De origem oriental e com difusão mais recente pelo mundo ocidental, o narguilé chegou ao Brasil como recreação e logo caiu no gosto dos jovens, principalmente por conta das essências. O que as pessoas não percebem é que o produto fumado no aparelho tem como base o tabaco que, quando carburado, é tão prejudicial à saúde como o cigarro convencional.
Diferenças entre o narguilé e o cigarro
“Como qualquer produto do tabaco que é fumado, o narguilé vai produzir na sua combustão todas as 4.700 substâncias tóxicas já conhecidas do cigarro e que sabemos que causam doenças crônicas e cânceres”, alerta a doutora Liz Almeida, do Instituto Nacional do Câncer (INCA). “Muitos utilizam a desculpa de que em produtos assim, como também é o caso do charuto e do cachimbo, a fumaça não é tragada, pois a ideia é apenas sentir o sabor do produto. Na prática não é o que acontece com o narguilé e, mesmo que fosse, devemos lembrar que apenas a fumaça na boca é suficiente para gerar um câncer na cavidade oral”.
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O tabaco utilizado no narguilé, mesmo com toda a essência de sabor, é ingerido em maior quantidade pelo organismo. “Um dos maiores problemas do narguilé é a longa exposição ao tabaco. Dependendo do tamanho do aparelho e da durabilidade da sessão, o ato pode equivaler a fumar mais de 100 cigarros. E as pessoas devem lembrar que o produto tem nicotina, uma substância que causa dependência muito rapidamente. Logo o corpo vai pedir por mais, e passar do narguilé para outros produtos do tabaco, como o cigarro, é um pulo”, aponta a doutora Liz Almeida.
O que o uso do narguilé causa?
Estudos associam o uso de narguilé ao desenvolvimento de câncer de pulmão, doenças respiratórias, doença periodontal (da gengiva) e com o baixo peso ao nascer, além de expor seus usuários a concentrações de nicotina que causam dependência. Em longo prazo, seu consumo pode causar câncer de pulmão, boca e bexiga, aterosclerose e doença coronariana.
Os riscos do uso do narguilé não estão somente relacionados ao tabaco mas também a doenças infectocontagiosas. Compartilhar o bocal entre os usuários pode resultar na transmissão de doenças como herpes, hepatite C e tuberculose.
Modismo
A moda se espalhou rapidamente pelo Brasil e os aditivos de sabor mascararam o perigo por trás do hábito. “O narguilé era um processo muito cultural dos turcos, libaneses. Algo que só era utilizado nos fins de semana. Os imigrantes dessa cultura trouxeram o narguilé para o Brasil e a moda pegou por aqui após uma novela que fez muito sucesso. Ao mesmo tempo, houve uma onda de reincorporação do uso dos narguilés por jovens nos bares. Isso gerou um boom na produção dos produtos e essa maior oferta disseminou mais facilmente o uso. Alguns pais e os próprios jovens sentem aquele cheiro adocicado e acham que não faz mal, imaginando que não há tabaco ali dentro”, explica a doutora Liz.
Porta de entrada para o vício
O aumento no número de usuários de narguilé no país, principalmente entre os mais jovens, preocupa. Principalmente porque o aparelho serve de porta de entrada para um vício que pode durar a vida inteira e causar sérios problemas de saúde. “Por volta de 2007, as primeiras pesquisas já indicavam que vários jovens estavam usando outros produtos de tabaco que não o cigarro. E o produto mais frequentemente usado era, disparado, o narguilé”, lembra a médica.
“Em 2008, na Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab), do IBGE, notamos que o percentual não era alto, representando pouco mais de 250 mil pessoas usando o narguilé. Mas na repetição da pesquisa, em 2013, um dado chamou atenção: pegando apenas a faixa entre 18 e 24 anos, tínhamos 63,3% de pessoas que afirmavam usar o produto. Já na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada em 2015, entre jovens de 13 a 17 anos foi registrado que 7,3% deles faziam uso de um produto do tabaco que não o cigarro. Isso equivalia a 940.549 meninos e meninas. Desses produtos, o narguilé estava na preferência de 57,7% dos adolescentes. Ou seja, quando se atrela isso ao modismo, à onda da garotada, começamos a ter uma disseminação cultural de um produto que faz tão mal quanto o cigarro”, finaliza a doutora Liz Almeida.