O Facebook já não é tão influente quanto já foi no Brasil. Mas ainda está muito distante de se tornar uma relíquia: a rede social, que foi a primeira a atingir 1 bilhão de usuários no mundo, hoje conta com 3 bilhões – e 111,3 milhões deles estão no Brasil.
Com tanta gente ainda ativa nessa plataforma, é inevitável que haja vantagens e desvantagens. Um dos principais aspectos negativos é a rede ter se tornado um solo fértil para golpistas e criminosos. Afinal, qual lugar pode ser mais favorável à fraude digital do que um ambiente em que é possível conhecer mais do cotidiano de uma pessoa e quase todo seu entorno de família e amigos?
Embora seja possível se comportar de maneira mais reservada e preservar a privacidade, é comum conhecer alguém que já teve o Facebook hackeado ou caiu em algum golpe. Contra esses riscos, a melhor arma é o conhecimento. Veja a seguir quais são alguns dos golpes e fraudes mais disseminados para o Facebook e aprenda a evitá-los.
1. Golpe do Pix
Apesar da versatilidade e praticidade do sistema de transações Pix, ele permite transações rápidas sem uma avaliação criteriosa do banco. Esse aspecto do serviço tem sido explorado por bandidos dos mundos virtual e real das maneiras mais criativas possíveis.
No Facebook, as fraudes costumam acontecer por meio de anúncios pagos e impulsionados por golpistas. Esses anúncios geralmente propagandeiam algum artigo de consumo em promoção. Manifestando interesse, o comprador entra em contato com o “vendedor”, que o persuade a pagar pelo produto por meio do Pix. Logicamente, a vítima é deixada para trás assim que o valor combinado cai na conta do criminoso.
Para esse tipo de transação, é recomendável estabelecer algum tipo de confiança real antes de depositar qualquer valor. Negociar pelo WhatsApp ou mesmo pelo Facebook sem ver o produto na vida real ou ter alguma garantia de segurança é bastante arriscado. Se for impossível estabelecer esse tipo de confiança ou contato real, é preferível usar uma plataforma de comércio como Magazine Luiza, Mercado Livre e ambientes similares que dispõem de mecanismos de segurança e garantias contra golpes.
2. Golpe da caridade
As chuvas apocalípticas que causaram uma tragédia sem proporções no estado do Rio Grande do Sul neste ano causaram uma grande comoção no país. Com um fluxo enorme de doações de dinheiro e bens de consumo, criminosos não apenas mantiveram-se alertas, mas também agiram para desviar para si itens e valores.
Para isso, muitos deles usaram o Facebook. Páginas como “Lajeado Notícias” e “SOS Rio Grande do Sul” foram criadas para arrecadar dinheiro, mas não destiná-lo às vítimas da tragédia. Assim como o golpe do Pix, a ferramenta de anúncios da plataforma foi abusada de maneira indevida, promovendo campanhas imitando sites legítimos e usando a imagem de celebridades para arrecadar fundos.
O problema foi tão grave que o Ministério da Justiça teve que entrar com uma medida cautelar contra o Facebook, reclamando a moderação do conteúdo falso e preservando os dados e registros de todas as fraudes.
Para evitar esse tipo de problema, doadores poderiam se direcionar somente a plataformas dedicadas à arrecadação de fundos, como Vakinha e outros serviços do tipo. Ao decidir contribuir com um perfil ou página do Facebook, somente fotos não são o suficiente: uma pesquisa básica sobre quem está por trás do perfil, quantas pessoas e quem o segue é um ponto de partida. Além disso, é prudente desconfiar de meios de pagamento atípicos, como criptomoedas ou o pedido de contribuição exclusivamente via Pix.
3. Falsos brindes
Embora ninguém pareça capaz de cair num golpe de brindes ofertados gratuitamente por estranhos na internet em 2024, este caso é o típico “óbvio que precisa ser dito”.
Todo mundo sabe que não existe almoço grátis, mas criminosos podem ser criativos. Hoje em dia, golpes de brindes podem se travestir de parcerias virtuais, em que basta fornecer dados pessoais ou de contato para ganhar acesso a algum serviço ou produto.
A economia de favores e influenciadores estimula esse tipo de comportamento. O disfarce no Facebook pode vir na forma da página de um negócio familiar ou de pequeno porte, uma grande empresa ou até mesmo uma loteria.
Na lógica do golpe, a vítima deve informar um dado pessoal para reivindicar o prêmio ou a vantagem. O problema é que a informação exigida é o tipo de coisa que não se conta a ninguém, como o número do cartão de crédito ou dados bancários sensíveis.
Esse é o tipo de golpe que costuma ser facilmente identificável. Mas, se não for, o pedido desse tipo de dado deveria ser suficiente para disparar um alarme.
4. Golpe do Facebook Messenger: contato
O serviço de mensagens do Facebook é um canal óbvio para aplicar golpes. Do ponto de vista de um criminoso, nada pode ser melhor do que captar a atenção da vítima sem intermediários, podendo ser respondido a partir de um computador ou celular, em qualquer lugar.
Porém, a abordagem naturalmente deverá ser mais incisiva e, por isso, demanda maior cautela do meliante. Assim, o golpe pelo Facebook Messenger mais comum provavelmente é aquele em que um golpista se faz passar por um conhecido do interlocutor.
Ele poderá usar uma imagem roubada de um conhecido de longa data, de um familiar ou colega de trabalho para conquistar essa confiança. Outra alternativa será imitar uma pessoa que simplesmente não tem relação nenhuma com a vítima, mas diz ser uma amizade antiga ou um conhecido de um amigo. Conquistada a confiança, poderá pedir dinheiro ou o favor de clicar num link malicioso, por exemplo – a maneira ideal de ter o Facebook hackeado sem nem perceber.
Qualquer que seja o caso, esse tipo de golpe costuma exigir mais esforço de criar uma conversa por parte dos criminosos. Do ponto de vista da vítima, a melhor escolha será analisar atentamente o perfil que entra em contato para constatar se a pessoa é quem ela realmente afirma ser. Se não, basta cortar o contato logo de cara – e o mal pela raiz.
Mas se persistir a dúvida, perguntas sobre a identidade da pessoa podem (e devem) ser feitas no chat. Ainda que a conversa seja convincente, evite clicar em qualquer link que a pessoa enviar ou acatar a um favor sem ter a certeza absoluta. Consulte amigos em comum antes de decidir algo e isso provavelmente lhe poupará dores de cabeça.
5. Conta clonada
Uma variante do golpe do Facebook Messenger que merece sua atenção é a possibilidade de se deparar com um amigo ou conhecido fazendo pedidos estranhos, mas com a conta aparentemente normal.
Pedidos de dinheiro e chamados urgentes, por meio de mensagem direta, são comuns nesses casos. Outra possibilidade é receber um convite de amizade de alguém que você já tem na lista de contatos. É uma situação estranha e claramente precisa ser investigada minimamente.
Se receber um novo convite de um amigo já existente, tente entrar em contato com a conta original dele e perguntar de que se trata. Se já tiver adicionado, visite o perfil da pessoa e analise fotos, dados de preferências e interações: eles correspondem com o que você espera enxergar nessa pessoa? Se não, afaste-se e denuncie o perfil que entra em contato.
6. Golpe do Facebook Messenger: problema técnico
Outra variante do mau uso do Facebook Messenger são fraudadores que se passam pela equipe técnica do Facebook ou da Meta, a empresa controladora da rede social.
Essa falsificação costuma apelar para o senso de urgência da vítima para que ela clique rapidamente num link malicioso e seja redirecionado para um ambiente virtual perigoso. Um perfil com o logotipo do Facebook ou da Meta entra em contato por mensagem direta com uma “notificação importante”.
Ela pode dizer, por exemplo, que a conta do usuário será deletada a menos que ele regularize sua situação clicando num link embutido na mensagem. Outras opções são oferecer uma vaga de emprego ou processo seletivo na empresa, ou ainda apresentar uma nova funcionalidade da plataforma.
No entanto, as comunicações internas do Facebook jamais são feitas por mensagens diretas. A empresa é capaz de enviar notificações por outros meios, a que golpistas não têm acesso. Além disso, vale a pena conferir nos termos de uso da plataforma em que casos a empresa pode entrar em contato com um usuário.
7. O golpe do quiz
Sabe aqueles testes divertidos que se tornaram populares no Facebook? Por mais criativos que eles possam ser, talvez escondam uma ameaça digital.
É verdade que pode ser difícil resistir a descobrir qual álbum de música ou qual caneca você seria, precisando responder apenas algumas perguntas de personalidade para chegar à resposta. O problema é que alguns desses testes exigem que você clique num link que leva a outro ambiente virtual e podem exigir que você compartilhe informações pessoais.
As informações podem parecer aleatórias ou de pouca valia, como o nome de solteira da sua mãe, o nome de seu primeiro bicho de estimação ou o nome da rua em que você primeiro morou. Porém, esse tipo de informação costuma ser solicitada para recuperar senhas em diversos sites e serviços online. Obviamente, não se trata de uma coincidência, mas sim de uma perigosa brincadeira cuidadosamente elaborada por algum golpista sem alma.
8. Golpe romântico
Um dos favoritos entre os golpistas, o golpe romântico é um dos mais cruéis existentes. Vamos admitir que o Facebook é o lugar ideal para conhecer pessoas no mundo virtual e entender quem elas são. Nenhum aplicativo de namoro costuma agregar tantas informações tão interessantes: além das fotos, há vários interesses curtidos. É possível observar com que tipos de pessoas alguém se relaciona e o que escolhe compartilhar com o mundo.
De olho em todo esse acervo impressionante de informações, criminosos estruturam perfis falsos ideais para cativar a intenção de vítimas solitárias, entediadas ou carentes de atenção. De fato, esse é o tipo de golpe que pode acontecer em qualquer rede social, especialmente nos aplicativos de namoro que emergiram desde meados dos anos 2010. Mas o Facebook não depende da lógica dos encontros rápidos e permite muito mais compartilhamentos e experiências virtuais – o que pode servir como recurso adicional para enganar e envolver alguém.
Ao final das contas, meses de conversas podem resultar nas únicas coisas que interessam aos cibercriminosos: acesso ao dinheiro da vítima ou aos dados pessoais dela. Talvez o perfil falso alegue morar longe e precisar de dinheiro para custear uma viagem até a vítima; talvez queira saber o endereço dela para mandar presentes ou correspondência.
Esse é o tipo de golpe que pega as pessoas desprevenidas. Pessoas realmente carentes ou vulneráveis não hesitam em trocar informações ou dar dinheiro em troca de atenção e do estreitamento de laços. Por isso, é preciso buscar entender por que um estranho efetivamente entraria em contato.
Se parecer algo legítimo, fazer videochamadas e conhecer a pessoa mais a fundo não deveria ser um problema. Quanto a ceder dinheiro e informações sensíveis, isso sempre deve soar suspeito no mundo virtual. São coisas a serem evitadas – um relacionamento que vale alguma coisa deveria sobreviver a esses obstáculos.
Final: configurações de privacidade
Com os oito exemplos de golpes fornecidos acima, fica claro que criminosos rondam o Facebook e que pequenas atitudes podem evitar grandes desastres. Cientes disso, podemos tomar medidas ativas para aumentar a privacidade nessa rede social e diminuir os riscos de sermos abordados por criminosos.
Limitar a visualização das suas postagens e impedir que terceiros marquem você em fotografias são medidas simples que ajudam a diminuir o risco de um criminoso curioso ter acesso a informações sensíveis de sua vida.
Para limitar as postagens, acesse as configurações de privacidade no menu do usuário do Facebook e clique em “Verificação de privacidade”. Em seguida, selecione a opção “Quem pode ver o que você compartilha” e selecione a categoria de pessoas que têm acesso a suas postagens – preferivelmente, seus amigos ou outro círculo próximo.
Por fim, para impedir que alguém marque você em fotos, selecione o menu “Configurações”. Nele, clique em “Perfil e marcação”. Na aba “Revisão”, as duas opções deverão estar marcadas e na aba “Marcação” você poderá escolher quem pode marcar você numa publicação na rede social. Assim, fica mais restrito o acesso de “amigos de amigos” e “nem tão amigos de amigos” ao seu perfil, imagens e informações pessoais.