Diversos movimentos sociais participaram, neste domingo (21), de um ato público nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, em defesa do fim da violência contra mulheres, pessoas LGBTQIA+ e outras populações em situação de vulnerabilidade. A mobilização ocorreu em uma tarde de forte calor e reuniu manifestantes de diferentes coletivos.
A concentração estava prevista para as 14h, mas as altas temperaturas do início do verão atrasaram o início das atividades. O protesto foi organizado pela CasaNem, centro de acolhimento que atua na capital fluminense oferecendo abrigo, formação e apoio social, principalmente a pessoas trans e travestis.
Segundo a fundadora da instituição, Indianarae Siqueira, a manifestação foi impulsionada por episódios recentes de extrema violência que tiveram grande repercussão nacional. Entre eles, o caso de uma adolescente trans de 13 anos, internada em estado grave após ser agredida e queimada em via pública, no Espírito Santo, e o assassinato de um jovem de 17 anos em Manaus, vítima de LGBTfobia.
Para Indianarae, esses episódios evidenciam a urgência de políticas públicas voltadas à proteção da juventude LGBTQIA+ e ao combate ao preconceito desde a infância. Ela avalia que a maior visibilidade da violência está relacionada ao avanço de leis e mecanismos de denúncia, o que tem encorajado mais vítimas a procurar ajuda.
A ativista também destacou que a raiz das agressões está em estruturas como o machismo e o patriarcado, e defendeu a educação como ferramenta central para a transformação social. “É um processo contínuo que começa nas escolas e nas famílias e se reflete nas próximas gerações”, afirmou.
Entre os participantes, a mulher trans Laisa, de 30 anos, ressaltou a importância da igualdade de direitos e do respeito às diferenças. Já a artista MC Raica participou do ato com apresentações musicais e relatou mudanças positivas em sua trajetória pessoal a partir do apoio recebido por organizações sociais, incluindo oportunidades de trabalho formal.
A fundadora do Instituto Trans Maré, Lohana Carla, também esteve presente e falou sobre o trabalho de acolhimento realizado com mulheres trans e travestis, oferecendo assistência psicológica, jurídica e apoio à empregabilidade. Ela alertou para a persistência das agressões e para a necessidade de ampliar o debate sobre direitos e proteção.
Representantes de outros coletivos levaram cartazes e mensagens em defesa da criminalização da misoginia, do combate ao feminicídio e do fortalecimento de políticas públicas voltadas às mulheres, incluindo indígenas.
Dados recentes reforçam a gravidade do cenário. Entre janeiro e setembro, mais de 2,7 mil mulheres sofreram tentativas de feminicídio, e 1.075 morreram vítimas desse crime. O Brasil segue liderando o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis, posição que ocupa pelo 17º ano consecutivo.
Em 2024, foram registradas 291 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+, o equivalente a uma morte a cada 30 horas. O Atlas da Violência 2025 aponta um crescimento expressivo das agressões contra essa população na última década, com aumentos superiores a 1.000% em diversos recortes, evidenciando a dimensão do problema enfrentado no país.






















