Um projeto no Recife tem usado a robótica como ferramenta de reintegração para adolescentes privados de liberdade, combinando tecnologia, educação e práticas restaurativas. A iniciativa é conduzida pelo pesquisador Daniel Messias, que adota a filosofia sawabona-shikoba como base para estimular uma visão positiva sobre identidade, valores e potencial dos participantes.
Messias conduz a pesquisa no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, onde jovens egressos e internos do sistema socioeducativo constroem robôs e aprendem noções de pensamento computacional. A primeira turma formou 18 adolescentes, enquanto a segunda reúne jovens que ainda cumprem medidas.
O trabalho também envolve o professor Henrique Foresti, idealizador da metodologia Roboliv.re, voltada à democratização da tecnologia. Segundo ele, muitos participantes chegam acreditando não ter lugar na sociedade, mas descobrem novas possibilidades ao entrar em contato com ferramentas digitais.
Dados do Conselho Nacional de Justiça mostram que 11 mil adolescentes cumpriam medidas socioeducativas em 2024, a maioria meninos pretos ou pardos. A pesquisa revela que, além de reinserção, esses jovens apresentam capacidades que podem contribuir em diferentes áreas.
Messias destaca que experiências de vulnerabilidade geram um olhar criativo e crítico, muitas vezes distinto de outros cenários sociais. A equipe agora estuda caminhos para aproximar formação e geração de renda e avalia a criação de uma startup que atue junto às unidades socioeducativas.
O pesquisador lembra que a ausência de apoio após a saída do sistema dificulta a continuidade dos estudos e do trabalho, enquanto facções criminosas oferecem suporte imediato. Esse contexto contribui para a reincidência e reforça a necessidade de políticas públicas eficientes.
O sistema socioeducativo, afirma Messias, acaba funcionando como porta de entrada para o cárcere. No primeiro semestre de 2025, o Brasil registrava quase 942 mil pessoas presas, um dos maiores contingentes carcerários do mundo.
A pesquisa também vai incluir testes vocacionais e mapeamento de habilidades, aproveitando a localização do projeto na região do Porto Digital, que reúne centenas de empresas de tecnologia.
O caminho, no entanto, exigiu superar preconceitos. Messias relembra a desconfiança inicial ao receber os jovens no centro de pesquisa e afirma que o objetivo sempre foi mostrar que eles também fazem parte do ecossistema de inovação.
Nascido no Coque, área de baixo Índice de Desenvolvimento Humano no Recife, o pesquisador cumpriu medidas socioeducativas na adolescência. Hoje, aos 26 anos, ele prefere olhar para o presente e reforçar a filosofia que orienta seu trabalho: não ser definido pelo passado.






















