A gigante da tecnologia Apple, sediada em Cupertino, Califórnia, enfrenta desafios em sua meta de automatizar a montagem do iPhone. A companhia planeja reduzir pela metade o número de trabalhadores envolvidos no processo, mas a automação em larga escala pode ter consequências desastrosas para o mercado de trabalho internacional.
A Apple sempre soube da dependência em mão de obra de fábricas internacionais, como a Foxconn, para garantir o lançamento do iPhone no fim do ano. A pandemia de COVID-19 em 2020 evidenciou essa fragilidade. A crise causou escassez e atrasos na cadeia de suprimentos, dos quais a empresa provavelmente ainda sente os efeitos.
Um problema recorrente
Dois anos depois, em 2022, a lição se repetiu. Centenas de trabalhadores se revoltaram na principal fábrica de iPhones da Foxconn em Zhengzhou, China. Alegando péssimas condições de trabalho e remuneração, os funcionários protagonizaram protestos filmados e divulgados nas redes sociais, onde policiais com trajes de proteção química apareciam agredindo manifestantes.
De acordo com o The Information, Sabih Khan, vice-presidente sênior de operações da Apple, determinou a gerentes “reduzir o número de trabalhadores nas linhas de montagem final do iPhone em até 50% nos próximos anos”.
Isso significava reviver projetos de automação anteriormente adiados devido aos altos custos iniciais. A Apple, no entanto, investiu pesadamente em automação, tecnologia supostamente utilizada na produção do iPhone 15.
A automação reduz o número de funcionários e, consequentemente, poderia diminuir o custo de produção do iPhone – e eventualmente de outros produtos. Porém, as máquinas automatizadas custam centenas de milhões de dólares, e muitos parceiros de fabricação da Apple relutam em fazer esse investimento.
Além do custo, há a questão do controle. A automação permite que a Apple evite problemas inerentes à mão de obra humana. Máquinas não adoecem, não exigem melhores condições de trabalho e demandam menos acomodações do que trabalhadores.
Outro fator relevante é a geopolítica. A automação possibilita a instalação e operação de fábricas em locais neutros em relação às tensões comerciais entre EUA e China.
Entretanto, o processo não é isento de problemas. Robôs utilizados em testes demonstraram dificuldade em manusear peças pequenas com precisão suficiente, além de falhas na colocação e torque adequados de parafusos.
Impacto na mão de obra chinesa
O impacto no mercado de trabalho chinês, que fornece milhões de trabalhadores para a cadeia de suprimentos da Apple, é incerto. Uma demissão em massa teria consequências drásticas.
O relatório da cadeia de suprimentos da Apple de 2023 mostrou uma queda no número de funcionários monitorados nas fábricas parceiras, de 1,6 milhão em 2022 para 1,4 milhão em 2023. Essa redução de 12,5% em um ano é a primeira registrada em mais de uma década.
O sucesso parcial da automação da Apple se deve, em parte, às aquisições estratégicas da empresa. No início de 2024, a Apple comprou a startup canadense DarwinAI, que pode ser usada para inspecionar componentes como placas de circuito impresso em busca de defeitos.
Outro alvo foi a Drishti, startup que auxilia fabricantes na identificação de gargalos em linhas de montagem por meio de análise de imagens em tempo real.
Em 2024, a Apple planejava automatizar a instalação de botões e outros componentes no iPhone 16. No entanto, devido à alta taxa de defeitos, a companhia adiou a redução de funcionários por mais um ano.