A computação quântica, há muito aguardada mas ainda não concretizada, finalmente começa a se tornar realidade. Diferentemente da peça de Samuel Beckett “Esperando Godot”, onde o misterioso Godot nunca chega, a computação quântica está deixando de ser uma promessa para se tornar palpável.
Potências globais, lideradas pela China, investiram mais de US$ 55 bilhões nessa tecnologia promissora. Espera-se que a computação quântica traga ganhos de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão para as empresas nos próximos quinze anos. O mercado quântico já deve movimentar mais de US$ 1 bilhão este ano, mesmo com computadores quânticos ainda pouco usuais.
A Europa está investindo pesado: a Alemanha lançou um plano de investimento de mais de US$ 3 bilhões até 2026 e a França anunciou um investimento de quase US$ 2 bilhões, com o objetivo de formar 5.000 engenheiros especializados em computação quântica e criar 30.000 empregos. Nos Estados Unidos, a Lei da Iniciativa Nacional Quântica autorizou US$ 1,2 bilhão em financiamento ao longo de cinco anos para pesquisa e desenvolvimento de computação quântica.
O que são computadores quânticos?
Imagine computadores potencialmente bilhões de vezes mais rápidos que os convencionais para resolver determinados problemas complexos. Computadores clássicos, como o dispositivo que você provavelmente está usando para ler este artigo, usam bits binários para armazenar e processar informações como sequências de zeros e uns.
Já os computadores quânticos utilizam bits quânticos, ou qubits, que podem existir em uma sobreposição de estados, possibilitando um número exponencial de combinações simultâneas de zeros e uns. É como se o computador explorasse todas as possibilidades ao mesmo tempo.
Essa sobreposição pode ser medida, permitindo que computadores quânticos realizem cálculos complexos a uma velocidade exponencial. Supercondutividade, átomos neutros, íons aprisionados e fotônica são algumas tecnologias usadas para viabilizar o funcionamento dos qubits.
Aplicações na indústria
A chamada “supremacia quântica”, onde um computador quântico supera um computador convencional, ainda só foi demonstrada em algoritmos sem aplicações verdadeiramente úteis. Porém, o progresso é constante e muitos acreditam que os computadores quânticos serão uma realidade prática dentro de poucos anos.
A IBM, líder em hardware de computação quântica, prevê que seus computadores superarão os clássicos em tarefas específicas até 2027. A supremacia quântica deve se materializar primeiro para problemas “nativos” da computação quântica, que se adequam particularmente bem à modelagem quântica. Esses problemas se enquadram em quatro categorias:
- Modelagem de reações físico-químicas para descoberta de novos materiais, proteínas e medicamentos.
- Otimização de sistemas complexos para melhorar o gerenciamento de fluxo ou o projeto e engenharia de sistemas complexos.
- Geração de dados sintéticos para treinar modelos de Inteligência Artificial.
- Criptografia.
Empresas devem se preparar
É crucial que as empresas comecem a se preparar para a computação quântica. Leva tempo para construir uma equipe que saiba usar essa tecnologia emergente, e o futuro pertencerá àqueles que puderem aproveitar seu poder desde o início.
Bancos, fundos de hedge e fabricantes de automóveis já estão recrutando equipes especializadas em computação quântica. Elas estão construindo algoritmos codificados em qubits para aplicações estratégicas e formando parcerias com fabricantes de computadores quânticos e centros de pesquisa acadêmica.
O primeiro desafio será a segurança cibernética: com a supremacia quântica, muitos dispositivos de segurança se tornarão obsoletos. As empresas devem começar a migrar para tecnologias de criptografia resistentes à computação quântica.
Além disso, a computação quântica tem o potencial de ajudar a humanidade a resolver alguns de seus maiores problemas, como mitigar as mudanças climáticas, acelerar a descoberta de novos medicamentos e otimizar a logística e o gerenciamento da cadeia de suprimentos.