O primeiro semestre de 2021 terminou nesta quarta-feira (30) com 68% do volume de chuvas esperado no Sistema Cantareira e 72%, no Alto Tietê. A tendência segue sendo de seca nos próximos meses, o que aponta para uma crise de abastecimento em 2022, de acordo com especialista.
Somados, os reservatórios Cantareira e Alto Tietê fornecem água para 12,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
O baixo volume de chuvas nos reservatórios já era esperado no outono, tradicionalmente mais seco, mas os dois reservatórios vêm acumulando baixo volume de chuvas desde o verão, quando costuma chover mais.
Nesta quarta-feira (30), o Cantareira operava com 45% de sua capacidade e o Alto Tietê, com 54,40%. O volume total armazenado na região metropolitana de São Paulo é de apenas 52,2%.Os dados são da Sabesp.
Esses números são preocupantes porque estão mais baixos do que 30 de junho de 2013, o ano anterior à crise hídrica, quando Cantareira operava com 56,3% e o Alto Tietê, com 62,7%. A situação atual de armazenamento dos mananciais, portanto, é pior do que a anterior à crise e aponta para a possibilidade de uma nova crise no ano que vem.
A falta de água já impacta no bolso dos paulistas. Nesta terça-feira (29), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou o reajuste das tarifas da conta de luz da Enel São Paulo, que passam a valer a partir de 4 de julho em todo o estado.
Na segunda-feira (28), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, admitiu que o Brasil está em crise hídrica e pediu uso consciente de água e energia.
No último mês, um comitê de órgãos do governo federal emitiu pela primeira vez na história um alerta de emergência hídrica em cinco estados que compõe a bacia do Rio Paraná, inclusive São Paulo, por causa do que vem sendo chamado de a pior seca em 91 anos.
A situação atual dos mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo aponta para uma crise de abastecimento em 2022, de acordo com o pesquisador Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
“Boa parte da região metropolitana de São Paulo faz parte da bacia do hidrográfica do Paraná. Portanto, a grave crise que acontece na Bacia do Paraná afeta São Paulo e os municípios vizinhos. A Sabesp, entretanto, tem negado a existência de uma crise. Talvez, seja para não desvalorizar um ativo que o governo do estado pretende privatizar em breve.”
Além do Cantareira e do Alto Tietê, mais seis sistemas abastecem a Grande São Paulo: Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e desde 2018, São Lourenço. Juntos, eles abastecem 21 milhões de pessoas.
Em nota, a Sabesp negou o risco de abastecimento neste momento, mas não respondeu sobre o risco em 2022. A Companhia informou que a queda no nível das represas é normal nesta época do ano devido ao período de estiagem e ao volume baixo de chuvas, e a projeção aponta níveis satisfatórios para passar pela estiagem, até setembro.
“Desde a crise hídrica de 2014 e 2015, a Companhia realizou uma série de obras e ações que permitiram à região metropolitana de São Paulo passar por períodos de estiagem severa sem problemas no abastecimento, como também foi em 2018. As principais obras são a Interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira) e o novo Sistema São Lourenço, ambas em operação desde 2018.”