o oceano que existe em nós

Fonte: enrico pierro

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Em um momento de contemplação à beira-mar, uma reflexão
sobre como nossas emoções, ansiedades e alegrias nos conectam a algo
maior e nos afastam da ideia de estarmos sozinhos no mundo.

Reflexões sobre a vida, a solidão e a interconexão humana.
o oceano que existe em nós.
fiquei parado admirando as ondas e como o mar chegava até os meus
pés. engraçado, pensei. às vezes ele chegava bem devagar, quase com medo
de me tocar. às vezes vinha com pressa, quase nervoso, prestes a me arrastar.
precisava até fincar os dedos na areia para me firmar. será que eu sou como o
mar? que tem medo de avançar algumas vezes e em outras me atiro com a
pressa e a ansiedade de quem precisa ir logo?
a água era tão cristalina que eu podia ver minúsculas partículas de areia
misturadas à água. elas vinham agitadas. não sei se haviam sido arrastadas ou
se estavam felizes de terem vindo. resolvi me agachar e olhar mais de perto.
havia tanto ali. percebi (ou me lembrei?) que o mar é feito de milhares, milhões
de “coisas” misturadas, formando algo imenso, quase infinito. entre tantos
mares e oceanos, será que somos um oceano? milhões de coisas minúsculas
entre células e pensamentos? entre tormentos e ansiedades, e amores e
tristezas e alegrias e mágoas, formando isso tudo, o que se vê e o que não se
vê?
lembrei de como sou pequeno, frente ao universo, como um grão
daquela areia na imensidão da praia do universo. e, ao mesmo tempo como eu
estou interligado a tudo. exatamente como a praia ou um oceano. um grão, por
mais distante do outro, está sempre ligado de alguma forma, assim como todos
nós. vivendo nesse planeta, como se fôssemos realmente como uma praia
gigante, um oceano infinito. mas parece que não nos damos mais conta disso
tudo. esquecemos do oceano, da praia, da areia. passamos a viver em ilhas
solitárias achando que somos apenas conchas, fechados em si. isolados em
problemas e paranoias que, para nós, são únicos. só o nosso sofrimento, só os
nossos problemas são reais e importam. só nós sofremos como mais ninguém.
está na hora de molharmos nossos pés no mar e olharmos a areia para
nos lembrar, de verdade, que nunca fomos ilhas, sempre fomos oceanos.
enrico pierro

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