Duas das mais promissoras vacinas contra a Covid-19 passarão por testes no Brasil
O esforço dos cientistas para desenvolver uma vacina contra a Covid não tem precedentes na história. É uma corrida no mundo todo.
Duas vacinas consideradas mais promissoras vão ser testadas no Brasil.
A vacina é a chave para aquele tempo de antes da pandemia e, nesse ponto, a ciência está avançando no calendário em uma velocidade nunca vista antes.
A OMS recebeu em 31 de dezembro o primeiro alerta de um novo tipo de coronavírus em circulação. Seis meses depois, já são cerca de 140 vacinas em estudo; 15 na fase de testes em humanos. E a resposta à Covid-19 pode vir em um recorde histórico.
A vacina contra a meningite, por exemplo, levou mais de 90 anos desde a descoberta do vírus até o registro na Agência de Saúde dos Estados Unidos. A da polio, 47 anos. Hepatite, 16. A do sarampo foi uma das mais rápidas: dez anos.
A OMS considera hoje que a pesquisa de uma vacina contra o coronavírus em fase mais adiantada pode ser finalizada até o fim de 2020.
Desenvolvida pela Universidade de Oxford, a vacina está em testes no Brasil pelo Instituto D’or de Pesquisa e Ensino, da Rede D’or e pela Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. A Fundação Lemann está financiando a estrutura médica e os equipamentos da operação.
Os cientistas partiram de uma estratégia que já deu certo em vacinas contra outras doenças, como ebola e MERS, também causada por um tipo de coronavírus.
A técnica utiliza um tipo de vírus, o adenovírus que causa doenças respiratórias. Ele é modificado para se tornar mais fraco. Em seu interior é inserido o material genético do novo coronavírus, ou seja, esse vírus carrega pedacinhos do coronavírus, mas não é ele propriamente dito. Uma vez dentro do corpo humano, ele induz a produção de anticorpos e outras células de defesa para combater a doença.
Essa experiência anterior economiza tempo na hora dos testes.
O desenvolvimento de uma vacina tem a fase pré-clinica, quando os testes são feitos em laboratórios e em animais. A partir daí, vem a fase clínica, com voluntários humanos.
São três etapas diferentes: a cada passo, o número de pessoas aumenta e a metodologia muda. No fim deste processo, os pesquisadores precisam comprovar que a vacina é segura, gera anticorpos e não provoca efeitos colaterais importantes.
A pesquisadora da Unifesp, Sue Ann Costa Clemens, que comanda o estudo no Brasil diz que na pandemia, o processo regulatório acaba sendo mais flexível.
“Não se espera a análise completa de uma fase para se entrar na próxima fase, mas isso não quer dizer que as fases não sejam completadas; o estudo inteiro vai ser completado, a análise vai ser feita como no processo normal. “
Essa agilidade regulatória também favorece outra pesquisa bem adiantada: a chinesa, em parceria no Brasil com o Instituto Butantan. O projeto também herdou um conhecimento anterior: o desenvolvimento da vacina contra a Sars, provocada por outro coronavírus.
“Todas essas vacinas que estão mais aceleradas, elas herdaram um processo de vacina para outros coronavírus; mas não estamos perdendo nem qualidade cientifica nem qualidade ética e isso é uma boa noticia para todos, porque estamos conseguindo fazer tudo muito bem e muito mais eficientemente”, afirma Ricardo Palacios, médico de Pesquisas Clínicas do Instituto Butantan.
A indústria farmacêutica também está acelerando as etapas para produzir as doses de uma vacina que ainda nem está pronta.
“É um processo muito arriscado a vacina, mas agora devido ao risco que a doença faz, tanto os governos quanto as grandes empresas estão dispostos a investir mais dinheiro e arriscar mais pra acelerar esse processo”, afirma Ariane Cruz, pesquisadora pela University College of London.
É que mesmo com a pesquisa adiantada, ainda é cedo para dizer que a vacina vai sair de um dos estudos em teste no Brasil. Mas com uma força-tarefa mundial e com tanto investimento público e privado, as chances de uma descoberta aumentam e é bem possível que haja mais de uma solução para uma doença que desperta tantas dúvidas.
É o que diz a vice-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, a brasileira Mariângela Simão. Ela acredita que a ciência vai descobrir não uma, mas várias vacinas contra a Covid-19.
“Então é provável que se tenha mais do que um tipo de vacina disponível daqui um ano e um ano e meio. E é provável que elas tenham características diferentes por exemplo: você pode ter vacina que funcione bem para jovens e não funcione bem para pessoas acima de 65 anos.”
“E se dá mais de uma certo vai ser muito bom porque temos mais fábrica disponíveis para produzir mais vacinas para o mundo”, afirma Ricardo Palacios.
E não é só o tempo ultrarrápido de se chegar a uma vacina que é inédito.
“Acho que isso nunca aconteceu na historia da humanidade que haja uma consolidação dos movimentos em torno de ter um produto que seja eficaz, seguro e que seja um bem público global, o que se quer dizer com isso, que o objetivo máximo tem que ser que não é ter lucro em cima disso, é paa proteger as populações, proteger a economia e todas as questões que estão sendo afetadas por essa pandemia”, diz Mariângela Simão.