A poliomielite ou paralisia infantil, como ficou conhecida popularmente, é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus que vive no intestino humano, o poliovírus.
Desde 1989, não há registro de infectados no Brasil e, em 1994, o país recebeu o certificado de erradicação emitido pela Opas/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde).
O diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Renato Kfouri, ressalta que a ausência de infectados não significa que o vírus parou de circular no mundo.
“Conseguimos reduzir os casos mundialmente em mais de 97%, 99%. Atualmente, sobraram só dois países com pólio, o Afeganistão e o Paquistão. Mas a despeito de a gente ter conseguido praticamente eliminar a doença do planeta, ela não acabou, e o vírus circula por aí”, diz Kfouri.
O pediatra lembra ainda que essa é uma doença com muitas consequências negativas.
“No passado, a pólio era uma doença extremamente grave, matava as pessoas, deixava as crianças com paralisias – tanto é que a doença é chamada de paralisia infantil –, com sequelas para o resto da vida.”
A maioria dos infectados é assintomática ou apresenta poucos sintomas. Os sinais da doença são similares aos de outras infecções virais, incluindo as respiratórias.
Pode aparecer febre, dor de garganta, náusea, vômito, constipação (prisão de ventre), dor abdominal e, raramente, diarreia.
Neste caso, a doença é 100% curável. Todavia, cerca de 1% dos infectados pode desenvolver a forma paralítica da doença. São esses casos em que as pessoas ficam com sequelas permanentes, como insuficiência respiratória e, em algumas situações, podem até morrer.
Em geral, a paralisia acontece nos membros inferiores de forma assimétrica, ou seja, ocorre apenas em um dos membros. As pessoas têm perda da força muscular e dos reflexos, mas a sensibilidade dos membros atingidos é mantida.
“Mesmo atingindo 1% dos infectados, é preocupante a possibilidade de termos pessoas que não tomaram a vacina ter uma doença que vai deixá-la com um problema sério para o resto da vida”, lamenta a infectologista e consultora de vacinas do Delboni Medicina Diagnóstica, da Dasa, Maria Isabel de Moraes.
O homem é o hospedeiro natural do poliovírus. A transmissão se dá por duas formas: oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar; e, a principal delas, através da boca, a partir do contato direto com fezes contaminadas ou por água e alimentos contaminados por essas fezes.
A situação fica ainda mais crítica quando o vírus circula em locais com condições sanitárias e de higiene inadequadas.
A poliomielite é mais comum em crianças, uma vez eles, principalmente as menores de 5 anos, ainda não desenvolveram completamente os hábitos de higiene e não têm consciência dos riscos de colocar objetos na boca.
Mas o fato de ser mais comum em criança, não significa que adulto não é infectado.
“É interessante lembrar que pólio não é doença de criança, a gente não pode ficar tranquilo com uma cobertura vacinal baixa. Quando menos esperamos, podemos ter um adulto não vacinado que se infecta e pode ter a pólio paralítica”, alerta Maria Isabel.
Não há nenhum medicamento antiviral contra a poliomielite. Nos casos mais leves, é indicado o uso de analgésicos e antitérmicos, quando necessário.
Já para a forma paralítica, o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento fala sobre cuidados suporte.
“Durante a mielite ativa, precauções para evitar complicações decorrentes da inatividade pelo fato de o paciente permanecer acamado – trombose venosa profunda, atelectasia, infecção do trato urinário – e ter imobilidade prolongada – contraturas – podem ser necessárias. Insuficiência respiratória pode requerer ventilação mecânica. Ventilação mecânica ou paralisia bulbar requerem medidas higiênicas pulmonares intensivas”, orienta o guia.
A melhor prevenção da doença é a vacinação. No Brasil, os imunizantes são oferecidos rotineiramente em todos os postos de saúde.
O esquema vacinal deve ser começado a partir dos 2 meses de vida, com mais duas doses aos 4 e 6 meses, além dos reforços entre 15 e 18 meses e aos 5 anos de idade.
Existem dois tipos de imunizantes:
VIP (vacina inativada injetável) – aplicada aos 2, 4 e 6 meses, com reforços entre 15 e 18 meses e entre 4 e 5 anos de idade. Na rede pública as doses, a partir de um ano de idade, são feitas com VOP.
VOP (vacina atenuada oral) – é a gotinha aplicada nas doses de reforço dos 15 meses e dos 4 anos de idade e em campanhas de vacinação.
Além da vacinação, outra forma de prevenir contra a proliferação do poliovírus é melhorar o saneamento básico com programas eficazes e que atinjam o país todo.