Fósseis encontrados em solo brasileiro e recuperados após terem sido levados para coleções pessoais, leilões e museus no exterior são entregues no Laboratório de Paleontologia do campus de Planaltina da Universidade de Brasília (UnB).
Entre as peças estão pedaços de vegetação antiga fossilizada e 13 exemplares de mesossauros, lagartos que viveram há 280 milhões de anos, num período anterior aos dinossauros.
Quando o fóssil é retirado por contrabandistas para ser vendido, dados importantes se perdem, prejudicando futuras descobertas, de acordo com o paleontólogo e professor da faculdade, Rodrigo Santucci.
Responsável pelo laboratório onde os pesquisadores reúnem e escavam rochas para retirar fósseis, Santucci explica que, em uma pesquisa, é importante saber o local exato do espécime encontrado, o que ajuda a saber em qual tipo de habitat um determinado animal vivia há milhões de anos no passado e se eram indivíduos solitários ou viviam em grupos, por exemplo.
No caso dos mesossauros, os contrabandistas levaram os fósseis para a França e as peças seriam vendidas em um leilão quando alguém reconheceu os lagartos e fez a denúncia.
Para coibir esse tipo de tráfico, universidades e revistas científicas importantes passaram a exigir de pesquisadores que comprovem a procedência e a legalidade da extração.
Depois da denúncia dos mesossauros contrabandeados na França, a Justiça Brasileira, a Polícia Federal e o Ministério Público, além da polícia francesa, entraram no caso. A Justiça decidiu que os exemplares seriam entregues a uma instituição de pesquisa e, assim, eles chegaram ao laboratório da UnB de Planaltina. Apesar de tudo, não foi possível saber se os lagartos foram retirados da Região Sul ou em São Paulo, onde são mais comuns.
“Há 280 milhões de anos, o Brasil e a África faziam parte de um único continente, chamado Pangeia. Então, você tem rochas semelhantes e os mesmos tipos de fósseis de mesossauros no Brasil e na África. Eles viviam em uma região de mar continental, que é mais rasa que os oceanos, mas não sabemos se passavam o tempo inteiro submersos ou se saíam da água para botar os ovos, por exemplo”, explica Santucci.
Os dinossauros mais antigos tem 230 milhões de anos, o que significa que os mesossauros surgiram cerca de 50 milhões de anos antes. Entre os exemplares recuperados há, inclusive, um espécime mais jovem, que pode dar informações sobre o desenvolvimento dos indivíduos da espécie. Os mesossauros foram incorporados à coleção do laboratório em março de 2022.
Além dos mesossauros, Santucci já recebeu caixas com flocos de sedimento marinho, que não vieram com nenhum tipo de fóssil. No caso das árvores pré-históricas, cada peça teve sua matéria prima substituída por sílica durante o processo de fossilização, e o pesquisador está montando uma “floresta” de troncos pré-históricos na frente do laboratório, para receber visitantes.
O laboratório de paleontologia da UnB de Planaltina funciona há cerca de 10 anos e tem um acervo de, aproximadamente, 2 mil peças catalogadas e muitas outras para serem registradas que incluem, além das ossadas fossilizadas, fezes de dinossauros, mais conhecidas como coprólitos, folhas e até alguns invertebrados.
Para os pesquisadores, as fezes dos grandes lagartos da antiguidade pode trazer informações importantes.
Uma visita ao local revela a presença de várias partes de fósseis de saurópodes, que fazem parte do grupo dos titanossauros, dinossauros muito grandes que podiam pesar de 20 a 30 toneladas e que são conhecidos popularmente pelo pescoço comprido e por serem herbívoros.
Não há um exemplar completo, mas os pesquisadores estão escavando uma série de rochas com partes desses antigos gigantes.
Outra criatura que chama a atenção no laboratório é o esqueleto quase completo de um espécime conhecido como baurusuchus. Um fóssil quase completo do espécime revela, para os amadores, o que seria um dinossauro parecido com os velociraptors do cinema. Apesar disso, não se trata de um dino, mas de um crocodiliforme, um parente antigo dos jacarés e crocodilos que conviveu com os dinossauros.
O baurusuchus tem esse nome pois é encontrado em uma rocha no interior de São Paulo, como a maioria dos espécimes do laboratório. O espécime em questão ainda está parcialmente preso ao mineral e o trabalho para revelar a parte exposta levou cerca de dois anos.
Há ainda uma outra rocha com uma calda do crocodiliforme e um modelo em três dimensões em preparação para que os pesquisadores possam comparar a ossada fossilizada e o animal como poderia ter sido em vida.