A FS, uma das maiores produtoras de etanol e nutrição animal do Brasil, acaba de concluir estudos técnicos que comprovam condições geológicas adequadas para injetar no subsolo o dióxido de carbono (CO2) emitido na fase de fermentação da produção do biocombustível. Com isso, a empresa pode se tornar a primeira produtora de etanol com pegada negativa em carbono do mundo e a primeira a desenvolver a tecnologia BECCS (sigla em inglês para produção de bioenergia com captura e armazenamento de carbono) na produção de etanol, fora dos Estados Unidos.
A adoção da tecnologia vai evitar o lançamento na atmosfera de aproximadamente 423 mil toneladas de CO2 por ano pela operação da indústria em Lucas do Rio Verde (MT). Posteriormente, a solução poderá ser implantada em quase todas as unidades industriais da companhia, atingindo um potencial de remoção de CO2 da atmosfera de mais de 1,8 milhão de toneladas de carbono por ano.
A tecnologia é uma solução inovadora para capturar o dióxido de carbono, um dos principais causadores do efeito estufa, e injetá-lo no subsolo em camadas geológicas profundas, onde ele vai ficar armazenado em segurança por milhares de anos, sem contribuir para o aquecimento global. No caso da produção do etanol de milho, essa produção de CO2 vem da fermentação do milho, o que torna esse CO2 limpo, ou seja, com zero emissão. Ao retirá-lo da atmosfera e injetá-lo no subsolo, o torna negativo em emissão. A FS iniciou os estudos geológicos para estocagem de carbono em 2021, inspirado por projetos similares que operam nos Estados Unidos. Em outubro de 2023, foi perfurado um poço estratigráfico com aproximadamente 2 mil metros de profundidade para examinar as formações rochosas da área abaixo da indústria de etanol, em Lucas do Rio Verde. A conclusão dos estudos é que a formação rochosa Diamantino, localizada na Bacia dos Parecis, em Mato Grosso, tem condições adequadas de porosidade e permeabilidade para receber o CO2 a ser injetado a uma profundidade superior a 800 metros e mantê-lo estocado com segurança, abaixo de uma camada de rochas selantes, com espessura de 128 metros (o equivalente a um prédio de 40 andares), capaz de evitar que o CO2 retorne à superfície.
Existem no mundo apenas duas produtoras de etanol com tecnologia BECCS em operação, ambas nos Estados Unidos. A indústria mato-grossense, porém, será a primeira negativa em carbono, pois utiliza apenas milho de 2ª safra como matéria-prima e biomassa renovável de florestas plantadas como fonte de energia, enquanto as americanas utilizam energia de origem fóssil no processo produtivo, além de milho de safra única.
“O resultado do estudo técnico é um marco essencial para incentivar os próximos passos necessários para destravar investimentos do setor de etanol na tecnologia BECCS. Agora precisamos do avanço da regulamentação e dos mercados de comercialização do carbono”, afirma o CEO da FS, Rafael Abud. “Além da utilização em automóveis, o etanol produzido com a tecnologia pode ser usado para produzir combustível sustentável de aviação (SAF) e navegação, tornando o etanol brasileiro, cada vez mais, um dos maiores contribuidores para a transição energética do mundo”, completa.
Assim que o legislativo aprovar a regulamentação da atividade – incluída no projeto de lei do programa Combustível do Futuro –, a FS vai investir adicionais R$ 350 milhões na implantação dos equipamentos para capturar, desidratar, comprimir e injetar CO2 no subsolo. As obras podem começar ainda este ano, com término previsto no final de 2025. Serão gerados cerca de 230 empregos diretos durante a perfuração dos poços, construção e montagem dos equipamentos de compressão e desidratação do CO2. Recentemente, o projeto contou com o apoio da FINEP, agência pública de fomento à inovação, que atua com foco em ações estratégicas, estruturantes e de impacto para o desenvolvimento sustentável do Brasil.
Segundo o vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS, Daniel Lopes, “Esse é um passo crucial para atingirmos a visão da FS, que é de ser o maior produtor de combustível carbono negativo do mundo. Agora dedicaremos esforços na monetização deste projeto através da venda de créditos de carbono, bem como aguardaremos a aprovação do marco legal pelo Senado”, comenta.
De acordo com Rafael Abud, a adoção em larga escala do modelo BECCS pelo setor de etanol, poderá reduzir as emissões de carbono na atmosfera em cerca de 77 milhões de toneladas de por ano, equivalentes a quase 39% das emissões do setor de transporte rodoviário, de acordo com as estimativas mais recentes.
BECCS é, segundo a Organização das Nações Unidas, uma das recomendações tecnológicas para enfrentar a crise climática. E o seu uso pode aumentar ainda mais a contribuição da indústria brasileira de etanol na luta contra o aquecimento do planeta. Isso porque um veículo rodando com etanol produzido numa indústria com tecnologia BECCS ajuda a remover do ar o CO2 que seria lançado na atmosfera.