Em 2005, a Universidade de São Paulo (USP) foi pioneira no Brasil ao oferecer um curso de graduação em Gerontologia. Antes, a especialização só existia em nível de pós-graduação.
Entender mudanças do corpo humano e perceber o impacto que a arquitetura de um ambiente causa no indivíduo são algumas das atividades exercidas pelos profissionais de gerontologia, que atuam como “administradores” do envelhecimento. Vale lembrar que eles trabalham em conjunto com famílias, instituições, empresas e órgãos públicos para detectar as necessidades dos idosos e oferecer melhor qualidade de vida.
O curso é realizado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, em São Paulo. A carreira traz uma visão ampla do processo de envelhecimento, incluindo perspectivas biológicas, psicológicas e sociais.
Desse modo, o curso não se encaixa em nenhuma área específica do conhecimento (Exatas, Humanas ou Biológicas), sendo responsável pela formação de profissionais generalistas. O bacharel em Gerontologia, identificado como gerontólogo, será preparado para realizar a gestão da atenção ao envelhecimento e à velhice em diversas áreas de atuação.
Especialização
Presidente da Associação Brasileira de Gerontologia e formada na USP, Eva Bettine conta que já ouviu perguntas sobre a profissão e a área de atuação algumas vezes. “Costumam achar que gerontólogo é dentista ou médico, além de confundirem com geriatria”, revela.
De acordo com a especialistas, geriatras são os médicos especializados na saúde do idoso, enquanto o gerontólogo é formado para gerir a atenção ao envelhecimento, além de estudar aspectos biológicos, psicológicos e sociais da velhice.
Eva trabalhava com tecnologia da informação (TI) quando decidiu, por volta dos 50 anos, que começaria uma nova carreira. Assistindo à televisão, ela viu uma reportagem sobre os novos cursos da USP e se interessou por Gerontologia.
“Acredito que a área tem o papel social de atender à demanda da população idosa, que antes não tinha muita qualidade de vida. Era como se a morte fosse ludibriada com as inovações médicas, mas não havia um ganho de vida”, conta Eva Bettine.
“Sempre tive claro a necessidade de investir nos estudos para consolidação da Gerontologia como ciência e profissão”, explica Henrique Salmazo, formado na USP e professor do curso de pós-graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília.
Ele ressalta que não são apenas profissionais da saúde que procuram pelo curso. “Os interessados pertencem a diversas áreas do saber, incluindo economia, direito, psicologia, serviço social, além de enfermagem, medicina e outros”, diz.
Cuidado
Salmazo fez parte da primeira turma do curso da EACH e decidiu a carreira por uma questão afetiva. “Meus avós representam sabedoria, escuta e acolhida. Cuidar deles, para mim, era um privilégio”, destaca.
Durante a graduação, ele teve oportunidade de participar da criação da Liga Acadêmica de Gerontologia e da Associação Brasileira de Gerontologia, em que ocupa o cargo de vice-presidente.
No mestrado, realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, teve o desafio de implantar e coordenar a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) no município de São Paulo. Depois, ajudou na implantação de centros-dia para idosos e nos grupos de trabalho que debatiam a regulamentação do exercício profissional do bacharel em Gerontologia.
Henrique Salmazo coordena uma pesquisa voltada para a Gerontologia Educacional para desenvolver intervenções ambientais socioeducativas. As atividades envolvem idosos e estudantes de uma escola pública do Distrito Federal.
Além disso, ele auxilia no grupo de pesquisa NeuroCog_Idoso, que tem o intuito de avaliar a eficácia de intervenções cognitivas e físicas sobre as funções cognitivas, físicas e menmônicas de idosos saudáveis.
Salmazo ainda colabora com um projeto de pesquisa interinstitucional envolvendo UCB, Unicamp e Universidade do Passo Fundo para investigar perfis de envelhecimento em idosos longevos da comunidade, em ambulatório e em instituições de longa permanência.
Empreendedorismo
Jullyane Marques fez a graduação e o mestrado na USP. Agora, ela atua como diretora operacional e cofundadora de uma empresa de cuidadores e home care, a Onix – Gestão de Cuidado ao Idoso. “Tudo o que o familiar não pode fazer, nós fazemos. Desde acompanhar a pessoa idosa em passeios até pensar em como melhorar o ambiente domiciliar para aqueles que são mais dependentes”, afirma.
Nesse cenário, o gerontólogo cumpre papel de gestor que visualiza, ao menos, três pontos de vista: paciente, família e cuidador. “O papel da empresa também pretende evitar a opressão de um desses em relação ao outro. Para isso, a comunicação é um fator primordial”, acrescenta.
Ela destaca que o gerontólogo sugere o encaminhamento do cuidado e supervisiona a situação, enquanto o cuidador cumpre uma tarefa mais operacional. Um grande desafio para ambos, entretanto, pode ser no entendimento da família com relação ao trabalho que estão exercendo.
A cuidadora Tânia Maria Menezes de Oliveira acompanha Nazareth há quatro anos. A rotina de 12 horas compreende banhos, refeições e passeios. “Com 95 anos de idade, por conta da velhice natural, ela está precisando cada vez mais de cuidados. Tem dias em que ela está, assim como hoje, um pouco mais sonolenta, mas em outro está conversando bastante.”
Tânia fez um curso de cuidados à saúde do idoso, no qual aprendeu a parte técnica da profissão. A escolha foi feita devido a uma identificação com idosos e de amor ao cuidado com o outro.
Saúde
Tamiles Mayumi Miyamoto trabalha em uma operadora de saúde com foco em pessoas idosas. Ela é responsável por elaborar um plano de gestão da saúde do idoso. Uma de suas principais ferramentas são os indicadores de especialidade médica. “Faço um trabalho de analista de dados, o intuito é olhar de forma integrada aquilo o que está acontecendo com a pessoa idosa”, conta.
“Um gerontólogo não precisa, necessariamente, ter contato direto com o paciente. Eu cumpro uma função mais estratégica”, diz. Ela ressalta que a formação compreende o entendimento do processo do envelhecimento e isso pode envolver muitos cargos diferentes dentro de uma mesma profissão.
Antes de fazer parte da operadora de saúde, Tamiles trabalhava em um núcleo de convivência do idoso. Tamiles decidiu fazer Gerontologia na USP por ter uma preocupação com os idosos tanto no quesito psicológico quanto social. “Muito advém da vivência no dia a dia, como em transporte público, shoppings e mercados. É notável que a população idosa está cada vez maior”, conclui.