A violência mortal no Brasil ganhou uma característica assustadora: ela está sendo praticada de forma fútil — e pandêmica. A cada semana, ou mesmo a cada dia, vemos com mais frequência casos de homicídios cometidos em circunstâncias tão banais que já deveríamos há muito ter ligado um alerta vermelho a ser percebido por toda a sociedade. A morte cerebral do campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo só vem aumentar o volume desse alarme urgentíssimo.
Ainda não temos todos os detalhes sobre a tragédia, mas é evidente que o assassinato do atleta ocorreu numa situação e em um local em que é difícil imaginar que tudo não pudesse ter se resolvido de forma menos aterradora. E esses surtos, essas explosões, essa facilidade com que pessoas estão se matando já fazem parte de nosso cotidiano.
Temos que tomar um cuidado que só agrava a questão: nessa conta macabra de mortes por motivos fúteis e banais, não se deve colocar os feminicídios. O assassinato de mulheres no Brasil é outra chaga, enorme, de difícil solução a curto prazo. Somos um dos cinco países em que mais mulheres morrem vítimas de companheiros, ex-maridos ou conhecidos. O feminicídio, há muito, deveria ser questão de Estado.
O que piora nosso cenário é que (fora do contexto estrutural da violência doméstica — e dos latrocínios e crimes comuns) a banalização da violência vem aumentando a olhos vistos. Pessoas matam por causa de um pastel, de uma discussão política, por preferências esportivas, por um cupom de desconto, por brigas de trânsito, por rigorosamente nada.
O cidadão comum está participando de nossas estatísticas de homicídios de forma volumosa e acelerada. Não cabe aqui fazer suposições sobre as causas desse fenômeno tétrico e fúnebre. É hora de nos determos nos fatos e procurarmos soluções que, de imediato, passam pela conscientização de que vivemos um momento gravíssimo. Ninguém está seguro nesse quadro de descontrole. Precisamos enfrentar esse flagelo social.