Depois que cortar o cordão umbilical é o momento em que o bebê se separa fisicamente da mãe, a mãe se separa da mulher que era antes de ser mãe.
E o momento em que o pai diz adeus ao rapaz despreocupado que foi em tempos, enquanto dá colo ao bebê e à mulher que choram. Uma longa caminhada começa com este pequeno corte.
Antes de ser mãe, quando se imaginava a ter filhos e só pensava nos documentários mais sanguinolentos de vida selvagem, com uivos de dor até à expulsão final da cria, Susana Almeida supunha que nunca passaria por nada pior do que o parto. Não podia saber, não ainda, que o medo maior vem depois, ao cortar-se o cordão umbilical e ver os filhos pela primeira vez.
“A mãe também acabou de nascer. Tal como a minha filha, eu era uma mãe recém-nascida e não foi nada do que estava à espera”, conta a autora de Ser Supermãe É Uma Treta (ed. Influência), considerando que a Susana que era antes ficou para sempre no bloco de partos para ali nascer outra mulher. A mãe.
Isto porque a barriga desaparece, o bebê torna-se externo ao corpo e a mulher precisa de reestruturar a percepção da sua imagem e identidade. “Agora ela é mãe “real” de um ser totalmente dependente, o que é muito complexo, confuso, solitário, mesmo assustador”, defende a psicóloga clínica Ana Correia, investigadora na área do luto.
Durante a gravidez, a mãe proporciona ao seu bebê um ambiente seguro em que ele cresce e se desenvolve, numa união simbiótica a nível físico que comporta uma ligação emocional e afetiva muito forte.
“O corte do cordão umbilical tem uma carga simbólica fortíssima porque ali termina, de facto, a fusão com a mãe”, diz a especialista. Trinta e nove semanas de filho no útero deixam marcas quando finalmente os separam.
E depois que cortar o cordão umbilical? O seu papel
É o principal elo de comunicação entre a gestante e o(s) filho(s) na placenta, fornecendo um aporte constante de nutrientes, oxigénio e sangue necessários ao crescimento dos órgãos.
Quanto à estrutura em si, esta é bastante simples: duas artérias, uma veia e uma substância gelatinosa chamada geleia de Wharton, responsável por manter os canais juntos e impedir que colapsem antes de a cria estar repimpada nos braços da mãe.
Uma vez cortado o cordão, espera-se que o recém-nascido seja suficientemente maduro para conseguir respirar e mamar sozinho, enquanto o restante cordão é puxado e contribui para desalojar a placenta. Será nessa altura que mãe e filho se perguntam que salsada é aquela que lhes está a acontecer.
O corte é tão importante a vários níveis – emocional, afetivo, comportamental, motor, cognitivo, até social -, que os próprios médicos não chegam a consenso quanto ao melhor momento de se fixar os dois clampes para cortarem entre eles.
E o pai, depois que cortar o cordão umbilical?
Para o pai, o corte do cordão é um ganho porque o bebé se desliga biologicamente da mãe, ligando-se a ele fisicamente pela primeira vez.
“Pela primeira vez, o bebé desliga-se biologicamente da mãe e liga-se fisicamente ao pai, a carga emocional é imensa”, explica a investigadora. Os homens não notam alterações no corpo, não têm a barriga a crescer, não sentem o bebé mexer, no entanto gostam, precisam e têm o direito de serem envolvidos, não apartados. Bem dizia Almada Negreiros que um cordão umbilical não se falsifica: ou há ou não há.