar a partir de números, pois tenho muito mais confiança para investir e negociar com fornecedores, por exemplo. Tenho dois filhos que sempre me ajudaram, mas há três anos decidi abrir mão de ter total controle para trabalhar em parceria com eles.
Repassei as fazendas para os herdeiros que precisam agregar um crescimento de 30% ao ano. Aliás, nosso acordo (e desafio) era que “se o negócio crescesse, eles também cresceriam”, estimulando assim que eles tivessem cabeça de empresário, o que é fundamental para que o negócio seja promissor em qualquer área.
Com o sucesso dos filhos, eu me sinto mais tranquilo de que conseguirão oferecer suporte à mãe deles em uma possível ausência minha. É importante destacar que, nesses anos todos, já comprei inúmeras fazendas de viúvas que não tiveram essa opção, já que os herdeiros não estavam preparados ou não queriam assumir o negócio.
Embora delicado, esse tema é de extrema importância. Preparar os filhos e os netos para assumirem o negócio da família é uma demanda para toda a agropecuária, pois visa manter a segurança alimentar da população brasileira, quiçá do mundo. Sem isso, a atividade no campo e a economia do país podem não ter a continuidade que precisam.
Uma curiosidade é que “sucessão e sucesso” são palavras que vêm do mesmo radical e devem entrar na pauta dos produtores de Mato Grosso para garantir a longevidade da atividade. Isso pode começar na infância, compartilhando momentos do nosso dia a dia e a nossa paixão pela pecuária e pelo campo.
A relação de amor pela propriedade deve ser construída com os herdeiros, para que possam se tornar sucessores “de sucesso”. Outra coisa importante é a modernização. Os mais jovens vão querer estar em uma fazendo com “conexão”, isso inclui internet e maquinários que usem as melhores tecnologias.
Sempre respeitei muito o trabalho do meu pai, mas nas minhas fazendas busquei o que havia de mais moderno para testar e obter máximo desempenho. Não adianta continuar querendo fazer “como o avô fazia” se aquilo não faz mais sentido e não agrega ao negócio, ou seja, o pecuarista precisa sair do “achismo” para ter informações e ferramentas eficientes para auxiliar na atividade.
Olhando para trás, a fazenda é uma empresa rural que criou várias gerações e a tendência é criar novas gerações, desde que saibamos aproveitar as novas oportunidades.
Mato Grosso possui o maior rebanho do país, com mais de 32 milhões de cabeças, além de ser um celeiro mundial na produção de alimentos. É inegável a nossa importância para a economia do país e isso nos traz uma imensa responsabilidade com a continuidade da atividade, que precisa realmente passar “de pai para filho”. Feliz Dia dos Pais a todos, especialmente aos apaixonados pelo agro!
Aldo Rezende Telles, pecuarista e presidente da Associação dos Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT), mtnelore@gmail.com_