Durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 (COP-29), realizada entre 11 e 22 de novembro em Baju, Azerbaijão, lideranças indígenas e movimentos sociais da Amazônia denunciaram os impactos de grandes obras de infraestrutura sobre populações tradicionais e o meio ambiente. O painel “Infraestrutura sustentável na Amazônia: caminhos para a transição energética e ecológica” foi marcado por críticas ao projeto da Ferrogrão (EF-170) e outros empreendimentos na região.
Alessandra Korap, liderança Munduruku e ganhadora do prêmio Goldman, destacou que a Ferrogrão representa uma ameaça tanto ao território indígena quanto ao equilíbrio ecológico da Amazônia. “São hidrovias, hidrelétricas, portos e ferrovias que não funcionam para o bioma Amazônia e impactam negativamente a vida dos povos tradicionais. Só no Rio Tapajós, são 41 projetos de portos, 27 já em operação, sendo que apenas cinco estão licenciados. Pedimos respeito: parem com a Ferrogrão e todos os empreendimentos que destroem nossos rios e nossa cultura”, afirmou.
O projeto da Ferrogrão, promovido por empresas do agronegócio e apoiado pelo Governo Federal, prevê a construção de 933 quilômetros de trilhos para escoar grãos do Centro-Oeste, ligando Sinop (MT) a Miritituba (PA). No entanto, o empreendimento é alvo de críticas por seus possíveis impactos ambientais e sociais, incluindo o desmatamento, a perda de biodiversidade e o deslocamento de populações tradicionais.
Cleidiane Vieira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), também condenou o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, afirmando que ele exclui as populações amazônicas. “A energia produzida não chega para quem vive no local. A região paga a tarifa mais cara do país enquanto os recursos são saqueados para atender outras regiões”, destacou Cleidiane.
Soluções sustentáveis e inclusivas
As lideranças aproveitaram o painel para propor alternativas que conciliem a preservação ambiental com o respeito aos direitos das comunidades tradicionais. Entre as sugestões estão modelos de desenvolvimento baseados em energia limpa e inclusiva, além de uma infraestrutura planejada com ampla participação das populações locais.
As críticas feitas na COP-29 refletem um apelo crescente para que o Brasil e a comunidade internacional repensem os projetos que afetam a Amazônia, priorizando soluções que respeitem os biomas e promovam justiça social.
O debate sobre a Ferrogrão e outros empreendimentos na Amazônia continua no centro das discussões sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, destacando a necessidade de equilíbrio entre progresso econômico e preservação ambiental.