Jacaré ‘passeia’ por rua alagada pelas chuvas em Boa Vista e moradores registram: ‘como se fosse nosso vira-lata’

Fonte: G1

15 2
Foto: Arquivo Pessoal/Jeovan Leal

Ao andar nas ruas, é comum encontrar cachorros vira-latas caramelos andando pelos bairros do Brasil. Na rua Eneida Jucene dos Santos Cavalcante, no loteamento Satelite City, localizado no bairro Murilo Teixeira, zona Oeste de Boa Vista, a situação é diferente. Os moradores têm registrado em vídeos a aparição de um jacaré passeando na via alagada pelo período de chuvas na capital e a situação inusitada rende piadas: “ele é como se fosse nosso mascote, animal de estimação”.

A rua não é asfaltada. O período de chuvas compreende os meses de maio a setembro e o alagamento torna a via propícia para o jacaré, que já entrou nos quintais das casa, pegou sol em varandas e impressionou as crianças do bairro. Em um dos vídeos, uma criança avisa “mamãe, o jacaré!”.

Um dos moradores que se deparou com o ilustre morador da rua, o tecnólogo em saneamento ambiental Jeovan Leal, de 29 anos, disse que a falta de infraestrutura da rua é o que atrai o jacaré para o bairro.

“Como estamos em período de inverno os moradores tem sofrido bastante devido à falta de infraestrutura do bairro, no qual no ano que o loteamento foi criado a prefeitura aprovou a fundação sem as devidas exigências, e hoje fica jogando a culpa para outros lugares”, disse o morador.

A Prefeitura de Boa Vista informou que “já foi feito o levantamento topográfico para verificar as necessidades do bairro, e o projeto de infraestrutura, fruto de convênio com o Ministério do Desenvolvimento Regional, foi finalizado e já aprovado pela Caixa Econômica Federal”.

Informou ainda que, no momento, se encontra na fase para iniciar os trâmites licitatórios e que a gestão municipal “está fazendo o possível para agilizar os trabalhos de infraestrutura na região”.

O tecnólogo estava chegando do trabalho quando viu o animal parado em seu portão. Ele conta que a primeira reação foi tirar foto e filmar e relata que, para outros bairros, a situação pode ser surpreendente, mas para a realidade do moradores da rua, é comum.

“Nesse dia, após um longo dia de trabalho, eu estava chegando em casa e ao ir se aproximando desse lamaçal vi algo se movimentando. De repente, um jacaré. Fiquei surpreso por ser uma rua onde os moradores costumam transitar e decidi gravar”.

“O animal não demonstrou nenhuma aparência de assustado, parecia que já estava acostumado com as movimentações próximas. Ele é como se fosse nosso vira-lata, nosso mascote, animal de estimação”, brinca Jeovan Leal.

 

Ele conta que, por ser um animal silvestre, manteve a distância na hora de filmar. A situação na rua é tão comum, ele sequer ligou para a emergência para realizar o resgate do animal.

“Não é a primeira vez que aparece no bairro, inverno do ano passado tbm houve registros de jacarés e no decorrer do ano é muito comum a aparição de cobras e escorpiões. Na verdade não chamei [o Corpo de Bombeiros], queria era chegar em casa, não ia ficar esperando. É muito comum isso”.

A manhã dessa sexta-feira (4) parecia um dia comum na casa da servidora pública Ana Pereira, de 47 anos, até que seu cachorro começou a latir para algum animal. Era mais uma aparição do “Jacaré do Satelite City”, como tem sido chamado. Ao se deparar com o animal, a primeira reação foi filmar e mandar no grupo dos vizinhos.

“Estávamos dentro de casa e a nossa cachorra começou a latir sem parar, fomos olhar para ver o que ela estava tentando espantar e era o jacaré atrás do lance de cerca em nosso quintal. Essa foi a primeira vez que apareceu aqui, foi muito surpreendente”, conta a servidora.

Ana relata que as chuvas alagam não só a rua, como também o seu quintal e alagamentos ocorrem durante todo o período de chuva em sua casa. Seu maior medo é por conta de seus cachorros, que podem ser atacados pelos animais silvestres.

“Sempre que chove aqui alaga bastante o nosso quintal, creio que por conta disso, ele resolveu aparecer. A sensação é mais de preocupação, por conta dos meus pets que ficam soltos no quintal”.

 

A servidora pública reitera que não é só essa rua do bairro que “está em condições precárias” mas, todo o bairro. Descreve a situação como caótica.

“As ruas do bairro são terríveis, cheias de buracos lotados de água que não secam e só piora ainda mais sempre que chove, alaga e fica difícil transitar dentro do bairro. Motoristas de aplicativos não entram aqui, é sempre um caos”, diz Ana Pereira.

Ruth Soares Nascimento é vendedora e tem 28 anos. Ela também é moradora da rua Eneide Jucene e viu o famoso jacaré. De acordo com ela, o animal não é o único que aparece no bairro.

“Aqui temos vários animais de estimação, estávamos até vendo qual seria o mascote do bairro,aqui temos jacaré no quintal ou tentando entrar, várias cobras fugindo da lama querendo abrigo, escorpião, gavião, corujas, todos aparecem nas nossas portas”, brinca a moradora.

Ela descreve a situação da rua como “horrível” e relata que a falta de asfalto na via é algo que vem atrapalhando a todos do loteamento.

“Isso vem nos atrapalhando bastante. Não temos linha de ônibus e nem lotação, a maioria das pessoas aqui depende de aplicativos e quando eles chegam não querem entrar por conta da situação da rua. Por isso, acabam cancelando a corrida. Só entra aqui quem mora aqui porque, é o jeito”, relata a vendedora.

Para ela, a sensação ao se deparar com animais silvestres — como o jacaré — é de medo e preocupação com a saúde não só dos moradores do bairro como dos próprios bichos, que estão fora de seu habitat natural e podem sofrer com isso.

“A primeira sensação que sentimos é medo, quando nos deparamos com esses animais mais perigosos, por conta dos nossos filhos, temos crianças em casa, isso é muito perigoso”.

Jacaré-tinga

O pesquisador ecólogo da Universidade Federal de Roraima, Whaldener Endo, analisou as imagens do e informou que o “Jacaré do Satélite City” é da espécie “Jacaré-tinga”, que pode alcançar até dois metros de cumprimento.

“Apesar de ser uma espécie que se alimenta quase exclusivamente de peixes, como qualquer jacaré é aconselhável não se aproximar muito deles, já que possuem grande força em suas mandíbulas, podendo causar ferimentos graves com seus dentes”, explica o ecólogo.

Whaldener destaca que essa espécie tem grande importância para o equilíbrio ecológico dos rios em Roraima, e sua preservação deve ser incentivada.

“Apesar do potencial perigo o jacaré é importante para o equilíbrio dos ambientes aquáticos onde vivem por meio do controle e manutenção populacional de várias espécies de peixes e outros organismos”.

Jornalista apaixonada por astrologia, bem-estar animal e gastronomia. Atualmente, atuo como redatora no portal CenárioMT, onde me dedico a informar sobre os principais acontecimentos de Mato Grosso. Tenho experiência em rádio e sou entusiasta por tudo que envolve comunicação e cultura.