Movimento estranho reacende teorias conspiratórias, mas explicação científica é bem conhecida na astronomia
Publicado em 17/12/2025
O cometa interestelar 3I/ATLAS voltou a chamar a atenção da comunidade científica — e também de entusiastas de teorias conspiratórias — por apresentar um movimento considerado incomum enquanto atravessa o Sistema Solar. Nas redes sociais, surgiram especulações que atribuem o comportamento a uma suposta origem extraterrestre. No entanto, segundo pesquisadores, a explicação é muito menos fantasiosa e bastante conhecida pela ciência.
O fenômeno observado é chamado de aceleração não gravitacional. Apesar do nome soar misterioso, trata-se de um comportamento comum em cometas e não indica, em hipótese alguma, que o objeto seja uma nave alienígena ou tecnologia desconhecida.
O que é a chamada aceleração não gravitacional?
De acordo com um estudo publicado no periódico científico Research Notes of the American Astronomical Society, a aceleração não gravitacional ocorre quando um cometa tem sua trajetória levemente alterada por forças que não estão ligadas diretamente à gravidade de planetas ou do Sol.
Os cometas são formados por uma mistura frágil e irregular de rocha, poeira e gases congelados. À medida que se aproximam do Sol, esses gases aquecem e passam diretamente do estado sólido para o gasoso — um processo chamado sublimação.
Esse processo gera a famosa cauda dos cometas, mas também provoca algo menos visível: jatos irregulares de gás sendo expelidos da superfície do núcleo.
Jatos de gás funcionam como pequenos “empurrões”
A sublimação não ocorre de forma uniforme. Algumas áreas do cometa liberam mais gás do que outras, criando jatos que saem em diferentes direções e intensidades. Esses jatos funcionam como pequenos empurrões, alterando levemente a velocidade e a trajetória do objeto ao longo do tempo.
Segundo os cientistas, esse efeito é comparável a tentar prever o movimento de uma batata irregular girando no espaço, e não de uma esfera perfeitamente simétrica. O resultado é um deslocamento instável, porém perfeitamente natural.
É justamente esse conjunto de forças internas — e não a ação de motores ocultos — que explica o comportamento observado no 3I/ATLAS.
Qual é a intensidade dessa aceleração?
Medições feitas por telescópios e observatórios ao redor do mundo indicam que o 3I/ATLAS está sofrendo uma aceleração de aproximadamente 0,5 micrômetro por segundo ao quadrado.
Em termos astronômicos, trata-se de um valor extremamente pequeno, praticamente insignificante quando comparado a qualquer tipo de propulsão artificial. Esse dado reforça que o fenômeno está totalmente dentro do esperado para um cometa ativo.
Tamanho e massa do 3I/ATLAS surpreendem
Ao modelar matematicamente essa aceleração não gravitacional, os cientistas conseguiram refinar as estimativas sobre o tamanho do cometa. Os cálculos indicam que o 3I/ATLAS possuía, antes de se aproximar do Sol, uma massa aproximada de 44 milhões de toneladas.
Isso equivale, em termos de volume, a cerca de sete Grandes Pirâmides de Gizé. O núcleo do cometa teria aproximadamente 375 metros de diâmetro, o que o torna menor do que se imaginava inicialmente — ainda gigantesco, mas longe de algo extraordinário para padrões astronômicos.
Por que teorias conspiratórias surgem?
Cometas interestelares são raros e naturalmente despertam curiosidade. O fato de o 3I/ATLAS ter se originado fora do Sistema Solar, somado ao seu movimento aparentemente irregular, cria terreno fértil para interpretações exageradas.
No entanto, especialistas reforçam que não há qualquer evidência científica de que o cometa tenha origem artificial ou esteja ligado a inteligência extraterrestre.
“A ciência já conhece esse tipo de aceleração há décadas. Ela é observada em vários cometas e faz parte da física básica desses objetos”, explicam os pesquisadores.
O comportamento incomum do cometa interestelar 3I/ATLAS não representa ameaça à Terra nem indica algo fora do conhecido pela ciência. A chamada aceleração não gravitacional é resultado direto da liberação irregular de gases à medida que o cometa se aquece ao se aproximar do Sol.
Embora menos cinematográfica do que teorias sobre naves alienígenas disfarçadas, a explicação científica continua sendo fascinante e ajuda a ampliar o conhecimento sobre objetos vindos de outras regiões da galáxia.
Fonte: Research Notes of the American Astronomical Society.






















